PANDEMIA

Predominância da Delta não representa necessariamente piora em casos ou mortes pela covid-19, esclarece epidemiologista

Em entrevista ao Passando a Limpo, da Rádio Jornal, na manhã desta quinta-feira (19), epidemiologista Márcio Bittencourt esclareceu dúvidas sobre nova cepa

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Katarina Moraes

Publicado em 19/08/2021 às 10:10 | Atualizado em 19/08/2021 às 10:37
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Em meio a um cenário de estabilidade nos índices epidemiológicos da covid-19, Pernambuco confirmou a transmissão comunitária da variante Delta. Por ser considerada mais transmissível que as demais, os dois casos da nova cepa divulgados pelo Governo do Estado levantou o temor de eventual piora nas taxas locais. Entretanto, para o epidemiologista Márcio Bittencourt, essa pode ou não ser uma consequência da Delta, a depender de fatores como cobertura vacinal, da vigilância sanitária e do comportamento da população e do vírus.

"Há aumento no número de casos e piora clínica com o aumento da variante Delta em alguns lugares, mas em outros a Delta predomina sem aumento no número total de casos. Só porque tem proporcionalmente mais Delta, não quer dizer que já piorou ou que vai piorar tudo. Depende do nosso comportamento e da nossa cobertura vacinal", alertou em entrevista ao Passando a Limpo, da Rádio Jornal, na manhã desta quinta-feira (19). Todavia, o médico elenca risco de piora pelo ainda baixo nível de vacinação completa no País e pelo comportamento da população.

Ele ainda vê como incerta a possibilidade de fazer novas flexibilizações de atividades sociais e econômicas, e defende que a conduta mais razoável é "se preparar para o pior". "O governo desenhar [o cenário de] que se tudo correr bem, vamos por esse caminho, tudo bem. O problema é que tem que estar muito claro para o governo as regras, os números e os limites; de que se piorar, se chegar em tal nível, vamos dar um passo atrás."

Um estudo preliminar realizado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças e pela Escola de Saúde Pública em Guangdong, na China, divulgado nessa quarta-feira (18), apontou que quatro vacinas de vírus inativado, entre elas a Coronavac, oferecem proteção contra quadros graves da covid-19 causados pela variante Delta. Mas Bittencourt opinou ainda não ver dados suficientes na pesquisa - que ainda não foi revisada pela comunidade científica - que comprovem a afirmação. 

"Até onde eu tenha visto, não tem estudo robusto ou bem feito que tenha respondido à pergunta da eficácia da CoronaVac especificamente para a variante Delta. Não é que não funciona, é que não há dados suficientes para responder ainda", afirmou o epidemiologista.

Para Bittencourt, também há falta de dados relacionados à necessidade de aplicação de uma terceira dose da vacina. "O ministro discutir a possibilidade de usar a terceira dose é uma coisa positiva; o planejamento, o estudo e o desenvolvimento de pesquisa para responder a essa pergunta. Agora, não acho que temos dados suficientes para justificar o uso da terceira dose de forma ampla e indiscriminada. Não tem praticamente um estudo publicado com terceira dose, e o pouco que tem é com resposta de nível de anticorpos, que não é suficiente para saber a resposta clínica".

Variante Delta em Pernambuco

O Secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, afirmou durante coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira (18) que a pasta já acredita haver transmissão comunitária da variante Delta da covid-19 no Estado. Isso porque a secretaria não conseguiu identificar quem teria infectado os dois pernambucanos que positivaram para a cepa - mais transmissível que a original -, que tiveram casos anunciados na última semana. Ainda há sete casos em investigação.

"Investigações epidemiológicas dos dois casos de pernambucanos que anunciamos na semana passada apontam para a circulação em nosso território de forma comunitária, porque não conseguimos identificar os casos que positivaram para a doença antes desses dois pacientes", disse Longo. "Ainda estamos com toda vigilância atuando tanto nos municípios, quanto em Pernambuco, mas precisamos reforçar os cuidados da população considerando que a pandemia não acabou".

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