Notícias e análises sobre medicina e saúde com a jornalista Cinthya Leite

Saúde e Bem-estar

Por Cinthya Leite e equipe
LEVANTAMENTO DO CFM

Brasil tem aumento recorde no total de médicos, mas distribuição ainda é desigual

Lançada nesta segunda-feira, 8 de abril, a pesquisa Demografia Médica do Brasil mostra que País tem 2,81 médicos por mil habitantes, maior proporção já registrada e que coloca a Nação a frente dos Estados Unidos, Japão e China

Cadastrado por

Cinthya Leite

Publicado em 08/04/2024 às 12:28
Médicos estão distribuídos de forma desigual pelo Brasil, com concentração em determinadas áreas, o que aprofunda cenário de desigualdade também na fixação desses profissionais e acesso ao atendimento pela população
Médicos estão distribuídos de forma desigual pelo Brasil, com concentração em determinadas áreas, o que aprofunda cenário de desigualdade também na fixação desses profissionais e acesso ao atendimento pela população - FREEPIK/BANCO DE IMAGENS

O número de médicos nunca foi tão alto no Brasil como agora. É o que revela o novo levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM), divulgado nesta segunda-feira (8). Intitulada Demografia Médica CFM – 2024, a pesquisa mostra que o Brasil tem 575.930 médicos ativos, uma das maiores quantidade do mundo, numa evolução acelerada.

O número resulta em uma proporção de 2,81 médicos por mil habitantes, também a maior já registrada e que coloca o Brasil a frente dos Estados Unidos, Japão e China.

O problema é que os médicos estão distribuídos de forma desigual pelo Brasil, com concentração em determinadas áreas, o que aprofunda um cenário de desigualdade também na fixação desses profissionais e acesso ao atendimento pela população.

O Sudeste tem uma proporção de médicos superior à média de 2,81 médicos por mil habitantes do Brasil. A região se destaca por ter a maior densidade e proporção, com 3,76 médicos por mil habitantes e 51% do total de médicos, enquanto abriga 41% da população brasileira.

Em contraste, o Norte exibe a menor razão e proporção de médicos (1,73), ficando significativamente abaixo da média nacional.

Já o Nordeste, com 19,3% dos médicos e 26,8% da população, apresenta uma razão de 2,22 médicos por mil habitantes, também abaixo da média nacional.

O Sul, por sua vez, com 15,8% dos médicos e 14,8% da população, exibe uma razão de 3,27 médicos por mil habitantes, enquanto o Centro-Oeste, com 9% dos médicos e 8,1% da população, tem 3,39 médicos por mil habitantes, ambos acima da média nacional.

Nas capitais, a média de médicos por mil habitantes alcança o patamar de 7,03, contra 1,89 observada no conjunto das cidades do interior.

Ao analisar os extremos dessa distribuição, Vitória (ES) registra a maior densidade: 18,68 médicos por mil habitantes.

Em contrapartida, no interior do Amazonas, a densidade é drasticamente menor, somente 0,20, o que ilustra os severos desafios de acesso a cuidados médicos em localidades remotas.

Além disso, com base no levantamento, o CFM alerta para a ausência de políticas públicas que estimulem a ida de médicos para o Sistema Único de Saúde (SUS), para áreas mais distantes e menos desenvolvidas. 

O presidente do CFM, José Hiran Gallo, alerta que, se o governo não tomar medidas necessárias, essa concentração de médicos se manterá, com cada vez mais médicos no Sudeste, Sul, litoral e centros com melhor Indice de Desenvolvimento Humano (IDH).

Além disso, outra questão a ser avaliada é que os recém-formados tendem a optar por atuar no segmento privado e nos planos de saúde, que oferecem melhores honorários e condições de trabalho, do que na rede pública, que responde pelo atendimento direto de 75% dos brasileiros.

Segundo José Hiran Gallo, os médicos que permanecem no Norte e Nordeste e nos municípios mais pobres do interior se ressentem da falta de investimentos em saúde, dos vínculos precários de emprego e da ausência de perspectivas.

"Os dados indicam que o Brasil conta hoje com mais médicos. Mas a que custo? Observamos a criação indiscriminada de escolas médicas no País sem critérios técnicos mínimos, o que afeta a qualidade do preparo dos futuros profissionais da medicina", afirma José Hiran Gallo.

Desde o início da década de 1990, no Brasil, a quantidade de médicos mais que quadruplicou, passando de 131.278 profissionais para o número atual, registrado em janeiro de 2024.

Esse crescimento, impulsionado por fatores como a expansão do ensino médico e a crescente demanda por serviços de saúde, representa um aumento absoluto de 444.652 médicos no período - ou seja, 339%, em termos percentuais.

Por outro lado, a população brasileira cresceu 42% no mesmo período: passou de 144 milhões para 205 milhões, conforme dados do IBGE. Com isso, é possível ver que o número de médicos aumentou oito vezes mais do que o da população em geral.

Calcula-se que o crescimento da população médica, entre 1990 e 2024, foi, em média, de 5% ao ano. Esse índice é cinco vez maior do que o praticado pela população brasileira (média anual de 1%). Notadamente, a maior progressão percentual no volume de médicos aconteceu entre 2022 e 2023, quando o contingente saltou de 538.095 para 572.960: aumento de 6,5%.

Para o presidente do CFM, José Hiran Gallo, o significativo aumento no número de médicos no Brasil é resultado da interação de diversos fatores, como as crescentes necessidades de saúde da população, as mudanças no perfil de morbidade e mortalidade, a garantia de direitos sociais, a incorporação contínua de novas tecnologias médicas e o envelhecimento progressivo da população.

Além disso, segundo ele, esse crescimento é influenciado pelas novas políticas de educação médica implementadas, especialmente nas últimas duas décadas.

"O aumento no número de faculdades de medicina e a expansão das vagas nos cursos existentes contribuíram significativamente para o aumento do contingente de médicos disponíveis no mercado. Contudo, esse cenário também suscitou questionamentos sobre a qualidade da formação médica oferecida", salienta o presidente do CFM.

Para ele, a quantidade significativa de cursos está em municípios que não atendem critérios mínimos para a boa formação de futuros médicos. "De forma complementar, há ainda a carência de médicos capacitados ao ensino, ou seja, estamos tornando a medicina brasileira precária. Se antes nosso País era reconhecido mundialmente pela competência de seus médicos, agora essa convicção está sob ameaça", alerta. 

Atualmente, há 389 escolas médicas espalhadas pelo País, a segunda maior quantidade do mundo – só fica atrás da Índia, nação que tem uma população mais de seis vezes maior. Desde 1990, a quantidade de faculdades de medicina no Brasil quase quintuplicou, passando de 78 para o cenário do momento. Somente nos últimos dez anos, foram colocadas em funcionamento 190 estabelecimentos de ensino médico, número igual ao de escolas abertas ao longo de dois séculos.

Tags

Autor

Veja também

Webstories

últimas

VER MAIS