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Tirar jovens da vulnerabilidade reduzirá violência em Pernambuco, apontam especialistas

Mais de 1,5 mil jovens e 215 adolescentes foram assassinatos em Pernambuco no ano de 2021. Novo governador precisa dar mais atenção a essas faixas etárias

Raphael Guerra
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Raphael Guerra
Publicado em 27/08/2022 às 7:00
Keila Marques Sena/Cortesia
SENSIBILIZAÇÃO No bairro de Peixinhos, em Olinda, mães que tiveram filhos mortos se uniram para mudar realidade de outros jovens - FOTO: Keila Marques Sena/Cortesia
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O combate aos grupos criminosos que estão instalados - e avançam - em Pernambuco é fundamental para reduzir a violência, principalmente os homicídios. Mas o governo estadual não pode deixar de lado os investimentos em prevenção e cultura de paz, com apoio dos municípios.

Em 2021, segundo a Secretaria de Defesa Social, 1.543 jovens (com idades entre 18 e 29 anos) foram assassinados. O número representa 45,81% do total de pessoas mortas em Pernambuco. Além disso, 215 adolescentes também foram vítimas.

O recorte precisa ser estudado com mais atenção para criação de políticas públicas que evitem que esses adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade sejam facilmente cooptados para ingressar em facções especializadas no tráfico de drogas. Ou, ainda que somente como consumidores de entorpecentes, eles percam a vida em pouco tempo.

“É medida fundamental a prevenção social. O trabalho precisa ser ampliado para as grandes regiões do Estado. Projetos artísticos, culturais e esportivos que ofereçam ao adolescente, ao jovem, a oportunidade de construir uma história de vida que não seja pela atração do tráfico. Isso porque o tráfico não é só o dinheiro. Ele oferece o sentimento de grupo, de pertencimento para o adolescente que muitas vezes é excluído da sociedade”, afirma o sociólogo Luiz Flávio Sapori.

THIAGO LUCAS/ ARTES JC
Violência em Pernambuco - THIAGO LUCAS/ ARTES JC

Apesar de, desde 2019, contar com a Secretaria de Políticas de Prevenção à Violência e às Drogas, a gestão do governador Paulo Câmara não criou nenhum novo programa para combater o uso dos entorpecentes entre os mais vulneráveis. Também não reciclou o Atitude, criado há mais de uma década na gestão Eduardo Campos.

No ano passado, de acordo com dados da Secretaria Estadual de Planejamento, 13.429 pessoas foram atendidas pelo programa. Desse total, 12.004 precisaram de ajuda por causa do consumo do crack.

TRISTE REALIDADE DA VIOLÊNCIA NO CABO DE SANTO AGOSTINHO

O Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, é um município que vem chamando a atenção, desde 2020, por causa da alta dos números da violência.

Naquele ano, apresentou taxa de 90 mortes por 100 mil habitantes - segundo lugar no ranking das cidades brasileiras mais violentas, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. A disputa entre grupos criminosos pelo domínio de território é apontada pela polícia como motivação para o crescimento dos homicídios.

No ano passado, a violência no Cabo continuou muito alta: foram 178 assassinatos. E 60,11% das vítimas tinham idades entre 12 e 29 anos - em sua maioria que vivia em situação de vulnerabilidade e tinha relação com as drogas, segundo a polícia.

Cientista social e mestre em sociologia Matheus Mariano conhece bem a realidade do Cabo de Santo Agostinho e aponta a falta de políticas públicas como principal responsável por tantas mortes de adolescentes e jovens.

“A vulnerabilidade juvenil é construída por diversas ausências de ações efetivas da prefeitura e do governo do Estado. Isso se deve aos impactos da reorganização urbana causada pela construção do Complexo Portuário de Suape, à má distribuição de renda, limitações no sistema escolar, falta de equipamentos de cultura e lazer”, pontua.

“Prevenção e repressão qualificada são elementos que o poder público deve construir costurando entre o nível municipal e estadual. É preciso utilizar dados para elaborar políticas direcionadas, garantir orçamento público, garantir a transparência e considerar as pautas levantadas pela sociedade civil”, completa Matheus.

EXEMPLO DE PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA EM OLINDA

O bairro de Peixinhos, em Olinda, no Grande Recife, também convive com a violência diária. Mortes se multiplicaram nos últimos anos, e faltou atenção do poder público para evitá-las.

Para construir uma cultura de paz e tentar mudar a realidade do bairro, um projeto chamado Mães da Saudade, com a participação de mulheres que tiveram os filhos assassinados, leva, há 11 anos, ações de sensibilização e valorização da vida para as escolas do bairro.

O projeto também promove a formação política e cultural de jovens, visando a diminuição da violência urbana e dando oportunidades.

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