Nova projeção de professores e especialistas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e do Instituto de Criminalística de Pernambuco prevê que, a depender do rigor com que o Estado de Pernambuco adote o sistema de isolamento social, poderão ser poupadas até 4.098 vidas, com uma média de 93 mortes a menos por dia, até 30 de junho.
A previsão do grupo de pesquisa Métodos de Pesquisa em Ciência Política aponta que, na medida em que a restrição das atividades sociais for se tornando mais rigorosa, caem as projeções de óbitos. A equipe desenvolveu três cenários hipotéticos para estimar o número de vidas preservadas no Estado de Pernambuco, caso medidas mais restritivas de circulação de pessoas e veículos, como forma de conter a disseminação do novo coronavírus, venham a ser adotadas.
No cenário 1, com menor adesão ao isolamento social, que é uma situação similar ao que o Estado vive hoje, uma média de 33 vidas serão preservadas por dia, totalizando 1.466 mortes evitadas até 30 de junho. No segundo cenário, com média adesão às restrições de convívio social, Pernambuco contabilizaria uma média de 63 vidas preservadas por dia, totalizando 2.782 mortes a menos até o final do mês de junho. Com a quarentena rígida plenamente instalada, serão preservadas 93 vidas diariamente, totalizando menos 4.098 óbitos no mesmo período.
Para o professor Dalson Figueiredo, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da UFPE, o Governo deve ser transparente e dizer que o lockdown implantado hoje não surtirá efeito para os dados levantados amanhã e, dessa maneira, evitar que a população se frustre e abandone o compromisso de ficar em casa. “Na nossa perspectiva, os efeitos começam a aparecer em 12, 13 dias. As consequências são como a prática de exercício na academia: a pessoa pode passar o dia todo malhando e não vai acordar ‘sarada’ no dia seguinte, pois o efeito positivo só vem se ele se disciplinar e passar muitos dias praticando”, compara.
De acordo com os pesquisadores, que esperam que o relatório auxilie o Governo do Estado a tomar a melhor decisão, pois “bons governos salvam vidas”, o estudo reforça que a adoção de medidas mais restritivas é necessária para conter o avanço da doença. “Dada a tendência ainda crescente na curva de casos e óbitos e a saturação gradativa do sistema de saúde, torna-se cada vez mais necessária a implementação de tais medidas", afirma Lucas Silva, que também integra o grupo de pesquisadores.
Entre os pressupostos que guiaram os estudo, considerou-se que “o distanciamento social em Pernambuco deve girar em torno de 50% ou menos, o que é suficiente para aumentar o contágio (novos casos) e dificultar o controle da propagação espacial da doença”; “em média, o distanciamento social será menor em bairros mais economicamente vulneráveis”; “a disseminação da covid-19 no interior do Estado vai aumentar a subnotificação de novos casos e influenciar positivamente a mortalidade por covid-19, por causas conexas e por causas não identificadas”; “quanto menor o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), maior mortalidade, o que deve se refletir em maior fatalidade em bairros/cidades mais vulneráveis” e “quem depende do Sistema Único de Saúde (SUS) encontrará a rede de saúde suplementar sobrecarregada”.
O estudo, segundo estimam os pesquisadores, enfrenta limitações importantes que podem fragilizar os resultados aqui apresentados, sobretudo aqueles que dizem respeito a erro de mensuração de casos e óbitos, bem como a subnotificação significativa do número de casos. “O modelo utilizado para prever o cenário com lockdown tende a subestimar o real número de óbitos no longo prazo. Por esse motivo, criamos três cenários hipotéticos utilizando o limite superior da previsão (cenário 1), a média do limite superior e a estimativa pontual (cenário 2) e a estimativa pontual (cenário 3)”, aponta o relatório.