Por Moisés de Holanda, do HC-UFPE/Ebserh
Um caso raro na literatura científica de uma paciente acompanhada pela Área Assistencial de Neurologia do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) foi estudado e virou artigo publicado na revista científica Arquivos de Neuro-Psiquiatria, nesta semana.
O estudo realizado por profissionais do HC analisou o caso de uma mulher de 52 anos alérgica à toxina presente na picada de vespa e que desenvolveu o parkinsonismo – ou seja, ela apresentou os sintomas da Doença de Parkinson (como movimentos lentos e tremores), mas causados por outro quadro clínico. O HC é uma unidade vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
“Esse é um caso raríssimo na literatura científica, estando entre os poucos catalogados no mundo. Uma paciente desenvolveu o quadro clínico semelhante ao da doença de Parkinson, a partir de uma picada de vespa", explica o médico neurologista do HC Eduardo Melo, professor do Centro de Ciências Médicas (CCM) da UFPE.
"O estudo alerta para causas raras (nesse caso, a alergia à picada da vespa) que podem simular o Parkinson, uma doença mais comum em pessoas acima dos 60 anos", acrescenta o neurologista.
O estudo Acute Parkinsonism and basal ganglia lesions after wasp sting (Parkinsonismo agudo e lesões de núcleos da base relacionados a picada de vespa, em português) foi fruto do acompanhamento dessa paciente, que se recuperou de um quadro grave evoluído para o coma.
"Várias situações podem simular a doença de Parkinson, mas essa é bem inusitada e rara. Chegamos a esse diagnóstico com o histórico de alergia à picada de vespa da paciente, exames de sangue e de imagem do cérebro", completa Eduardo.
O estudo foi realizado por Eduardo Melo, Clélia Franco, Thiago Frederico de Andrade, Karina Lúcia Oliveira e Marcos Eugênio Bezerra (todos do HC) e por José Luiz Pedroso, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Geralmente, as picadas de abelhas ou vespas podem ser cuidadas em casa, removendo o ferrão com a ajuda de uma pinça ou agulha, mantendo o local limpo e aplicando gelo para aliviar a dor e o inchaço. Quando surgem sintomas como dificuldade para respirar e dor abdominal, isso pode indicar uma reação alérgica mais grave a ser tratada numa emergência. Sintomas neurológicos são ainda mais raros e podem incluir agitação, cefaleia, tontura, confusão e encefalite, entre outros.
Já a doença de Parkinson é degenerativa, crônica e progressiva, sendo causada por uma diminuição intensa da produção de dopamina (substância que ajuda na transmissão de mensagens entre as células nervosas).
Os principais sintomas da doença de Parkinson são a lentidão motora, a rigidez entre as articulações (do punho, cotovelo, ombro e tornozelo), tremores e desequilíbrio.