CESTA BÁSICA

O Brasil ainda não aprendeu a conviver com a lei natural do mercado

" Nem aqui nem na Venezuela, nem em canto nenhum houve bons resultados quando ocorreu intervenção da mão de ferro do Estado na relação de negócio entre quem vende e quem compra". Leia a opinião completa de Romoaldo de Souza

Romoaldo de Souza
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Romoaldo de Souza
Publicado em 10/09/2020 às 14:02 | Atualizado em 10/09/2020 às 14:02
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ABISMO Em novembro, salário ideal para uma família seria de R$ 5.969,17 - FOTO: DIVULGAÇÃO

O arrocho que o Ministério da Justiça deu na Associação Brasileira de Supermercados (Abras), olhando assim do ponto de vista de quem viu os preços de produtos da cesta básica dispararem, até que parece ser uma resposta imediata em defesa do consumidor. Acontece que numa economia livre existem outros fatores que pesam tanto quando o desejo do governo de agir para fazer justiça com as próprias mãos e pousar de bom moço, perante a sociedade.

Voltando no tempo — Corria o mês de março de 1986, quando o governo do presidente José Sarney (MDB) recém tinha apostado no lançamento do Plano Cruzado e dizia que “cada brasileiro e brasileira deverá ser um fiscal dos preços, um fiscal do presidente para a execução fiel desse programa em todos os cantos desse país” nas proféticas palavras de um certo sábio escritor maranhense.

Camisetas, cartazes, panfletos, broches e batons inundaram o país com os dizeres "Eu sou fiscal do Sarney”. A partir daí, como em um passe de mágica, muitos produtos da cesta básica sumiram das prateleiras dos supermercados. Ágio era cobrado e a inflação disparou.

Agora, corta a cena para 9 de setembro — 34 anos depois, o presidente da República é um ex-oficial do Exército, ex-deputado que em vez da lei-delegada de Sarney, mandou a Secretaria Nacional do Consumidor, ligada ao Ministério da Justiça, intimar representantes do comércio e dos produtores a darem explicações para os preços elevados de produtos da cesta básica.

Ou seja, quase meio século depois da lei do presidente que mandava prender o gado no roçado e trazê-lo à força para ser abatido no matadouro mais próximo, o Brasil ainda não aprendeu a conviver com a lei natural do mercado: quanto mais consumo, mais possibilidades há de haver aumento nos preços dos produtos.

Mas aí o ouvinte vai perceber a roubada que o país pode está se metendo. Nem aqui nem na Venezuela, nem em canto nenhum houve bons resultados quando ocorreu intervenção da mão de ferro do Estado na relação de negócio entre quem vende e quem compra.

A não ser que o consumidor troque de produtos como recomendou João Sanzovo, presidente da Abras: “nós vamos estar promovendo o consumo de massa, trocando o arroz pelo substituto natural que é o macarrão”.

Entre o desejo de intervenção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para fazer cair o preço de produtos da cesta básica e a orientação de Sanzovo, eu fico com o poeta português Manuel Maria Barbosa du Bocage(1765-1805): “pior a emenda que o soneto” significa popularmente dizer que alguém está tentando arrumar algo e que certamente vai deixar pior do que estava.

Pense nisso!

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