Juros a 20% e cartões dos 'clientes' recolhidos: esquema de agiotagem no Grande Recife envolvia policiais
Investigações revelaram que inadimplentes eram ameaçados e obrigados a repassar imóveis. Na casa de um acusado, a polícia encontrou mais de 500 cheques de vítimas
O forte esquema de agiotagem no Grande Recife, que resultou na demissão de um soldado da Polícia Militar de Pernambuco na última semana, fez centenas de vítimas, como apontam os autos do processo conduzido pela Segunda Vara Criminal da Comarca de Paulista.
Ao menos oito pessoas foram acusadas de envolvimento no esquema - incluindo outros policiais e ex-militares. Dois sargentos seguem sob investigação na Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS).
A coluna Ronda JC teve acesso a detalhes inéditos do caso nesta terça-feira (12). Segundo as investigações, o grupo emprestava dinheiro a juros extorsivos condicionando a liberação a assinatura de cheques e notas promissórias, bem como ameaçava os inadimplentes. Os juros eram de, no mínimo, 20%. "Quem não pagava o empréstimo, mas tinha o nome limpo no Serviço de Proteção ao Crédito - SPC era levado pelo grupo ao banco para solicitar empréstimos. Os cartões e senhas das vítimas ficavam com os acusados. Já quem devia a eles e tinha o nome negativado sofria ameaças e repassava imóveis e objetos pessoais ao grupo", descreve o processo que foi resultado das investigações conduzidas pela Polícia Civil de Pernambuco em 2015.
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Na operação deflagrada para prender os acusados, a polícia apreendeu 505 cheques de diversos devedores apenas na residência de um dos integrantes do grupo. Armas, munições e notas promissórias também foram encontradas.
Uma das vítimas contou à Justiça que, em 2013, fez um empréstimo a juros de 30%. Apesar de ter pago R$ 40 mil, não conseguia quitar o valor completo e, coagida, vendeu seu apartamento para pagar a quantia restante. Em 15 de agosto de 2015, a vítima teria sido agredida pelo PM Everaldo Epifânio Lopes (punido pela SDS na última semana). Ele ainda teria tentado sequestrá-la e passado com o veículo por cima dela. O caso foi no bairro do Janga, em Paulista.
Uma proprietária de restaurante no Recife também acusou o grupo. Relatou ter feito um empréstimo de R$ 40 mil em 2013. E que, apesar de ter pago R$ 30 mil, dois integrantes do grupo teriam ido ao estabelecimento dela e exigido que ela pagasse R$ 60 mil em doze parcelas de R$ 5 mil.
PUNIÇÃO
Após seis anos de investigações, conduzidas pela Corregedoria da SDS, o soldado foi punido com a exclusão da corporação. Na esfera criminal, ele já havia sido condenado a cinco anos e seis meses de prisão, com base no artigo 158 do Código Penal Brasileiro (Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica).