Coronavírus: profissionais de saúde representam 71% dos infectados confirmados nas últimas 24 horas em Pernambuco

Ao todo, desde o início da epidemia, Pernambuco já totaliza quase 4 mil profissionais de saúde que adoeceram por causa do novo coronavírus
Cinthya Leite
Publicado em 19/05/2020 às 20:56
Centros de testagem, do governo de Pernambuco, funcionam diariamente na sede do Cefospe e no Centro de Convenções, atendendo profissionais das áreas de saúde e segurança Foto: Hélia Scheppa/SEI


Dos 1.148 novos casos de covid-19 confirmados, nesta terça-feira (19), pela Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES), 814 são profissionais de saúde, o que representa um recorde diário de novos trabalhadores da área infectados. É a primeira vez que o Estado confirma uma proporção tão alta de profissionais entre o volume de confirmações nas últimas 24 horas. Ou seja, eles representam 71% dos pacientes infectados que tiveram resultado laboratorial positivo no boletim desta terça. A SES explica que o aumento no número de casos, nessa categoria, é decorrente do acúmulo de casos leves, já que o sistema de notificação tem apresentado instabilidade técnica, o que dificulta extração e visualização desses dados, que são inseridos pelos municípios.

Até agora, mais da metade dos profissionais testados para a doença está infectada no Estado. Entre os trabalhadores da saúde examinados (ou seja, aqueles que apresentaram sintomas sugestivos de covid-19), 55,2% positivaram para a doença. Dos 7.141 notificados, 3.929 tiveram confirmação da infecção pelo novo coronavírus. Outros 2.699 foram descartados, 167 tiveram resultados inconclusivos e 346 permanecem em investigação.

A rede estadual é formada por cerca de 25 mil profissionais do setor. Já a Secretaria de Saúde do Recife tem cerca de 13 mil funcionários, dos quais 90% atuam diretamente nas 200 unidades de saúde. Os 10% restantes são da partes administrativas e de apoio. Muitos deles têm dois vínculos: são das redes estadual e municipal. As testagens para covid-19 são destinadas a profissionais de todas as unidades de saúde, sejam da rede pública (estadual e municipal) ou privada. O Estado foi o primeiro do País a criar um protocolo para examinar os profissionais da área da saúde. Os centros de testagem ficam no Centro de Formação dos Servidores e Empregados Públicos de Pernambuco, na Boa Vista, Centro do Recife; na sede da SES, no Bongi, Zona Oeste da cidade; e no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda. O exame é disponibilizado para trabalhadores de saúde ou segurança, assim como seus contatos próximos que apresentem sintomas.

“Podemos dizer que 100% dos profissionais da saúde ou quase isso são testados (para covid-19) quando apresentam sintomas. Às vezes, mais de uma vez. Isso é bom. O ruim é não testar a população em geral. Deveríamos ter mais exames”, destaca o infectologista Vicente Vaz, professor da Universidade de Pernambuco (UPE).

Pesquisa

Pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, a médica epidemiologista Fátima Militão está à frente de um estudo cujo objetivo é apresentar um modelo de protocolo para avaliação de risco de profissionais de saúde, que cuidam de pacientes com covid-19, serem infectados. Para isso, foi desenvolvido um aplicativo que reúne informações de trabalhadores da área que participarão da pesquisa. “Eles serão monitorados por seis meses pela nossa equipe. Participarão médicos, técnicos de enfermagem, enfermeiros e fisioterapeutas. Até agora, observa-se que a fase de desparamentação (de equipamentos de proteção individual) é o que oferece maior risco de infecção. Nesse momento, os profissionais estão exaustos pelo fim do plantão e se distraem para realizar esse processo”, diz. O estudo coordenado por Fátima, já aprovado pelo Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), conta com colaboração de outros pesquisadores da Fiocruz, da Universidade Federal de Pernambuco e da UPE.

Em entrevista recente a esta coluna, a médica epidemiologista Ana Brito, também pesquisadora da Fiocruz Pernambuco, ressaltou que as discussões que envolvem o papel do profissional de saúde nesta pandemia devem ser analisadas sob duas vias. “Há o debate dele enquanto vetor infectante e como vetor desprotegido, sendo discriminado e passando por algumas atitudes de intolerância. Esta epidemia ainda vai pressionar mais pela necessidade de recursos humanos. Quem está no front é que atenua o sofrimento da situação”, destaca a especialista.

A SES começou a divulgar, na quarta-feira (13) passada, um balanço dos profissionais de saúde infectados por categoria. Até aquela data, entre os 2.892 trabalhadores da área que tiveram diagnóstico de covid-19 confirmado no Estado, 2.153 eram vinculados à SES. Entre eles, 939 são auxiliares, atendentes ou técnicos de enfermagem e outros 258 são enfermeiros. Juntos, eles somam 55% do universo de profissionais que adoeceram pelo novo coronavírus. A SES ficou de atualizar esse balanço uma vez por semana.

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