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Batatinha frita 1, 2, 3: "Temos o dever de alertar para a inadequação", diz escola no Recife em carta aos pais sobre Round 6

Colégio diz estar atento ao efeito da temáticas entre os alunos, com interferências apropriadas da equipe de psicologia, professores e coordenações pedagógicas

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Cinthya Leite

Publicado em 21/10/2021 às 15:19 | Atualizado em 21/10/2021 às 15:35
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A série Round 6, exibida pela Netflix, tem gerado uma série de inquietações entre educadores. Em todo o Brasil, escolas têm conversado com alunos e famílias sobre o teor da série. Com classificação indicativa de 16 anos, Round 6 tem sido vista por crianças mais novas, que não devem ser expostas a conteúdos inadequados de entretenimento, o que pode impactar negativamente no desenvolvimento ao longo da infância e da adolescência. No Recife, mais uma escola particular fez recentemente um comunicado para orientar as famílias. Com turmas que vão da educação infantil ao ensino médio, o Colégio Damas, no bairro das Graças, Zona Norte da cidade, enviou uma carta reflexiva aos pais sobre o conteúdo da série.  

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"Uma das atuais preocupações que compartilhamos hoje é a maneira como os nossos jovens são expostos a conteúdos inapropriados para a faixa etária, que podem conter violações aos direitos humanos e sociais, pelos quais tanto prezamos. De forma mais recente, uma inquietação recai sobre as narrativas da série sul-coreana 'Round 6', com classificação etária de 16 anos, por incluir em suas cenas tortura psicológica e física, violência explícita, sexo, suicídio, banalização da vida, entre outros temas impróprios para crianças e adolescentes", frisa a mensagem destinada aos responsáveis pelos alunos. 

NETFLIX/REPRODUÇÃO
Crianças não devem ser expostas a conteúdos inadequados de entretenimento, o que pode impactar negativamente no desenvolvimento - NETFLIX/REPRODUÇÃO

A série traz jogadores falidos que aceitam um convite para um jogo de sobrevivência, e um prêmio milionário aguarda os participantes, mas as apostas são altas e mortais. Com isso, Round 6 traz cenas e temáticas de assassinato, tortura, tráfico de órgãos e suicídio. E impactante é que tudo isso vem em brincadeiras infantis (“batatinha frita 1,2,3”, cabo de guerra e bolinha de gude), em que os perdedores dos desafios morrem com muito tiro. "A gente não pode baixar a guarda diante desse movimento (em torno de Round 6) nem mesmo ficar desatento a questões semelhantes que estão pelo mundo. O acesso a conteúdos diversos está na palma da mão e, por isso, crianças e adolescentes escutam falar sobre tudo. Então, nosso papel é acompanhar esse movimento e mediar as conversas com as crianças", diz a psicóloga Paula Aureliano, integrante da equipe de psicologia do Colégio Damas. 

Ela destaca que esse diálogo não pode ficar em segundo plano, especialmente porque crianças e adolescentes estão emocionalmente em desenvolvimento. "Precisamos ter cuidado para promover o crescimento deles de forma saudável. Eles estão em processo de construção, não têm capacidade nem habilidades para fazer uma crítica sobre o que estão vendo. Então, por que deixar essas crianças antecipadamente expostas a conteúdos desse tipo?", acrescenta Paula.

 

O impacto desse tipo de enredo, segunda a psicóloga, é preocupante. "As crianças menores (que veem o conteúdo) podem sentir medo, ter pesadelos e insegurança para ficarem sozinhas em algum espaço de casa." No caso dos adolescentes que estão dentro da classificação indicativa de Round 6 e têm interesse em assistir à série, a psicóloga recomenda que exista um diálogo em família sobre o enredo da produção. "É preciso provocar conversas e fazer reflexões críticas diante do que a série traz. Para os que estão dentro da faixa etária para ver a série, proibir vai despertar ainda mais interesse. Então, o que sugerimos é que a família se mostre presente diante do contexto e conversem com os filhos. Afinal, mesmo aos 16 anos, o jovem pode estar em desenvolvimento e ainda não estar pronto para ver determinados conteúdos", ressalta Paula. 

Assista ao trailer:

A carta do Colégio Damas foi enviada a toda comunidade escolar e, segundo a psicóloga, as famílias se sentiram acolhidas e agradecidas pelo fato de a instituição estar atualizada sobre conteúdos que podem conter violações aos direitos humanos e sociais. "Entendemos que é responsabilidade da família decidir o que é melhor para seu(sua) filho(a), mas, enquanto educadores, temos o dever de alertar para a inadequação desse consumo e solicitar o acompanhamento de suas atividades. O colégio está atento ao efeito dessas temáticas entre os alunos, com interferências apropriadas da equipe de Psicologia, Coordenações Pedagógicas, Pastoral e Professores, não somente neste momento, mas em todo o percurso de nossa proposta de educação e Formação Humana", finaliza, no comunicado, o Damas. 

De sala em sala 

No Colégio Vera Cruz, no bairro das Graças, Zona Norte do Recife, a direção também tem feito um trabalho de orientação sobre a série da Netflix com os alunos e os pais. "É uma situação que requer monitoramento dos pais. O conteúdo da série é muito pesado. Por isso, estamos preparando uma circular, a ser enviada hoje (dia 18/10) para os pais. Eles precisam ficar atentos às questões sobre Round 6. Sabemos que é difícil controlar, principalmente os adolescentes. Mas isso é necessário", diz a diretora do Vera Cruz, Gladys Brasileiro.

Ela conta que, no colégio, não tem ouvido com frequência comentários sobre a série vindo dos alunos menores (do fundamental 1, do 1º ao 5º ano). "Os maiores, dos anos finais do fundamental (6º ao 9º ano), até conversam discretamente sobre a série. Começamos o trabalho de orientação com alunos dessas séries finais. A supervisora foi às salas para conversar com eles sobre o assunto."

A diretora do colégio acrescenta que, especialmente durante a pandemia, toda a sociedade vivencia um misto de sentimentos, marcado por dores e perdas. "Nesse contexto, vem Round 6, que traz uma degradação total, com muita morte. As crianças e os adolescentes precisam do oposto: de coisas construtivas", ressalta Gladys.

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