INVESTIGAÇÃO

Armas de PMs envolvidos na ação desastrosa no Recife ainda não passaram por perícia

Ato violento, que deixou dois trabalhadores cegos de um olho, completa cinco dias com muitas lacunas

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Raphael Guerra

Publicado em 03/06/2021 às 11:12 | Atualizado em 03/06/2021 às 13:17
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Atualizada às 13h15

Cinco dias após a ação desastrosa da Polícia Militar de Pernambuco contra manifestantes na área central do Recife, lacunas na investigação deixam dúvidas se será possível, de fato, identificar e punir todos aqueles que se excederam. As armas de elastômero (de bala de borracha) usadas pelos PMs para atirarem nas pessoas que participavam do ato, e que também atingiram dois trabalhadores nos olhos, ainda não passaram por perícia. Sequer chegaram às mãos do Instituto de Criminalística, que é o órgão oficial e responsável pela análise.

Oficialmente, sete policiais militares (ao menos quatro deles da Radiopatrulha) já foram afastados das atividades operativas. Mas os PMs que atiraram nos olhos do adesivador Daniel Campelo da Silva, de 51 anos, e do arrumador de contêiner Jonas Correia de França, 29, ainda não. Suspeitos já teriam sido identificados, mas não foi batido o martelo do afastamento.

(Atualização: Em entrevista à TV Jornal, às 12h50, o secretário de Defesa Social, Antônio de Pádua, confirmou - pela primeira vez - que o PM que atirou em Jonas foi identificado na noite dessa quarta-feira e afastado). 

Na primeira entrevista concedida, na quarta-feira (02), o governador Paulo Câmara declarou que as principais dúvidas sobre o caso ainda não foram esclarecidas. À TV Globo, ele disse não saber responder quem deu a ordem para que os policiais do Batalhão de Choque atirassem contra os manifestantes. Também afirmou que os PMs que dispararam balas de borracha nos olhos de dois trabalhadores, que não faziam parte da manifestação, ainda não foram identificados e afastados das atividades nas ruas.

"É importante antecipar que, antes de qualquer conclusão, não concordamos com a forma como foi feita essa ação policial. Essa polícia que joga bala no rosto das pessoas, que impede socorro, essa polícia não pode atuar. Por isso, temos que, com toda precaução, buscar responder as perguntas e saber como se deu esse comando, as informações que se tinha da passeata, pois até o momento tudo aponta para uma passeata pacífica, estava o final e não há até agora nenhuma justificativa para atuação daquela forma", afirmou.

Além do afastamento de policiais, o governo estadual exonerou o coronel Vanildo Maranhão, comandante geral da Polícia Militar de Pernambuco desde fevereiro de 2017. Ele foi substituído por José Roberto Santana, que ocupava o cargo de diretor de Planejamento Operacional da PM.

Paulo Câmara disse ter conversado com o novo comandante sobre a necessidade de respostas e pediu que sejam dadas as devidas orientações à tropa para que fatos como o de sábado não se repitam no Estado. "Precisamos de polícia cidadã, que atue duro contra a criminalidade, mas que não permita atos como o que vimos no sábado", disse.

MONITORAMENTO

Um dos pontos questionados ao governador foi sobre o monitoramento no momento da ação policial. A Secretaria de Defesa Social (SDS) conta com câmeras espalhadas pela cidade e, no momento do protesto, o secretário da pasta, Antônio de Pádua, estava reunido com a cúpula da PM e da SDS, verificando as imagens. Segundo deputados estaduais que se reuniram com Pádua, na terça-feira, ele disse que estava fazendo o monitoramento das praias e possíveis aglomerações, visto que o sábado foi o primeiro dia do fim de semana com medidas rígidas de proteção à covid-19. O JC solicitou entrevista ao secretário, mas a assessoria da SDS não deu resposta.

Na terça-feira, Pádua também esteve com o procurador-geral de Justiça, Paulo Augusto Freitas, e membros da cúpula do Ministério Público Estadual para falar sobre o episódio. "De nossa parte, foi demonstrada a necessidade de ser feita uma investigação completa e isenta sobre o grave episódio, com a devida responsabilização dos que agiram à revelia da lei. Estaremos acompanhando de perto todo desencadeamento das investigações", declarou Freitas.

À TV Globo, o governador afirmou que o secretário verificou a confusão da Ponte Duarte Coelho e que pediu que fosse encerrada a operação, o que não ocorreu ou ocorreu com atraso, suficiente para que pessoas fossem feridas. "Acontecia monitoramento, como sempre ocorre em eventos como esse, com integrantes da Polícia Militar, da Polícia Civil, da cúpula da Secretaria de Defesa Social, que estavam atuando nessa questão e os fatos que originaram essa ação, não saíram desse centro pelo que informou o secretário. Isso faz parte da investigação e tão logo ele tomou conhecimento da gravidade das ações ele ordenou imediata interrupção."

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