Frequentemente relacionado à má higiene íntima, o câncer de pênis representa 2% de todos os tipos de tumor que atingem os homens. Dados do Ministério da Saúde revelam que foram registrados, no Brasil, 21,766 mil casos de câncer de pênis de 2012 a 2022.
Além disso, foram realizadas 6.456 mil amputações do pênis de 2013 a 2023 - uma média anual de 600 amputações. De 2011 a 2021, a doença provocou mais de 4 mil mortes no Brasil.
Os números preocupam. A doença, especialmente quando leva à amputação total do pênis, traz consequências físicas, sexuais e psicológicas ao homem.
"No Brasil observa-se uma concentração maior de casos de câncer de pênis nas regiões Norte e Nordeste, particularmente em Pernambuco. No Estado, há números alarmantes, como no Hospital de Câncer, que registrou 49 casos novos de câncer de pênis em 2020, 38 casos em 2021 e 45 em 2022, provavelmente decorrentes de áreas de baixa escolaridade e pouca informação", salienta o urologista Felipe Dubourcq, supervisor da Disciplina de Câncer de Pênis da SBU.
Para conscientizar sobre a importância da prevenção, a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) promove a 4ª edição da Campanha de Prevenção ao Câncer de Pênis em fevereiro, marcado pelo Dia Mundial do Câncer (4/2). Durante todo este mês, médicos esclarecem dúvidas sobre a doença nas redes sociais da entidade no Instagram, Facebook e Tik Tok (@portaldaurologia).
"O Brasil está na relação dos países com maior incidência de câncer de pênis. E uma das razões para isso é a falta de informação da população da sua existência, do diagnóstico tardio e de que a maioria dos casos pode ser evitada com água e sabão e vacinação", diz o presidente da SBU, Luiz Otavio Torres.
"O objetivo dessa campanha da SBU é levar, ao maior número de pessoas possível, as informações sobre como evitar e fazer o diagnóstico precoce do câncer de pênis", acrescenta.
O câncer de pênis também está associado a à infecção pelo pipolmavírus humano (HPV) e a homens que não se submeteram à circuncisão (remoção do prepúcio, pele que reveste a glande, conhecida como a 'cabeça' do pênis).
O diagnóstico precoce do câncer de pênis, fundamental para evitar a evolução do tumor, é feito basicamente por meio da biópsia incisional (retirada de um fragmento do tecido) de qualquer lesão peniana suspeita. Dessa maneira, é possível diferenciar as lesões malignas das lesões pré-cancerosas e das benignas.
A biópsia é feita após avaliação clínica do médico especialista.
Quando diagnosticado em estágio inicial, o câncer de pênis tem alta taxa de cura.
No entanto, mais da metade dos pacientes demora até um ano após as primeiras lesões para buscar ajuda médica, o que pode provocar complicações da doença, o que permite que o tumor se espalhe para outras partes do corpo. Assim, aumentam-se as chances de óbito.
O câncer já é a principal causa de morte em quase metade dos países da América Latina e Caribe, aponta o Código Latino-Americano e Caribenho contra o Câncer, elaborado com apoio da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS) e da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS).
"O documento aconselha a adoção de 17 medidas relevantes no contexto socioeconômico e cultural da América Latina e do Caribe, locais onde o câncer de pênis tem as maiores incidências do mundo", frisa o diretor da Escola Superior de Urologia, Roni de Carvalho Fernandes.
Entre as medidas, segundo detalha Roni, estão: não fumar e não consumir tabaco; manter o peso adequado; realizar atividade física regular; evitar o consumo de bebidas alcoólicas; manter uma dieta saudável; proteger-se do sol; prevenir-se de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e adotar de hábitos de higiene.
"O câncer de pênis é um tumor que pode ser evitado com bons hábitos de vida e higiene, potencializado pela vacina do HPV. Quando o diagnóstico é feito em fases iniciais, conseguimos tratar com a remoção somente da pele, evitando uma retirada do pênis", reforça Roni.
VEJA 4 SINTOMAS DO CÂNCER DE PÊNIS
O câncer de pênis é mais incidente em homens a partir dos 50 anos, mas também pode atingir os mais jovens. Geralmente, a doença se manifesta por meio de sinais como:
- Ferida que não cicatriza
- Secreção com forte odor
- Espessamento ou mudança de cor na pele da glande (cabeça do pênis)
- Presença de nódulos na virilha
VEJA 5 FATORES DE RISCO PARA O CÂNCER DE PÊNIS
- Baixas condições socioeconômicas
- Má higiene íntima
- ?Fimose (estreitamento da pele que recobre o pênis)
- Infecção pelo vírus HPV (papilomavírus humano)
- Tabagismo
AMPUTAÇÃO DO PÊNIS
"Os dados revelam que, infelizmente, o número de amputações no Brasil só registrou alguma queda nos dois primeiros anos da pandemia, possivelmente porque as pessoas evitavam procurar serviços médicos quando entendiam não ser urgente. Como o câncer de pênis ainda é muito pouco conhecido, e no início não dói, frequentemente é negligenciado", destaca a urologista Karin Jaeger Anzolch, diretora de Comunicação da SBU e uma das idealizadoras da campanha.
"Mas mesmo para nós que lidamos com a doença, é um câncer que impacta muito, não só porque é prevenível com medidas simples, mas pela mutilação que leva nos seus casos avançados, bem como pela mortalidade, quando se perde a janela do tratamento curativo", acrescenta.
PREVENÇÃO DO CÂNCER DE PÊNIS
Veja 5 formas de prevenção do câncer de pênis:
- Higiene diária adequada do pênis com água e sabão puxando o prepúcio
- Lavagem da região íntima após as relações sexuais
- Vacinação contra o HPV (disponível no SUS para a população de 9 a 14 anos e imunossuprimidos até os 45 anos)
- Postectomia (retirada do prepúcio) nos casos em que ele não permite a higienização correta
- Uso de preservativo para evitar contaminação por ISTs como o HPV
Estima-se que o Brasil tenha de 9 a 10 milhões de pessoas infectadas pelo HPV e que, a cada ano, 700 mil casos novos da infecção surjam. A faixa etária de maior incidência é abaixo de 25 anos. Por isso, é importante a vacinação.
"Atualmente, temos dois tipos de vacinas contra o HPV: a quadrilavente (HPV4), que é a disponibilizada pelo SUS e que cobre a maior parte dos tipos oncogênicos, os que predispõem ao câncer, e a nonavalente (HPV9), que dá cobertura para mais subtipos, já disponível na rede privada", diz o urologista Mauricio Dener Cordeiro, coordenador do Departamento de Uro-Oncologia da SBU.
"Ambas são compostas por partículas do vírus preparadas pela técnica de DNA recombinante, que cria uma das proteínas que compõem o capsídeo do HPV. Essas partículas são capazes de induzir a formação de anticorpos neutralizantes em títulos altos, que são suficientes para proteger quem recebe a vacina", explica.
CÂNCER DE PÊNIS TEM TRATAMENTO?
O tratamento do câncer de pênis consiste na remoção da lesão por meio de cirurgia, radioterapia e quimioterapia, dependendo do caso.
No entanto, se a lesão for invasiva, são necessárias medidas mais agressivas, como a amputação de parte ou de todo o órgão.
"O tratamento do câncer de pênis é eminentemente cirúrgico. Lesões pequenas, superficiais e pouco agressivas podem ser tratadas com ressecções locais ou até mesmo por terapias ablativas (eletrocoagulação, cauterização química). Entretanto, em geral, ressecções com uma boa margem de segurança são necessárias", esclarece o urologista Mauricio Dener Cordeiro.
O médico ressalta que, para preservação da função sexual, sempre que possível, deve-se ponderar a possibilidade de resseção somente da área afetada pelo tumor, com uma margem de segurança (penectomia parcial).
"No entanto, em casos de tumores volumosos ou amplamente invasivos, pode ser necessária a ressecção completa do pênis (penectomia radical) e até mesmo dos órgãos genitais adjacentes, como bolsa escrotal ou testículos (emasculação)", detalha Mauricio.