A crise provocada pela covid-19 acentuou e agravou a desigualdade em todo o planeta, especialmente nas localidades onde há uma maior fragilidade da população mais vulnerável. No Recife, a exemplo de outras cidades ao redor do mundo, a epidemia do novo coronavírus atingiu a sociedade sem distinção, mas a grande fatia das pessoas infectadas se concentra entre os grupos em situação de vulnerabilidade ou em risco, como as pessoas que vivem nas ruas e aquelas que estão onde não há cobertura da Estratégia Saúde da Família (ESF), a porta de entrada do Sistema Único de Saúde (SUS). Para alcançar essa população, a Prefeitura do Recife tem realizado, desde o último dia 6, uma ação educativa nos locais com precárias condições de saneamento básico e de estrutura domiciliar, o que dificulta a realização de medidas para enfrentar adequadamente a covid-19.
Até agora, nas 12 comunidades de maior vulnerabilidade social por onde passou, a ação porta a porta mobilizou centenas de agentes comunitários, que já visitaram 5.684 casas. “Mais de 20 mil pessoas foram contempladas com essa iniciativa. Elas receberam máscaras, kits com água sanitária, álcool em gel e sabão em barra. Muitas vezes, são áreas de difícil acesso, em que as equipes precisam caminhar a pé, carregando as sacolas com os itens que distribuem”, diz a médica de família e comunidade Sofia Costa, que é diretora de Atenção Básica à Saúde do Recife.
Ao falar sobre a ação, ela deixa claro como as marcas da desigualdade aumentam o desafio da Estratégia Saúde da Família para prevenir e controlar a covid-19. O trabalho educativo, então, precisou ser adaptado às comunidades. Mesmo com tantas informações que hoje circulam sobre a pandemia, Sofia conta que o trabalho de porta a porta mostra o quanto essa população ainda desconhece os cuidados preventivos. “Algumas pessoas ainda não têm a dimensão do que é a doença, do que ela pode causar e da importância do uso da máscara. Por isso, além de ofertar insumos, também levamos informação a essas residências.”
Assim como aconteceu na quarta-feira (29), os agentes de saúde caminham, nesta quinta (30), rumo às comunidades Chiclete, Bomboniere, Cajá e Ponte da Salvação, no bairro da Iputinga, Zona Oeste do Recife. Durante as visitas, os agentes de saúde também têm identificado pessoas com sintomas sugestivos da infecção pelo novo coronavírus. “Quando isso acontece, as equipes encaminham para unidades de referência da atenção básica para atendimento, mesmo no caso de quem mora em áreas não cobertas pela ESF (corresponde a 23% da população da capital pernambucana). O principal foco do nosso projeto é chegar aos vulneráveis dos vulneráveis”, esclarece Sofia.
Ela acrescenta que os agentes não têm encontrado resistência da população para fornecer orientações sobre a covid-19 e os insumos que ajudam a promover a higiene. “Felizmente tem sido uma ação bem preciosa para a gente, pois contempla realmente quem mais precisa de ajuda neste momento.” Na próxima semana, de segunda a quinta-feira, outras quatro comunidades serão beneficiadas com a iniciativa.
Ainda para descentralizar a informação sobre medidas preventivas, a prefeitura criou o modelo de Estações Itinerantes de Orientação sobre a Covid-19. Nesta semana, até esta sexta (31), elas funcionam das 8h às 16h, na Praça Joana Bezerra (Coque), no Habitacional do Campo do Café (Linha do Tiro), no Mercado de Casa Amarela, na UR 7 (Várzea), na Praça Simão Borba (Areias), no Terminal Integrado Tancredo Neves (Imbiribeira), na Comunidade Alto José Bonifácio (Alto José Bonifácio) e no Terminal de Jordão Baixo. Os endereços dos locais estão disponíveis no site www.recife.pe.gov.br.
"A atenção básica faz muita diferença no enfrentamento à covid-19, pois realiza um trabalho que reforça, mesmo neste período de estabilização no número de casos, por que não devemos se esquecer das medidas preventivas ao coronavírus nem deixar de cuidar dos grupos mais vulneráveis. Não é momento para a população deixar de se cuidar”, salienta Sofia Costa.