É sempre recomendável dar ao acusado a faculdade da dúvida. Ou como costumam dizer os operadores do Direito, quando estão gastando o latim: “In dubio pro reo” ou simplesmente a Justiça deve ficar a favor do réu toda vez que houver a dúvida.
Vou até recorrer à Convenção Americana sobre Direitos Humanos (também conhecida como Pacto de San José) quando afirma que “toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove legalmente sua culpa."
Pronto. Dois parágrafos para dizer que a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) tem todo o direito de se considerar inocente das acusações que estão sendo feitas por uma associação de agentes da Polícia Federal e também por parlamentares de oposição, que viram nas declarações da deputada bolsonarista, um quê de quem sabe daquilo que está acontecendo na Polícia Federal.
Não pode ser tratado como simples coincidência o fato de uma deputada, amiga do presidente da República, sair da casa dele e dar uma entrevista insinuando que a Polícia Federal foi leniente com a corrupção, “em épocas passadas”, mas que agora prepara uma operação contra alguns governadores.
Menos de 24 horas depois a Polícia Federal toca a campainha do Palácio das Laranjeiras e acorda o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel e a mulher, a advogada Helena Witzel, na operação Placebo, que apura desvio de verbas que deveriam usadas no combate ao coronavírus.
É bem provável que a deputada, que tem fama de linguaruda, ter dado com a língua nos dentes e falado mais do que sabia. Mas há fatos coincidentes entre o que disse Carla Zambelli e a operação da Polícia Federal que ontem amanheceu no calcanhar do governador do Rio.
Fosse um pouco mais prudente, e não é; fosse a deputada um pouco mais conscienciosa, e dificilmente o será; e, Carla Zambelli teria sido econômica com as palavras.
Agora vai ter de ser explicar na Justiça. E que fique claro: não é porque a deputada é falastrona que não se encontrem motivos para aplaudir a ação das Polícia Federal.
Afinal, até Jair Bolsonaro (sem partido), que vinha reclamando da PF, quando estava chegando perto de um dos filhos, ontem o presidente da República aplaudiu a corporação.
Pense nisso!