Os amantes da zona boêmia do Rio de Janeiro adoravam passar pelo bairro da Lapa, no início dos anos 60, para ouvir os sambas escritos pela dupla formada por Ataulfo Alves (1909-1969) e Mário Lago (1911-2002). “Ai que Saudades da Amélia” e “Atire a Primeira Pedra” são alguns desses sambas que entre um copo de cerveja e uma batucada numa caixa de fósforo eles iam destilando ginga, alimentando a dor de cotovelo.
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Vem também do Rio de Janeiro a personagem da história que quero comentar hoje: Fernando Affonso Collor de Mello (2/8/49). Nessa segunda-feira (18), 30 anos, três meses e dois dias depois de assinar a medida que confiscou a caderneta de poupança dos brasileiros, o ex-presidente pediu perdão.
Voltando a 16 de março de 1990, o presidente Collor convocou cadeia de rádio e televisão para anunciar que o Brasil estava falido: “Não temos mais alternativas. O Brasil não aceita mais derrotas. Agora, é vencer ou vencer. Que Deus nos ajude”. Deu no que deu. Cerca de 100 bilhões de dólares viraram fumaça. Era dinheiro não apenas da poupança, mas também o que estava nas contas correntes e nas aplicações financeiras como o "overnight”.
Um fazendeiro entrou com trator numa agência bancária em Campo Grande (MS), quando soube que não tinha dinheiro em conta; em Blumenau (SC), um empresário morreu de enfarto quando teve de decretar a falência por falta de capital para tocar os negócios. O drama se espalhava pelo Brasil a fora.
Somente 18 meses depois é que o dinheiro começou aos poucos a ser devolvido, mas a inflação já tinha corroído o capital dos brasileiros. Nunca mais a caderneta de poupança restabeleceu a total confiança dos poupadores.
Pois ontem, assim, sem mais nem menos Collor pediu perdão. O senador pelo Estado de Alagoas escreveu no Twitter, uma rede social na internet: “…era uma decisão dificílima. Mas resolvi assumir o risco. Sabia que arriscava ali perder a minha popularidade e até mesmo a Presidência, mas eliminar a hiperinflação era o objetivo central do meu governo e também do país”.
E arrematou: “Acreditei que aquelas medidas radicais eram o caminho certo. Infelizmente errei. Gostaria de pedir perdão a todas aquelas pessoas que foram prejudicadas pelo bloqueio dos ativos”.
Pessoal, entendo que é chegado o momento de falar aqui, com ainda mais clareza, de um assunto delicado e importante: o bloqueio dos ativos no começo do meu governo. Quando assumi o governo, o país enfrentava imensa desorganização econômica, por causa da hiperinflação: 80% ao mês!
— Fernando Collor (@Collor) May 18, 2020
O maioria dos comentário era de internautas prejudicados pelas medidas econômicas sugeridas pela então ministra Zélia Cardoso de Melo (20/9/53). Outros narraram as histórias da família. Mas ninguém apareceu para perdoar o ex-presidente.
Teve um internauta engraçadinho que chegou a escrever perguntado quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (18/6/31) iria pedir perdão por ter trazido de volta a reeleição. Ou quando será que o ex-presidente Lula (27/10/45) irá se dirigir aos brasileiros pedindo para ser perdoado pelo mensalão do PT (Partido dos Trabalhadores).
Você pode até não acreditar no pedido de perdão de Fernando Collor, mas numa mesa de bar, do Rio de Janeiro, Ataulfo Alves e Mário Lago escreveram certa vez que ”perdão foi feito pra gente pedir”.
Pense nisso!
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