Os bastidores da política nacional, com Romoaldo de Souza

Política em Brasília

Por Romoaldo de Souza
Romoaldo de Souza

Na CPMI, "Hacker de Araraquara" diz que Bolsonaro lhe ofereceu indulto para invadir urna eletrônica: "se um juiz te prender, eu mando prender o juiz"

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Romoaldo de Souza

Publicado em 17/08/2023 às 19:54
Walter Delgatti, em depoimento à CPMI
Walter Delgatti, em depoimento à CPMI - Lula Marques/Agência Brasil

Macondo parou quando “um cigano corpulento se apresentou com o nome de Melquíades”. Eles fez demonstrações para causar impacto aos habitantes do vilarejo, com aquilo que “chamava de a oitava maravilha dos sábios alquimistas da Macedônia”. "As coisas têm vida própria", apregoava o cigano com áspero sotaque, "tudo é questão de despertar a sua alma”, enquanto ia “de casa em casa arrastando dois lingotes metálicos.

As cenas acima estão em “Cem Anos de Solidão” de Gabriel Garcia Márquez (1927-2014), mas lembra as estrepolias que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou criar com a colaboração do “alquimista” Walter Delgatti Neto, o “hacker do bem” quando invadiu mais de 170 dispositivos eletrônicos e divulgou conversas pouco republicanas da Força Tarefa da Lava Jato, em Curitiba no Paraná.

A “oitava maravilha” bolsonarista consistia fazer uma demonstração pública de uma urna eletrônica funcionando com um código-fonte falso para “desviar votos”.

A ideia seria a seguinte, “eles pegarem uma urna, emprestada da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil], eu acredito, para que eu colocasse um aplicativo meu lá e mostrasse à população que é possível apertar um voto e sair outro". A exibição seria no 7 de Setembro do ano passado “quem votasse no 22 [número de Bolsonaro] estaria dando voto ao 13 [de Lula] ou então, realizando 20 votos [em favor] do 22 e 20 votos para o 13 o 13 teria [computados] 30 votos”. Imagine a comoção social que esse espetáculo causaria.

Macondo parou quando “um cigano corpulento se apresentou com o nome de Melquíades”. Eles fez demonstrações para causar impacto aos habitantes do vilarejo, com aquilo que “chamava de a oitava maravilha dos sábios alquimistas da Macedônia”. "As coisas têm vida própria", apregoava o cigano com áspero sotaque, "tudo é questão de despertar a sua alma”, enquanto ia “de casa em casa arrastando dois lingotes metálicos.

As cenas acima estão em “Cem Anos de Solidão” de Gabriel Garcia Márquez (1927-2014), mas lembra as estrepolias que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou criar com a colaboração do “alquimista” Walter Delgatti Neto, o “hacker do bem” quando invadiu mais de 170 dispositivo e divulgou conversas pouco republicanas da Força Tarefa da Lava Jato, em Curitiba no Paraná.

A “oitava maravilha” bolsonarista consistia fazer uma demonstração pública de uma urna eletrônica funcionando com um código-fonte falso para “desviar votos”.

A ideia seria a seguinte, “eles pegarem uma urna, emprestada da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil], eu acredito, para que eu colocasse um aplicativo meu lá e mostrasse à população que é possível apertar um voto e sair outro". A exibição seria no 7 de Setembro do ano passado “quem votasse no 22 [número de Bolsonaro] estaria dando voto ao 13 [de Lula] ou então, realizando 20 votos [em favor] do 22 e 20 votos para o 13 o 13 teria [computados] 30 votos”. Imagine a comoção social que esse espetáculo causaria.


HACKER PARTIU PARA CIMA DE MORO
Conhecido por trafegar no submundo da delinquência de invasão de dados, Delgatti Neto tinha de cor e salteado as conversas do senador Sérgio Moro (União Brasil-PR) com a força tarefa da Lava Jato, em Curitiba, quando era o juiz e prendia meio mundo, incluindo o atual presidente Lula (PT). “[sei] inclusive de suas tratativa com [Deltan] Dallagnol” [ex-procurador e deputado cassado], ameaçou o hacker.

"Li as conversas de Vossa Excelência, li a parte privada, e posso dizer que o senhor é um criminoso contumaz, cometeu diversas irregularidades e crimes", acusou Delgatti.

"Bandido aqui, desculpe senhor Walter, que foi preso é o senhor. O senhor foi condenado. O senhor é inocente como o presidente Lula, então?", indagou Sérgio Moro.

“O senhor não foi preso porque recorreu à prerrogativa do foro de função”, retrucou Delgatti.

[Soa a campainha] “Aqui não permitiremos troca de acusação nem de testemunha com senador e deputado nem de parlamentares com o depoente”, advertiu o presidente da sessão, senador Cid Gomes (PDT-CE).

“HISTÓRIAS DE NALDO BENNY”
O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) acusou o hacker de ser uma espécie de MC Naldo. Ninguém entendeu. Todo mundo, inclusive jornalistas mais “rodados”, correu para dar um Google. O cantor Naldo Benny é conhecido no mundo musical por seu hit “Amor de Chocolate”. Nas redes sociais Naldo já disse que tinha amizade com a modelo Gisele Bündchen; diálogos com LeBron Jame, astro do basquete norte-americano; e até com Cristiano Ronaldo, o craque português, para trazê-lo para o Flamengo do Rio de Janeiro.

“O senhor e suas histórias contra o presidente Jair Bolsonaro se parecem com MC Naldo. O que é história e o que é fantasia nisso que o senhor diz?”. Calado estava, calado ficou: “permanecerei em silêncio”, disse Delgatti Neto

POR PRECAUÇÃO
Após a pausa para o almoço, a Polícia Legislativa trazia de volta o hacker, Walter Delgatti Neto para a sala da CPMI quando percebeu-se que ele tinha se encostado na parede recém pintada. “Melhor limpar seu paletó. Vai ficar difícil justificar essas manchas brancas nas suas costas”, disse um agente de segurança. O hacker foi salvo com um pano úmido.

A ÚLTIMA MENSAGEM
O advogado Frederick Wasseff jantava tranquilamente em uma churrascaria de São Paulo, na noite da quarta-feira (16), quando a Polícia Federal chegou com um mandado de apreensão do seu smartphone, por ordens do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O advogado da família Bolsonaro olhou para o delegado como quem não está acreditando. “Posso mandar só uma mensagem?” Era tarde a PF já tinha desligado o aparelho. Quem ligasse para aquele número ouvia uma gravação: “… telefone desligado ou fora a área de cobertura”.

Wasseff é investigado pela fajuta operação para recomprar um Rolex doado ao então presidente Jair Bolsonaro, vendido em uma joalheria na Flórida, no Estados Unidos, e que teve de ser devolvido ao acervo público. O presidente não poderia ter se apropriado do presente.

 

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