VIOLÊNCIA

Em Pernambuco, cresce a guerra entre facções. Nas mortes, características de crueldade

Os criminosos estão cada vez mais articulados. E impondo medo à população

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Raphael Guerra

Publicado em 27/10/2021 às 6:30 | Atualizado em 27/10/2021 às 8:01
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O assassinato do cantor de brega-funk João Vitor da Silva Amorim, de 23 anos, conhecido como MC Pitbull da Firma, cujo corpo, no dia seguinte ao crime (última segunda-feira), ainda foi desenterrado e queimado em um cemitério no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, reacendeu a discussão sobre a violência extrema e excesso de vingança com que as facções criminosas agem, principalmente contra os seus rivais. Em Pernambuco, não há número exato de quantos grupos criminosos bem estruturados estão agindo, mas a percepção da polícia é de que eles continuam crescendo. Os criminosos estão cada vez mais articulados. E impondo medo à população.

No Estado, segundo a Secretaria de Defesa Social (SDS), 68% das vítimas de homicídios, no primeiro semestre deste ano, tinham ligação com atividades criminais. Incluem-se aí a disputa pelo domínio do tráfico de drogas ou a dívida ligada aos entorpecentes, por exemplo. É nesse contexto que estão inseridas as organizações criminosas, que crescem com a arrecadação e lavagem de dinheiro a partir da venda das drogas, como crack, maconha e cocaína.

Delegados ouvidos em reserva pela coluna Ronda JC reforçaram que grande parte dos assassinatos em Pernambuco está ligada à guerra pelo domínio do tráfico. O Cabo de Santo Agostinho, que registrou ao menos quatro mortes entre o último domingo e a segunda-feira, é um exemplo. Mas o Recife, Jaboatão dos Guararapes, Ipojuca e até municípios da Zona da Mata convivem com grupos violentos e que exterminam - muitas vezes com requintes de crueldade - aqueles que identificados como rivais.

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INVESTIGAÇÃO Corpo do MC Pitbull da Firma foi retirado de túmulo e queimado em cemitério na segunda-feira - REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

Uma das linhas de investigação do assassinato do MC Pitbull é de que o crime teria sido praticado por integrantes de uma facção que seria rival à que ele teria ligação. As mortes de dois irmãos de 17 e 20 anos horas depois, na Praia de Gaibu, inclusive, teriam sido uma resposta do grupo próximo ao MC. Em contrapartida, os rivais teriam ido ao cemitério e queimado o corpo da vítima. Em meio a esse confronto, que resulta na multiplicação da violência, a população se sente ainda mais insegura pelas ruas, com o medo de ser a próxima vítima.

O delegado Guilherme Caraciolo, gestor do Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco), afirmou que 69 operações de repressão qualificada foram realizadas neste ano pela Polícia Civil. E que a aquisição de um laboratório de análise financeira contribuiu para isso. "Foi possível ampliar investigações, principalmente de lavagem de dinheiro. Com isso, aumentamos o bloqueio de bens e de ativos financeiros das organizações criminosas, causando enorme impacto financeiro nesses grupos. O reforço da Diretoria de Inteligência também foi fundamental para qualificarmos melhor as operações", afirmou.

Caraciolo pontuou ainda que o investimento do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) para intercâmbio de informações entre os estados do País está ajudando no combate às facções. "Essa interação alavancou as operações de combate às organizações criminosas, pois a partir delas identificamos as lideranças criminosas e mapeamos as facções."

Até sexta-feira, policiais do Estado estão participando do 1º Curso de Enfrentamento às Organizações Criminosas, uma parceria da SDS e com a Secretaria de Operações Integradas do MJSP.

TERROR NO CABO

O município do Cabo de Santo Agostinho vive um período de medo e banho de sangue. Os quatro homicídios registrados em menos de 48 horas, incluindo o do MC Pitbull da Firma, levam medo aos moradores da cidades e desafiam o poder público. Em setembro, 23 pessoas foram assassinadas a tiros - todos homens e a maioria com idades entre 18 e 34 anos. O número de homicídio na cidade foi o maior desde abril de 2008, segundo dados da Secretaria de Defesa Social do Estado.

Na madrugada da última segunda-feira, o adolescente Elizeu José de Andrade, de 16 anos, foi uma das vítimas. Ele foi morto a tiros no Engenho Barbalho, numa área quase deserta no Cabo. Moradores da região contaram à polícia que ouviram disparos e que, ao amanhecer, encontraram o corpo. Para a polícia, a vítima foi arrastada até o local onde foi executada. A motivação e autoria do crime são desconhecidas.

De acordo com o secretário de Defesa Social do Cabo, Pablo de Carvalho, o aumento dos assassinatos tem relação com a disputa intensa pelo tráfico de drogas na cidade. "Tratam-se de novas facções que estão querendo ganhar território no Cabo. Esses grupos estão vindo de outros municípios próximos. A violência no Grande Recife e litoral está muito interligada. E esses homicídios crescem porque há a forte disputa pelo domínio ou retomada do comando do território, principalmente da venda de crack", avalia o gestor. Nos nove primeiros meses do ano, 124 pessoas foram mortas no Cabo.

Divulgada em julho deste ano, a mais recente edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apontou o Cabo de Santo Agostinho em segundo lugar no ranking das cidades brasileiras com maior taxa de homicídios por 100 mil habitantes. O resultado é baseado nos crimes registrados em 2020.

Com taxa de 90 mortes violentas por 100 mil habitantes, o Cabo só perdeu para a cidade de Caucaia, no Ceará (98,6). Lá, os homicídios cresceram por causa da guerra entre duas facções pelo domínio do tráfico de drogas. Problema semelhante ao que ocorre no município pernambucano.

PREVENÇÃO

O secretário de Defesa Social do Cabo, Pablo de Carvalho, diz que ações continuam sendo executadas, em parceria com as polícias Civil e Militar, para diminuir a violência no município. Em breve, segundo ele, haverá um reforço ainda maior com mais câmeras de videomonitoramento interligadas para ajudar no trabalho de identificação dos criminosos.

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