NO FRIGIR DOS VOTOS
Após um dia tenso de negociações, vetos, ameaças de “melar” o processo de escolha das 30 comissões permanentes, a Câmara dos Deputados elegeu nesta quarta-feira (6) os presidentes de quase todas elas. Apenas 11 tiveram de ser adiadas.
O primeiro e importante embate se deu na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Pela ordem de escolha, por ser o maior partido da Casa Legislativa, caberia ao PL indicar quem deveria ser presidente.
O líder do governo, José Guimarães (PT-CE), recomendou ao líder do PL, Altineu Côrtes (RJ), que a Presidência da CCJ fosse alguém “mais palatável”, de “mais diálogo”. Não teve jeito.
A bolsonarista Caroline de Toni (PL-SC) foi eleita com 49 votos a favor contra nove em branco e torna-se presidente pelos próximos 12 meses da poderosa CCJ.
Ela agradeceu o apoio do presidente do partido, Valdemar Costa Neto, do ex-presidente Jair Bolsonaro e prometeu “equilíbrio” na mais importante das comissões por onde passam todos os projetos antes de irem ao plenário.
“Os senhores e as senhoras podem ter a certeza de que eu encararei com muita responsabilidade essa posição institucional, com uma gestão com transparência, equilíbrio, ouvindo todas as bancadas”. Foi aplaudida pelo líder do governo, José Guimarães. “Deputada, a senhora terá todo o nosso respeito”. Deram-se as mãos depois da disputa.
NIKOLAS NA EDUCAÇÃO
Outra derrota fragorosa do governo se deu na Comissão de Educação. Até o ministro Camila Santana entrou nas negociações. O Planalto aceitaria outro nome do PL, mas o partido fez ouvidos de mercador. Ignorou a pressão palaciana. O receio do governo era que temas ideológicos relacionados à Educação acabem por tornar a relação do Executivo com o Legislativo ainda mais espinhosa.
De licença paternidade, Nikolas Ferreira não compareceu à votação, mas encaminhou um vídeo dizendo que vai reunir, “constantemente o colegiado, criar subcomissões e fiscalizar a educação do atual governo” Ele recebeu 22 votos. 15 deputados votaram em branco.
ABORTO, NÃO!
Prometendo colocar em pauta “qualquer proposta” relacionada às chamadas pautas morais, e de família, o deputado Pastor Eurico (PL-PE), escolhido para presidir a Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família (ufa!) disse que “o importante é destacar que aqui, de jeito nenhum, passará nada relacionado ao aborto. Aqui, esse tema não terá vez”, antecipou o parlamentar, em entrevista à coluna.
UNANIMIDADE NO TRABALHO
O deputado Lucas Ramos (PSB-PE) foi eleito por unanimidade presidente da comissão que terá como prioridade o debate do projeto de lei do governo que trata da regulação do trabalho de motorista de aplicativo e pregando o entendimento. “A gente vai garantir aqui esse respeito ao diferente, ao contraditório. Esse é um compromisso que eu assumo com os pares que me confiaram o voto, a unanimidade", afirmou.
BANCADA DA BALA NA SEGURANÇA
Embora não fosse surpresa, mas na Comissão de Segurança Pública, o governo também queria - mas não consegui - colocar gosto ruim. O deputado Alberto Fraga (PL-DF) foi escolhido presidente.
Fraga, coronel reformada da PM do Distrito Federal, votou a favor de projetos do governo de Jair Bolsonaro flexibilizando o uso e a posse de armas de fogo, foi a favor de aumentar a quantidade munição para integrantes de CACs - caçadores, atiradores e colecionadores - e prega leis mais rígidas para enfrentar a violência.
PASSANDO PANO…
O presidente Lula da Silva (PT) não se cansa de causar inquietação nos políticos democráticos. Dessa vez, o petista disse estar “confiante” e “feliz” com as eleições na Venezuela, confirmadas para 28 de julho - não por coincidência, data que marca o nascimento do ditador Hugo Chaves (1954-2013).
O motivo das “comemorações” de Lula da Silva é que, segundo ele, ficou acertado monitoramento exterior do processo eleitoral. "O que eles me disseram na reunião que eu tive na Celac [Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos], é que vão convidar olheiros do mundo inteiro", disse.
…À ENÉSIMA POTÊNCIA
Ao ser questionado sobre a lisura do processo eleitoral venezuelano, Lula afirmou que “se o candidato da oposição tiver o mesmo comportamento do nosso aqui, sabe, nada vale", disse.
Duas candidatas de oposição estão forçadamente fora da disputa.
Em janeiro, o Supremo Tribunal de Justiça inabilitou a principal política de oposição, Maria Corina Machado. No mês seguinte, a ativista Rocío San Miguel foi presa sob acusação de ser terrorista e traidora da pátria pelo governo Maduro. O presidente Lula está doidinho para ser cúmplice de uma farsa eleitoral.
RESSOCIALIZAR, SÓ ATRÁS DAS GRADES
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse que “tão logo seja resolvida a instalação das comissões”, vai pautar o projeto que acaba com a saidinha de presos, em datas especiais.
A coluna tem ouvido os parlamentares pernambucanos sobre o projeto e até aqui a maioria - quase a unanimidade - defende o fim da saidinha.
“Não há justificativa que me convença a votar a favor da saidinha, como ficou convencionado, nessas datas especiais. O que nós queremos tanto para o Brasil, como para Pernambuco, em particular, é ter segurança para o cidadão. O que temos notado - e por isso o nosso voto contrário [à saidinha] - é o aumento da violência e apreensão das pessoas”, antecipou o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE).
BARRADOS NO VERDE
A pauta tem apoio dos líderes da Câmara dos Deputados, os números estão conscientes, mas a direção da Casa não autorizou representantes de prefeitos de todo o país de fazerem um ato de leitura, no Salão Verde, de uma nota “do movimento municipalista sobre a desoneração da folha [de pagamento]”.
O presidente da Confederação Nacional de Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, cita a “grave crise e as dívidas previdenciárias” que os municípios enfrentam.
A coluna JC Negócios, aqui ao lado, apontou que a medida provisória representa uma despesa de R$ 504.524.897,00 de 176 dos 184 municípios de Pernambuco. Oito municípios não serão beneficiados pela desoneração: Recife, Petrolina, Paulista, Olinda, Jaboatão, Caruaru, Camaragibe e Cabo.
PENSE NISSO!
Que o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) é um deslumbrado, um tanto quanto histriônico, isso ninguém tem dúvida, agora a liderança governista, capitaneada pelo deputado José Guimarães (PT-CE) “melar” a eleição das presidências das comissões da Câmara, aí já é demais.
No Parlamento - 513 deputados e 81 senadores - todos são iguais, e, ainda que haja alguma divergência - e elas são reais e plausíveis - não cabe ao Palácio do Planalto - ao Poder Executivo - mandar barrar “acordos” só porque diverge dessa ou daquela indicação.
O governo perdeu mais uma e Nikolas foi eleito presidente da Comissão de Educação.
Pense nisso!