Em vídeo publicado no início da tarde desta terça-feira (24) em rede social, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, comentou sobre a operação da Polícia Federal (PF), que investiga desvios de recursos públicos em contrato da Secretaria Estadual de Saúde (SES) com a Fundação Gestão Hospitalar Martiniano Fernandes.
"A cada dia, a gente vai entendendo o porquê de a Saúde Pública de Pernambuco estar tão abandonada. Pela manhã, a Polícia Federal deflagrou uma operação para apurar desvios acima de R$ 89 milhões de uma OS (organização social) prestadora de serviço de saúde em Pernambuco", destaca Raquel Lyra.
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A governadora lamenta que isso ocorra em paralelo ao cenário de caos na assistência. "Enquanto isso, a população (que permanece) nas filas de exames e cirurgias sofre muito."
No vídeo, Raquel Lyra ainda frisa que a gestão atual está "começando a mudar o jeito de fazer as coisas no governo" e que seguirá "trabalhando para garantir um atendimento decente à nossa população, ao tempo em que vamos auxiliar os órgãos de controle para punir desvios e criar novos mecanismos de combate à corrupção. E está só começando".
A Fundação de Gestão Hospitalar Martiniano Fernandes (FGH) é uma das maiores organizações sociais de saúde do Nordeste e que tem ligação com o Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), no bairro dos Coelhos, área central do Recife.
A FGH foi alvo de operação da Polícia Federal na manhã desta terça-feira (24).
A suspeita é de desvio de verba pública (leia mais clicando aqui), cujo valor é avaliado em mais de R$ 1,8 milhão.
Detalhes foram revelados pela Polícia Federal, em coletiva de imprensa, após o cumprimento de 17 mandados de busca e apreensão e do afastamento de dois gestores da FGH.
O delegado federal Orlando Neves informa que a organização social tem contrato firmado com a Secretaria de Saúde de Pernambuco desde 2012, ainda no governo Eduardo Campos.
A FGH é responsável pela administração de 18 unidades de saúde no Estado, incluindo os hospitais Miguel Arraes, Dom Helder e Pelópidas Silveira e Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) localizadas no Grande Recife e no interior.
O Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa, construído pela Prefeitura do Recife, também faz parte da lista.
O delegado federal explicou que, durante a investigação iniciada em 2020, foi descoberto que havia vínculos familiares entre gestores da organização social e sócios das empresas contratadas para prestação de serviços nas unidades de saúde. "Muitos são irmãos e cônjuges."
"As irregularidades seriam em relação ao direcionamento na contratação dessas empresas, o superfaturamento desses preços e, com as buscas, vamos verificar se os serviços estavam sendo prestados ou não", disse o delegado federal.
As empresas contratadas pela organização social eram responsáveis, em geral, por serviços de limpeza e manutenção.
Um dos mandados de busca e apreensão foi cumprido na sede do Imip, que fica no bairro dos Coelhos. Também foram cumpridos em residências dos investigados. Quebras de sigilo bancário, antes da operação, também foram realizadas com autorização da Justiça.
Os valores dos contratos firmados entre a organização social e uma das empresas investigadas superam R$ 89 milhões.
O acordo investigado, inicialmente, é o que foi firmado para a gestão do Hospital Miguel Arraes, em Paulista.
Um contrato tinha o valor de R$ 24 milhões. Nele, foram identificados mais de R$ 1 milhão de sobrepreço e R$ 870 mil sem a devida comprovação de pagamento de benefícios a funcionários.
Parte do dinheiro tem origem no Fundo Nacional de Saúde (FNS), ou seja, de recursos federais.
O superintendente da Controladoria Geral da União (CGU) do Estado de Pernambuco, José William Gomes da Silva, explicou que, ao apurar a denúncia de irregularidades, observou que a organização social firmava contratos com empresas sem observar pontos necessários para evitar gastos de recursos públicos além dos necessários.
A CGU ainda identificou que a empresa que teria relação com o desvio de mais de R$ 1,8 milhão mudou de razão social, incluindo a informação de que prestava serviço hospitalar, dois dias antes de celebrar o contrato com a fundação.
A Operação recebeu o nome “Clã” devido aos alvos fazerem parte de um grupo familiar responsável pela gerência das empresas ligadas à organização social investigada.
Os crimes em apuração são de peculato (desvio de verba pública), organização criminosa, sonegação fiscal e lavagem de capitais.
Em caso de condenações, as penas podem ultrapassar os 30 anos de reclusão.
A Polícia Federal reforçou que, com o andamento das investigações e análise de todos os contratos da fundação, mais operações podem ser realizadas para identificar outras irregularidades.
Em nota, a Fundação Gestão Hospitalar Martiniano Fernandes afirmou que "na data de hoje (24), foi instada a apresentar informações a respeito de prestadores de serviços, o que foi devidamente atendido".
A FGH disse também que "os contratos firmados pelo Hospital Miguel Arraes seguem os procedimentos previstos na legislação e são devidamente fiscalizados, inclusive pelos órgãos de controle externo".
Além disso, a fundação declarou que "está, como sempre esteve, à disposição para prestar quaisquer outros esclarecimentos que se façam necessários e acredita que, após as devidas apurações, todos os fatos serão esclarecidos".
A assessoria do Imip informou que "vem a público informar que todos os esclarecimentos estão sendo prestados à Polícia Federal e à Controladoria Geral da União".
"O Imip ressalta ainda que não administra nenhuma outra unidade de saúde hospitalar. Esperamos que brevemente tudo seja esclarecido e estamos seguros quanto ao resultado da apuração dos fatos."
Também em nota, o governo de Pernambuco disse que "está apoiando e auxiliará com todos os meios possíveis os órgãos de controle federais responsáveis pela deflagração da Operação Clã".
"As informações decorrentes da Operação evidenciam os reais motivos da saúde de Pernambuco encontrar-se na situação inadmissível que está, sendo esse momento oportuno e necessário para se fazer as apurações devidas da forma como o interesse público requer. Ao mesmo tempo em que mecanismos internos de combate à corrupção estão sendo criados, a exemplo da formalização da Secretaria Executiva de Transparência e Controle, a administração estadual trabalha para que o atendimento de saúde à população não seja prejudicado", diz a nota.