Após morte do filho de Walkyria Santos, especialistas alertam sobre ataques de ódio e bullying nas redes sociais
Ciência já tem ressaltado os efeitos dessa agressão, e as evidências mostram que, nesta pandemia, houve aumento de bullying e outras manifestações de ódio online
A cantora de forró Walkyria Santos, ex-vocalista da banda Magníficos, perdeu o filho Lucas, de 16 anos, nesta terça-feira (3). Ele foi encontrado morto no condomínio onde morava com a mãe, em Natal (RN), após receber mensagens de ódio pela internet, segundo informou a cantora em vídeo publicado em seu perfil no Instagram. Esse caso de suicídio tem chamado a atenção de artistas e da sociedade em geral para o fato de que bullying não é brincadeira. A ciência já tem alertado para os efeitos dessa agressão, e as evidências mostram que, nesta pandemia, houve aumento de bullying e outras manifestações de ódio online, o que reforça a importância de as famílias e a escola intensificarem as medidas de proteção.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a SaferNet lançaram este ano a campanha de conscientização Acabar com o Bullying #ÉDaMinhaConta, em parceria com o Facebook e o Instagram. A ação ressalta que são maiores, durante esta pandemia, as chances de crianças e jovens sofrerem cyberbullying (agressão pela internet) pelo aumento do tempo na internet. A psicóloga infantojuvenil Luciana Gropo salienta que essa modalidade virtual do bullying tem seus efeitos ampliados pela disseminação veloz de conteúdos na internet. "Percebemos que pessoas que tendem a praticar esse tipo de agressão se tornam mais encorajadas a fazer ofensas no meio virtual. Elas se sentem protegidas pela tela e vivem (a internet) como se fosse realidade. É como se a vida real desses jovens e também de adultos fosse resumida ao relacionamento que têm na rede social", destaca.
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Virtualmente as agressões causam maior impacto porque milhares de pessoas, com acesso à internet, podem provocar a intimidação, o que causa danos mais intensos a quem sofre esse tipo de violência. Um estudo realizado no Reino Unido revelou que, na faixa etária de 11 a 16 anos, pelo menos 17% dos adolescentes vítimas de bullying consideram tirar a própria vida para fugir da perseguição. Esse é um dado que preocupa a ciência, além de fazer com que famílias e escolas estejam sempre atentas ao comportamento dos jovens.
"Geralmente pessoas que sofrem algum tipo de assédio apresentam distúrbios de comportamento com alteração de humor, o que deve estar sempre à nossa vista", alerta Luciana Gropo, ao orientar que os adultos não deixem de lado esses sinais, caso passem a ser frequentes entre crianças e adolescentes. Entre eles, estão o aparecimento de ansiedade, irritação, agitação e tristeza. "É importante prestar atenção em comportamentos como esses, especialmente se é uma criança ou adolescentes que faz uso de redes sociais. A família precisa ser companhia para esses jovens", complementa a psicóloga.
Os pais e responsáveis devem estar sempre atentos ao comportamento e as emoções da criança e do adolescente. Ouvir como foi o dia na escola, ouvir histórias, tentar identificar e entender as oscilações de humor são algumas orientações para lidar com situações associadas ao bullying, a fim de tentar resolver o problema da melhor maneira possível. São atitudes que favorecem a prática da cultura do acolhimento diário, o que inclui o estímulo e o elogio constante às atividades desenvolvidas pela criança e pelo adolescente.
Números
Um levantamento divulgado pelo Unicef revelou que o Brasil é um dos 30 países onde um em cada três jovens diz ter sido vítima de bullying online. Cerca de 20% dos participantes da pesquisa (faixa etária de 13 a 24 anos) relataram ter deixado a escola devido ao cyberbullying e à violência. Alé, disso, aproximadamente três quartos dos jovens disseram que plataformas como Facebook, Instagram, Snapchat e Twitter são as mais comuns para a prática do bullying online.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) ressalta que o bullying tem um efeito negativo significativo sobre a saúde mental das crianças, a qualidade de vida e o desempenho acadêmico. As vítimas têm quase três vezes mais probabilidades de se sentirem estranhas na escola e são mais de duas vezes mais propensas a faltar aula. Elas também têm piores resultados e maiores probabilidades de deixar de estudar depois do ensino médio.