Pernambuco está sem remédio para síndrome rara associada à covid-19 em crianças

Desabastecimento de imunoglobulina humana preocupa médicos, que cobram do governo a garantia do uso da medicação de forma precoce, assim que a síndrome for detectada
Cinthya Leite
Publicado em 26/08/2020 às 23:56
Sintomas do adenovírus podem se prolongar por até 14 dias, com febre persistente de 5 a 7 dias Foto: FREEPIK/BANCO DE IMAGENS


Pernambuco está sem estoque de imunoglobulina humana, um medicamento indicado no tratamento de várias doenças e que tem sido usado também em casos de síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica, associada à covid-19. O desabastecimento, que ocorre também em outros Estados, tem preocupado os médicos, que cobram do governo a garantia do uso da imunoglobulina de forma precoce, assim que a síndrome for detectada. Na terça-feira (25), a Secretaria Estadual de Saúde (SES) confirmou a primeira morte de uma menina, de 11 anos, que não resistiu às complicações dessa condição, que oficialmente já afetou nove crianças em Pernambuco. Médicos e demais profissionais de saúde que estão na linha de frente do enfrentamento à covid-19 asseguram que esse número é subestimado, visto que os casos só passaram a ser notificados no início deste mês.

"Estamos falando sobre uma síndrome rara, mas não tão rara como se imagina. Hoje são nove casos detectados no Estado, mas provavelmente o número é maior. A questão é que essa condição é muito tratável. Mas, para isso, precisamos ter disponível a imunoglobulina", diz o vice-presidente da Sociedade de Pediatria de Pernambuco (Sopepe), Eduardo Jorge da Fonseca Lima. Ele destaca que a imunoglobulina humana, um medicamento de alto custo, é o que faz o diferencial no tratamento da síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica. "Mas tem sido uma dificuldade conseguir a medicação."

Em nota à reportagem do JC, a SES informou que a obrigatoriedade do fornecimento da imunoglobulina humana é do Ministério da Saúde (MS) e que, desde 2018, o envio do medicamento está irregular pelo órgão federal. "Já há, inclusive, uma ação judicial que obriga o MS a fornecer o produto ao Estado. Algumas unidades de referência de Pernambuco ainda contam com estoque do insumo, mas a diretoria de Assistência Farmacêutica não possui reserva do produto", confirma a secretaria. Diante da impossibilidade de compra da imunoglobulina humana pelos Estados, a SES frisou que, junto ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) já tem cobrado uma resposta efetiva do MS sobre o desabastecimento. A reportagem entrou em contato com o ministério para saber como estão os estoques atuais de imunoglobulina, mas ainda não recebeu retorno.

Nesta sexta-feira (28), representantes da Sopepe, do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) e do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe) têm uma reunião agendada com o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo. O encontro tem como objetivo alinhar as demandas observadas pelo grupo na terça-feira (25), quando coordenadores dos serviços de pediatria do Estado também apontaram a preocupação com o aumento da demanda por leitos para crianças que apresentam quadros respiratórios sugestivos de covid-19 e outras infecções.

"Durante o período de maior confinamento, as emergências pediátricas ficaram praticamente vazias. Mas agora em agosto, a procura pelos leitos tem vindo à tona. No Hospital Correia Picanço (Tamarineira, Zona Norte do Recife), houve aumento da demanda neste mês, assim como foi exposto no Barão de Lucena (Iputinga, Zona Oeste da cidade). Diante da situação, temos discutido com a secretaria a necessidade de organização do fluxo (encaminhamento de pacientes aos serviços) na pediatria", frisa o secretário-geral do Simepe, Tadeu Calheiros.

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