Como no ditado popular, governo Lula segue comendo na mão do "Centrão"

Leia a coluna Política em Brasília
Romoaldo de Souza
Publicado em 06/06/2023 às 22:55
Ex-Deputado cassado, Deltan Dallagnol, durante pronunciamento no salão verde da Câmara Foto: Lula Marques/ Agência Brasil


O copo está com água pela metade. Dependendo do posto de vista que se queira enxergar ele está meio cheio ou meio vazio. No primeiro embate na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) o governo Lula enxerga as investigações do 8 de Janeiro como um copo meio cheio. Mas os partidos de centro opinam diferente.

Na primeira medição de forças o governo levou a melhor, Ontem foi colocado em votação o plano de trabalho da relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), por uma maioria confortável, 18 votos a 12. Foram aprovadas as convocações do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, do ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) general Augusto Heleno e do general Braga Netto (PL), ex-candidato à vice presidente, na chapa com Jair Bolsonaro (PL).

Mas, mais uma vez, a perspectiva do copo com água é que sozinho, sem o apoio do centro, o governo não tem votos suficientes para aprovar uma convocação de adversário ou barrar a chamada de um aliado. Vai correr sempre sobre o fio da navalha. Também serão chamados o ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro tenente-coronel Mauro Cid e o general Gustavo Dutra de Menezes, ex-chefe do Comando Militar do Planalto. Do time do atual governo, o convocação é para o general Gonçalves Dias, então chefe do GSI e que “não tomou as medidas necessárias para proteger o patrimônio público no Palácio do Planalto, conforme justificou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

“Nós não vamos nos ater somente aos atos do 8 de janeiro. Queremos ir a fundo no financiamento do acampamento na porta do QG do Exército, quem financiou aquilo tudo. Os atos de vandalismo na noite de 12 dezembro em Brasília, até chegar a quem botou grana para que tudo isso ocorresse. Que foi omisso, quem deveria e não tomou medidas para impedir que aqueles manifestantes tocassem o terror em Brasília”, disse Eliziane Gama.

A falta de articulação política do governo também foi sentida no salão verde, principal espaço onde os políticos se encontram, concedem entrevistas. O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), voltou a “cutucar” a [falta] de articulação política do governo quando viu o afilhado paraibano, Aguinaldo Ribeiro (PP), com o texto da reforma tributária sendo apresentado à imprensa sem a presença de líderes governistas. “Mais uma vez esse governo perde a oportunidade de sair na frente em defesa do relatório de Aguinaldo [Ribeiro]. Seria tão bom que houvesse uma articulação que fosse capaz de colocar [o relatório] debaixo do braço e sair angariando apoio!”, confidenciou.

DALLAGNOL DEIXA A CÂMARA PELA PORTA DOS FUNDOS, INELEGÍVEL POR 8 ANOS
“Deixo o Congresso com a paz de quem honrou os seu eleitores. Deixo o Congresso com a paz de quem não foi cassado por cometer algum crime. Lutaremos até o fim”, foram as derradeiras palavras no último palanque que foi erguido para o ex-deputado e ex-procurador da Operação Lava Jato, após saber da decisão unânime tomada pela Mesa Diretora da Câmara, confirmando sentença do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que lhe tirou o mandato por “tentativa de burlar a Lei da Ficha Limpa, nas eleições de 2022”.

“Hoje, a Mesa da Câmara decidiu se curvar diante de uma decisão injusta do TSE. Mais uma vez, o Poder Legislativo decidiu se curvar à criação da lei pelo Poder Judiciário. [Hoje] a casa do povo se dobrou contra a vontade do povo. Não fui cassado pela minha saída do Ministério Público. Fui cassado pelo que eu fiz dentro do Ministério Público. Por ter ousado colocar corruptos pela primeira vez debaixo da lei. Meu crime foi ter defendido meus valores, a verdade é ter buscado colocar políticos corruptos na cadeia pela primeira vez na história do Brasil”, afirmou.

A decisão do TSE levou em conta uma provocação feita pela Federação Brasil da Esperança (PT, PV e PCdoB) e do PMN, que alegaram na Justiça Eleitoral que Deltan Dallagnol não poderia ter deixado a carreira no Ministério Público e ingressar na política “uma vez que respondia a reclamações disciplinares, sindicâncias e pedidos de providências” junto ao Conselho Nacional do Ministério Público.

Tão logo o TSE tomou a decisão - em 16 de maio - de cassar o mandado de Dallagnol, a Justiça Eleitoral do Paraná fez a recontagem de votos e informou ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, que o primeiro suplente é Itamar Paim (PL). A posse deve ocorrer ainda nesta quarta-feira.

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