Em mãos, o cardiologista André Longo, 48 anos, secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, tem o desafio de retardar a disseminação da infecção pelo novo coronavírus no Estado. Em entrevista à titular desta coluna, Cinthya Leite, ele explica como trabalha diante de uma gravidade sem precedentes na história recente brasileira. Achatar a curva epidêmica para preservar vidas é a meta principal para o secretário, que já presidiu o Sindicato dos Médicos de Pernambuco, o Conselho Regional de Medicina do Estado e a Agência Nacional de Saúde Suplementar. “Precisamos da contribuição de todos. Ficar em casa é um ato de solidariedade”, diz.
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JC - O senhor já esteve à frente de entidades e órgão de classe, enfrentando desafios, inclusive no setor privado da saúde. Combater a crise sanitária imposta pelo novo coronavírus tem sido diferente?
ANDRÉ LONGO – É um grande desafio, pois se trata de algo novo, que não foi totalmente estudado, tem impacto mundial e com um dinamismo muito grande. Aqui em Pernambuco, estamos trabalhando muito, analisando os indicadores diariamente, ouvindo os especialistas, epidemiologistas e sanitaristas. Estamos nos atualizando com o que vem sendo produzido de conhecimento em outros locais, a fim de conduzir todo esse processo da melhor maneira possível, com base nas evidências da ciência. São medidas sanitárias que não são fáceis de tomar para nenhum gestor, mas que precisam ser feitas para que tenhamos segurança, para que possamos preservar e salvar a vida das pessoas. Temos trabalhado, dia e noite, de domingo a domingo, com esse intuito. Então, do ponto de vista do enfrentamento de epidemias, sem dúvida nenhuma, é um desafio novo e muito grande.
JC - Como tem aproveitado as experiências anteriores para dar resposta à covid-19?
ANDRÉ LONGO - Sem dúvida as experiências anteriores, de gestão na área da saúde, são importantes neste momento. Nesse processo, tem sido fundamental a liderança e o apoio irrestrito do governador Paulo Câmara, que tem comandado o gabinete de enfretamento da pandemia pessoalmente, mobilizando toda a estrutura do Governo do Estado, inclusive os demais secretários, neste esforço. Vivemos um cenário muito dinâmico, em que precisamos, mais do que nunca, do diálogo e da construção de consensos, mesmo em uma época onde o acirramento está tão em voga. Com toda a certeza, neste momento tão difícil, precisamos construir pontes e, de forma sinérgica, encontrar soluções que resguardem vidas. As pactuações e a busca por soluções conjuntas são, inclusive, alicerces do nosso Sistema Único de Saúde, que talvez, pela primeira vez na história, tenha importância e relevância reconhecidas pela maior parte da sociedade brasileira.
JC - É difícil não deixar se envolver emocionalmente no enfrentamento a esta pandemia?
ANDRÉ LONGO - É muito difícil não se envolver com tantas mudanças na dinâmica do dia a dia de todos nós que estamos envolvidos, seja no enfrentamento desta pandemia, seja por estarem sendo impactada pelas medidas restritivas que são necessárias neste momento. Por isso, é importante estudar todas as evidências científicas e escutar os especialistas para adotarmos ações e estratégias que possam achatar a curva epidêmica da covid-19, atender todos os pernambucanos da melhor maneira e, dessa maneira, preservar vidas. Este é um momento em que cada um de nós precisa de um pensamento enquanto sociedade, cada um tem uma opção: adotar ações restritivas momentâneas e ser um agente de prevenção (de nosso vizinho, amigos e familiares) ou, ao contrário, ser um agente de transmissão. É um momento em que precisamos da contribuição de todos. Ficar em casa é um ato de solidariedade.