O Ministério da Saúde avaliou casos de eventos supostamente atribuídos à vacinação contra dengue, que são ocorrências clínicas notificadas após o ato de vacinação. Segundo a pasta, esses registros não possuem necessariamente relação com a aplicação do imunizante Qdenga, mas é necessário fazer o monitoramento.
No universo de 365 mil doses aplicadas no País desde 2023, foram identificadas 529 notificações de eventos possivelmente associados à vacina Qdenga. Desse total, 16 casos de reações alérgicas graves. "Todas as pessoas estão recuperadas e passam bem", informou a ministra Nísia Trindade, reforçando que os benefícios da proteção representam muito mais do que eventuais riscos.
Segundo o diretor do Departamento do Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde, Eder Gatti, mais de 80% dos eventos reportados são classificados como leves e corriqueiros.
Entre as 529 notificações, 70 foram de reações alérgicas à vacina, com 28 casos de hipersensibilidade imediata, 11 de reações locais, como vermelhidão e coceira, 10 de urticária e manifestações cutâneas, além 16 de alergia mais intensa ou anafilaxia (desses últimos casos, três apresentaram choque).
A rotina da farmacovigilância existe desde a década de 1990 e é utilizada em todo uso de medicamentos ou aplicação de vacinas, segundo ressaltou Eder Gatti.
"É normal sensibilizarmos nossa vigilância, e também é comum o procedimento para que o próprio programa de vigilância vá atrás de possíveis casos de reações adversas. Nem todos os casos estão relacionados à estratégia de vacinação", detalhou.
"É um número pequeno frente ao número de doses aplicadas. Mas o Ministério da Saúde, prezando pela transparência e segurança, fez uma nota técnica de acompanhamento após a discussão com especialistas", complementou Eder.
Ele informou que o paciente mais novo que registrou notificação de reação adversa da vacina tem 4 anos e o mais velho, 21 anos. Os casos estão distribuídos em mais de um município e não há qualquer relação com um lote específico do imunizante.
Confira as recomendações do Ministério da Saúde para os profissionais de saúde:
- Recomendar observação de 30 minutos após a vacinação para quem tem histórico de alergia e 15 minutos para os demais vacinados, independentemente do tipo de dose;
- Em caso de reações de hipersensibilidade não grave após a primeira dose, realizar avaliação clínica caso a caso para possibilidade de administração assistida da segunda dose;
- Administração concomitante com outras vacinas: vacinas de vírus inativado podem ser feitas 24 horas depois e para vacinas de vírus atenuado aguardar quatro semanas;
- Reforçar o cumprimento do protocolo de manejo de casos de hipersensibilidade e anafilaxia nos estabelecimentos de saúde que realizam vacinação;
- Realizar a comunicação sobre a Nota Técnica, simultaneamente, entre os órgãos e instituições relacionados: Anvisa, Conass, Conasems.
O Ministério da Saúde distribuiu mais de 1,2 milhão de doses da vacina contra dengue. Cerca de 250 mil doses foram aplicadas na rede pública de saúde. Neste primeiro momento, elas são destinadas a regiões de saúde com municípios de grande porte com alta transmissão nos últimos dez anos e população residente igual ou maior a 100 mil habitantes.
Também é levada em consideração altas taxas da doença nos últimos meses. A faixa etária de 10 a 14 anos, público-alvo da vacinação contra a dengue, é a que concentra a maior proporção de hospitalização pela doença.
O Brasil também se prepara e contribui com pesquisas importantes para observar o curso da vacinação e desenvolver novas vacinas por meio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto Butantan.
"Já estamos trabalhando em parcerias de desenvolvimento produtivo. Existe uma agenda de desenvolvimento tecnológico, mas teremos já no ano que vem uma base produtiva", destaca o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde, Carlos Gadelha.
O Ministério da Saúde reforça que, embora o País conte com as primeiras doses da vacina, essa ainda não é a principal estratégia para reduzir os casos e mortes por causa da doença. A melhor forma de se proteger contra a dengue é eliminar os focos de transmissão combatendo os criadouros.