*Reportagem atualizada às 9h58 do sábado (12), com nota da Secretaria Estadual de Saúde ao final desta matéria
Mais uma vez, o Hospital Otávio de Freitas (HOF), localizado no bairro de Tejipió, Zona Oeste do Recife, desponta como uma unidade que oferece precárias condições de atendimento à população.
Nesta semana, a reportagem da TV Jornal mostrou cenas que revelam o caos de um hospital que, diferentemente do que temos noticiado, era para ser exemplar nas especialidades em que é referência: traumato-ortopedia (adulto e pediatria), cirurgia geral, pediatria e clínica médica.
O Otávio de Freitas, que é a única emergência urológica do Estado, é um retrato de muitas das feridas e dores vividas na Saúde de Pernambuco nos últimos anos e que foram escancaradas com a maior crise sanitária deste século: a pandemia de covid-19.
Sem infraestrutura e planejamento para acomodar os pacientes de forma digna e adequada, o hospital não tem mais nem espaço internamente para oferecer assistência às pessoas internadas.
Agora, as macas ficam pelo chão em uma área externa, próxima ao jardim da unidade. Os pacientes permanecem expostos ao sol e chuva, além de dividirem o espaço externo com caixas condensadoras de ar-condicionado.
As cenas veiculadas pela TV Jornal foram gravadas pela acompanhante de um dos pacientes.
As queixas referentes à superlotação no HOF é geral - e antiga.
Segundo famílias de pessoas internadas, as macas se acumulam em praticamente todos os setores do hospital. Além disso, na área interna, não há climatização, e todos (pacientes e famílias) sofrem com o calor.
O cenário de caos do Otávio de Freitas leva ao seguinte questionamento, levantado pela coluna Cena Política, do jornalista Igor Maciel, deste JC: se o governo estadual deixa dinheiro em caixa, por que pacientes são atendidos de forma tão precária - e até mesmo desumana?
A questão é bem complexa. Para resolver os problemas da Saúde, não adianta o governo estadual investir recursos na criação de mais leitos ou de mais hospitais.
O que se faz essencialmente necessário, à gestão estadual, é enfrentar o esgotamento da assistência hospitalar estadual, que tem como origem um modelo de atenção focado na remediação da doença já instalada, ao invés de se envolver com caminhos efetivos de prevenção.
Ou seja, ampliar o investimento é condição necessária para melhorar o sistema público de saúde, mas só isso não é o suficiente. É preciso que existam também modelos efetivos de financiamento, governança e gestão, assim como uma ação intensa de qualificação da força de trabalho.
Questionada sobre a situação do Hospital Otávio de Freitas (HOF), a Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE) diz, em nota, que a direção da unidade "está tomando todas as providências necessárias para admitir os pacientes que chegam à unidade de saúde em busca de atendimento".
A SES acrescenta que "reconhece a alta demanda de pacientes na unidade, mas ressalta que tem mantido a escala preenchida das equipes multiprofissionais nos plantões".
A secretaria ainda reforça que "não nega atendimento a nenhum usuário, garantindo a assistência a todos que buscam o serviço".
Diariamente dezenas de pacientes, de diversas regiões do Estado, procuram o Otávio de Freitas para atendimento.
A SES informa também que "garante o atendimento e assistência a todos os pernambucanos que são admitidos no serviço, realizando os procedimentos necessários para o pleno restabelecimento da saúde de cada paciente, prestando a devida assistência para cada caso, agilizando exames e procedimentos para dar rotatividade aos leitos e encaminhando para outros serviços de referência e de retaguarda, quando necessário".
Em reportagem publicada em agosto deste ano, a SES garantiu que o Hospital Otávio de Freitas deve ganhar uma nova emergência.
"As obras devem ser licitadas ainda neste ano, com investimento de R$ 46 milhões e prazo de conclusão em 18 meses. A nova edificação, com 7,8 mil metros quadrados, vai abrigar as novas emergências adulto e pediátrica."
Em dezembro de 2021, a unidade inaugurou o novo pavilhão de Pneumologia e Tisiologia, além de concluir a reforma da nova UTI geral, que conta com 20 leitos. Atualmente, a unidade passa por obras de revitalização da fachada.
Em nota enviada à reportagem do JC na manhã deste sábado (12), a direção do Hospital Otávio de Freitas (HOF), através da Secretaria Estadual de Saúde (SES), informa que realizou força-tarefa ao longo da semana para admitir os pacientes que chegam à unidade de saúde e qualificar a assistência.
Somente entre a última quarta-feira (9/11) e sexta-feira (11/11), 200 atendimentos e 40 procedimentos foram realizados no serviço, disse a SES.
"Importante frisar que todos estão sendo atendidos e recebendo o suporte necessário no interior da unidade. Nos últimos dias, pacientes precisaram ser deslocados temporariamente para trabalho de limpeza e higienização necessária dos corredores, protocolo realizado para evitar disseminação de doenças", diz a nota.
"Para dar maior rotatividade aos leitos, a direção tem agilizado ainda mais a definição dos planos terapêuticos, com a administração dos tratamentos medicamentosos, além da realização de exames e dos procedimentos cirúrgicos de urgência, para acelerar a alta hospitalar. Além disso, quando necessário, o HOF realiza a transferência para a rede conveniada."
A SES acrescentou que as escalas estão preenchidas, com as equipes multiprofissionais necessárias em todos os plantões.
Na nota, a secretaria ainda frisou que o HOF recebe diariamente dezenas de pacientes de diversas regiões do Estado, sendo referência para atendimentos de urgência nas especialidades de traumato-ortopedia (adulto e pediatria), cirurgia geral, pediatria, clínica médica e única emergência urológica do Estado, "absorvendo demandas que deveriam ser encaminhadas para a rede de atenção primária".