SEGURANÇA

Apesar do aumento de assassinatos, faltam delegacias 24h nas cidades do interior de Pernambuco

No Estado, 21 municípios já registraram mais assassinatos no primeiro semestre de 2022 do que em todo o ano de 2021

Imagem do autor
Cadastrado por

Raphael Guerra

Publicado em 25/07/2022 às 7:30
Notícia
X

Em Pernambuco, 21 municípios do interior já registraram mais assassinatos no primeiro semestre de 2022 do que em todo o ano de 2021 (veja lista mais abaixo). Apesar disso, a maioria das delegacias não funciona à noite e nem nos fins de semana - problema crônico e que, cada vez mais, é ampliado pelo Estado. 

No geral, as delegacias do interior só estão funcionando de segunda à sexta-feira, das 8h às 18h. Há algumas exceções, como as unidades policiais de cidades como Nazaré da Nata, Caruaru, Garanhuns, Palmares e Serra Talhada. 

Quem precisa registrar queixa fora do horário comercial, nas cidades que não contam com plantão 24h, sofre com a falta do serviço. 

Resultado: ou a vítima procura um município da região em que há unidade policial aberta, ou precisa esperar o dia seguinte (se for um sábado, precisa esperar até segunda-feira). Uma outra opção - a depender do crime - é o boletim de ocorrência pela internet (sds.pe.gov.br). 

POR QUE A VIOLÊNCIA AUMENTOU?

Segundo especialistas, a migração de facções para municípios com menos policiamento e os crimes de proximidade têm relação com aumento dos homicídios.

Entre janeiro e junho deste ano, 1.858 pessoas foram mortas em Pernambuco. Um crescimento de 10,7% em relação ao mesmo período de 2021, quando houve 1.679 assassinatos. A região do Agreste apresenta quadro mais preocupante. Ao todo, 440 mortes no primeiro semestre. Foram 78 a mais que em 2021. O aumento foi de 21,5%.

THIAGO LUCAS/ ARTES JC
Estatísticas de homicídios - THIAGO LUCAS/ ARTES JC

"O quadro geral de segurança pública no Estado já inspira atenção. Desde o final de 2021, os homicídios vêm tomando uma dinâmica de crescimento. Parte desse aumento pode estar ligado à ação de grupos criminosos armados que estão procurando territórios com mais oportunidades para os negócios relacionados à criminalidade. Isso é muito perigoso, porque pode se tratar de uma migração de facções para essas cidades", afirma a socióloga Edna Jatobá, que é coordenadora executiva do Gabinete Assessoria Jurídica Organizações Populares (Gajop).

Durante os últimos anos, Caruaru, principal município do Agreste, foi alvo de preocupação das autoridades ligadas à segurança do Estado por causa da violência desenfreada.

Com investimento em mais policiamento - inclusive com novo batalhão da PM - e em operações para desarticular grupos criminosos, os números começaram a cair no ano passado. E, no primeiro semestre de 2022, houve queda de 53,8% nos assassinatos.

Cidade vizinha, Santa Cruz do Capibaribe vive situação oposta. Ao longo de 2021, a polícia somou 17 homicídios. Já no primeiro semestre deste ano, 18 vidas foram perdidas por causa da violência.

Segundo policiais ouvidos pela coluna Ronda JC, parte expressiva dessas mortes tem como motivação a disputa pelo domínio do tráfico de drogas - o mesmo que provocava a elevação de crimes contra a vida em Caruaru.

Os dados reforçam a tese de migração de facções para outras cidades. - e nem tão distantes das que os grupos já atuavam.

"Esses deslocamentos precisam ser mapeados e acompanhados pela inteligência policial para evitar que aconteça o rápido estabelecimento e mais mortes nessas cidades. Muitas vezes essas cidades contam com baixo efetivo por se tratarem de cidades pequenas, afastadas, e que tiveram histórico de não ter violência letal nos últimos anos", destaca Edna Jatobá.

Ao JC, o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Pernambuco avalia que a migração das facções no Estado tem um caráter "expansionista, através da tomada e ampliação do seu território".

"São grupos ou bandos originários daqui, nascidos em periferias dos municípios, que ganham alguma dimensão e comumente se associam com facções maiores, normalmente de outros Estados", diz o órgão. O Gaeco afirma que trabalha em conjunto com as polícias Civil e Militar na identificação das facções e dos seus líderes.

A socióloga Edna Jatobá lembra ainda que, em algumas cidades do Sertão, há uma frequência maior das mortes por proximidade, que são aquelas que ocorrem no "calor da emoção", como numa briga de vizinhos ou entre parentes, por exemplo. "Isso pela facilidade de acesso às armas e por causa da baixa presença policial."

Procurada pela coluna, na semana passada, a Polícia Civil não quis discutir o problema da violência no interior do Estado.

 

Tags

Autor