O consumo de bebidas alcoólicas é uma prática antiga e profundamente enraizada em diversas culturas como parte integrante de hábitos sociais. No entanto, também está associado a uma série de riscos para a saúde, que vão desde distúrbios comportamentais, incluindo a dependência, até doenças crônicas graves como cirrose hepática, certos tipos de câncer e doenças cardiovasculares.
Para as pessoas que vivem com diabetes, surge a questão frequente: é seguro consumir bebidas alcoólicas? A resposta é: depende. Diversos fatores precisam ser considerados.
A Associação Americana de Diabetes (ADA) sugere fazer três perguntas antes de consumir: meu diabetes está controlado? Meus profissionais de saúde aprovam meu consumo de álcool? Estou ciente de como o álcool pode afetar minha glicemia e minha saúde de forma geral?
É inegável que o álcool pode causar mudanças drásticas nos níveis de açúcar no sangue. Inicialmente, devido à presença de açúcares em algumas bebidas, os níveis podem aumentar. No entanto, o maior risco reside no oposto: o álcool pode afetar o organismo por até 12 horas e, por uma série de razões, pode resultar em episódios de hipoglicemia.
Hipoglicemia
Para entender o risco de hipoglicemia, é crucial compreender alguns mecanismos. A insulina e o glucagon, hormônios liberados pelo pâncreas, desempenham papéis opostos no controle dos níveis de glicose no sangue.
Quando os níveis de glicemia diminuem, o fígado, que armazena glicose adicional para ser utilizada quando necessário, entra em ação para restaurar o equilíbrio, liberando açúcar no sangue para prevenir a hipoglicemia.
Ao consumir bebidas alcoólicas, o fígado prioriza o metabolismo do álcool, comprometendo a produção de glicose necessária para manter os níveis saudáveis. Com essa resposta hormonal alterada, o risco de hipoglicemia aumenta.
Essa situação se agrava quando a bebida é ingerida com o estômago vazio, pois, sem carboidratos para consumir, as reservas de glicose do fígado são acionadas. Especialmente para pessoas que usam medicamentos para liberar ou produzir insulina, como sulfonilureias e glibenclamida, o consumo de álcool com o estômago vazio pode levar a uma hipoglicemia grave, pois, além de todos esses fatores, a medicação continua agindo para reduzir os níveis de glicose.
Além disso, a hipoglicemia pode causar náusea, aumento da frequência cardíaca e dificuldade na fala, sintomas que podem ser confundidos com os efeitos do álcool. Isso torna o consumo de bebidas alcoólicas por pessoas com diabetes tão perigoso, pois a embriaguez pode mascarar os sinais de uma queda brusca nos níveis de açúcar no sangue.
Aumento dos níveis de glicose
Por outro lado, é importante observar que o álcool é calórico: 1 grama equivale a 7 calorias. Portanto, em excesso, a ingestão de bebidas alcoólicas com alto teor calórico pode elevar os níveis de glicose e, em casos extremos, levar à hiperglicemia.
Mesmo consumindo após as refeições, é necessário prestar atenção às calorias presentes nas bebidas por dois motivos principais: primeiro, porque o álcool estimula o apetite, levando a comer em excesso sem perceber; segundo, porque o álcool também pode afetar o julgamento, levando a decisões alimentares inadequadas. Se a pessoa com diabetes estiver seguindo uma dieta com base em calorias, é importante considerar as calorias de cada dose de álcool.
Nesse contexto, pode parecer que bebidas com alto teor de açúcar e calorias são uma opção interessante para quem corre o risco de hipoglicemia, mas não é bem assim. Açúcares líquidos são absorvidos rapidamente pelo corpo.
Portanto, em caso de uma queda abrupta que pode ocorrer horas após a ingestão, eles não estarão mais disponíveis para prevenir ou remediar. Alimentos, por outro lado, são digeridos gradualmente, oferecendo uma proteção melhor nessas situações.
O que constitui um consumo moderado?
De acordo com a Associação Americana de Diabetes, o consumo moderado equivale a uma dose por dia para mulheres e até duas doses por dia para homens. Uma dose padrão contém 14 gramas de álcool puro, o que corresponde a 350 ml de cerveja (até 5% de álcool), 150 ml de vinho (12% de álcool) ou 45 ml de destilados (vodca, uísque, cachaça, gim, tequila, com até 40% de álcool).
No entanto, se houver alterações em alguns parâmetros, como glicemia, pressão arterial ou triglicerídeos, é crucial evitar o consumo de álcool, mesmo que moderado. Alguns grupos específicos, como aqueles com neuropatia ou retinopatia diabética, podem ter seus sintomas agravados pelo álcool.
Com equilíbrio, moderação e controle adequado dos níveis de glicose, o consumo de álcool é possível para a maioria das pessoas com diabetes. No entanto, é importante estar ciente dos riscos e fazer escolhas conscientes.
Fonte: Quem Vê Diabetes Vê Coração