VIOLÊNCIA POLICIAL

Após 7 meses, SDS não esclareceu tiro que deixou trabalhador cego em ato no Recife

Inquérito que apura quem atingiu o adesivador Daniel Campelo, de 51 anos, que passava pelo ato pacífico, ainda não foi concluído

Imagem do autor
Cadastrado por

Raphael Guerra

Publicado em 29/12/2021 às 17:17
Notícia
X

Sete meses se passaram desde a ação desastrosa da Polícia Militar de Pernambuco contra manifestantes que participavam de um ato pacífico contra o governo Bolsonaro, na área central do Recife. Apesar de todo esse tempo - e da promessa de uma investigação célere - faltam muitos esclarecimentos e punições. O inquérito relacionado ao tiro que atingiu e deixou cego do olho esquerdo o adesivador Daniel Campelo da Silva, de 51 anos, que passava pela Ponte Duarte Coelho, ainda não foi concluído. 

De acordo com a Secretaria de Defesa Social (SDS), a investigação ainda está em andamento, "próximo de sua conclusão". A resposta é a mesma há pelo menos três meses. Mas, até agora, nenhum policial militar, por exemplo, foi apontado como o responsável por ferir o olho de Daniel. 

Outro trabalhador que perdeu a visão, ao passar pelo protesto, em 29 de maio deste ano, foi o arrumador de contêineres Jonas Correia de França, de 29 anos. Mas essa investigação, ao menos, foi concluída. O terceiro sargento do Batalhão de Choque Reinaldo Belmiro Lins, acusado de disparar o tiro de elastômero (bala de borracha), responde na Justiça pelo crime de lesão corporal grave, com o agravante de o crime ter sido cometido por um militar. A pena, em caso de condenação, pode chegar a cinco anos de prisão. No dia 19 de janeiro de 2022, ele sentará no banco dos réus. 

OUTRAS INVESTIGAÇÕES

Durante a ação desastrosa da PM, a vereadora Liana Cirne (PT) foi atingida no rosto por spray de pimenta ao tentar negociar com policiais militares do Batalhão de Radiopatrulha, na Ponte Santa Isabel. Esta investigação foi concluída pela Polícia Civil, mas a SDS não revelou o resultado, sob a alegação de que o caso está sob segredo de Justiça.

Por causa da truculência, 16 policiais militares (três oficiais e 13 praças) foram identificados e afastados das atividades nas ruas. Todos continuam respondendo a processos administrativos e podem sofrer penalidades. Com exceção do suspeito de atirar em Jonas, os outros 15 estão prestando serviços administrativos em suas unidades de lotação. Os nomes não foram divulgados pela pasta.

Segundo a SDS, a Corregedoria Geral, por meio da Comissão Processante, finalizou três dos sete PADs. "Os três relatórios concluídos estão em análise para elaboração de parecer pelo corregedor geral. Os outros quatro estão em andamento. No âmbito da PMPE, o Inquérito Policial Militar instaurado está em fase de conclusão, com a análise de perícias e diligências complementares", informou, em nota, a SDS.

EXONERAÇÕES

YACY RIBEIRO/JC IMAGEM
TROCA Antônio de Pádua deixou a SDS após ação violenta da PM - YACY RIBEIRO/JC IMAGEM

Três dias após a ação da PM, o então comandante geral da corporação, Vanildo Maranhão, foi exonerado. No seu lugar, ficou o coronel José Roberto Santana. A saída de Maranhão se deu em meio aos depoimentos que apontaram ele como o responsável por dar a ordem de ação dos policiais contra os manifestantes, mesmo com o ato ocorrendo de forma pacífica, conforme documento revelado em primeira mão pela coluna Ronda JC. Vanildo nunca veio a público dar sua versão sobre o caso. Ele foi transferido para a reserva remunerada.

Dias depois, o delegado federal Antônio de Pádua, até então secretário estadual de Defesa Social, também foi exonerado do cargo. Humberto Freire, até então secretário adjunto, assumiu a titularidade da pasta.

Tags

Autor