Um estudo conduzido pela equipe de cardiologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo, concluiu que a mortalidade de pacientes do sexo feminino após infarto agudo do miocárdio (IAM) é maior que a de pacientes do sexo masculino.
O infarto ocorre quando há um bloqueio repentino do fluxo sanguíneo em uma artéria coronária, que levaria sangue para uma parte do músculo cardíaco, o que corresponde a uma das principais causas de mortalidade para doenças cardiovasculares.
Após 30 dias da ocorrência do infarto agudo do miocárdio, a mortalidade entre as mulheres era de 5,75%, enquanto nos homens era de 4,6% (diferença estatisticamente significante).
Já após um ano do evento, o percentual de mulheres que não sobreviveram ao infarto foi ainda maior (11,1%), em comparação aos homens (8,93%).
O estudo foi baseado na análise dos dados da plataforma TriNetx. É uma base de dados composta por mais de 250 milhões de pacientes maiores de 18 anos, de ambos os sexos, que foram atendidos em 120 hospitais de 19 países - entre eles, o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, localizado em São Paulo.
As informações foram extraídas de registros médicos eletrônicos dos últimos dez anos da TriNetX, rede global que compartilha em tempo real dados clínicos longitudinais para geração de evidências científicas.
A pesquisa conduzida pelos especialistas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, parceiro desta plataforma no Brasil, foi premiada como um dos cinco melhores trabalhos apresentados no Congresso da Sociedade Latino-Americana de Cardiologia Intervencionista e da Sociedade Brasileiro de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista, realizado em agosto.
FATORES DE RISCO EM MULHERES
De acordo com o cardiologista Hélio Castello, coordenador da hemodinâmica do Centro Especializado em Cardiologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, as mulheres que sofreram infarto apresentaram mais fatores de riscos para desenvolverem doenças cardiovasculares em relação aos homens, como a hipertensão: os homens correspondem a (40%) e as mulheres (50%); diabetes: homens (20%) e mulheres (25%); sobrepeso: homens (10%) e mulheres (16%); dislipidemia: homens (30%) e mulheres (38%).
Segundo Hélio Castello, o estudo concluiu que as mulheres são mais sensíveis do que os homens e têm mais fatores de risco associados - que, somados, aumentam o risco de infarto agudo do miocárdio.
Por causa dessa vulnerabilidade, as mulheres apresentam maior probabilidade de não sobreviverem a episódios cardiovasculares.
O cardiologista afirma ainda que o estudo traz conclusões que servem de alerta para a comunidade médica e assistencial.
"É importante que toda a cadeia de profissionais de saúde valorize as queixas das mulheres que chegam diariamente aos serviços médicos e hospitalares. Precisamos realizar um atendimento mais intenso, minucioso e humanizado com as pacientes", diz Hélio Castello.
Dessa maneira, segundo o cardiologista, elas se tornam mais conscientes para conhecer e identificar os sintomas cardiovasculares. "A partir dessa consciência, podem ficar mais atentas aos fatores de riscos que podem piorar o desfecho clínico", acrescenta.
O médico alerta ainda que se observou, a partir de dados coletados no estudo, que as mulheres fazem menos cateterismo em relação aos homens. "Elas acabam sendo subestimadas em relação ao infarto, porque provavelmente suas queixas clínicas foram menos valorizadas."
Mulheres devem ter preferência no atendimento de urgência
O médico explica ainda que quando homem e mulher acima dos 50 anos chegam ao mesmo tempo em um pronto atendimento, com os mesmos sintomas de infarto, a preferência no atendimento deve ser da mulher.
"Embora as mulheres tenham menos infarto do que os homens, elas tendem a apresentar quadros mais graves da doença, com maior risco de morrer em relação aos homens, pois apresentam artérias mais finas e têm uma tendência de apresentar sintomas mais simples. Por isso, acabam sendo subestimadas pelos serviços de saúde", sublinha o cardiologista.