O que é lipedema? Doença afeta principalmente as mulheres e vai além de estética

O lipedema só foi reconhecido como doença em 2022. Antes, era tido como um problema estético, o que dificultava o diagnóstico das pacientes

Publicado em 26/12/2024 às 16:17
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O lipedema é uma doença que afeta principalmente as mulheres, caracterizada por um acúmulo de gordura e inchaço principalmente nas pernas, o problema pode intereferir significativamente na qualidade de vida da paciente.

Cerca de 12% das brasileiras podem ter lipedema, de acordo com estudos acadêmicos de 2022, publicados no Jornal Vacular Brasileiro.

Recentemente, a influenciadora e ex-BBB Yasmin Brunet compartilhou nas redes sociais o resultado do tratamento que está fazendo para o problema, o que colocou o assunto nos holofotes.

 

O que é o lipedema?

O lipedema é uma condição inflamatória do tecido adiposo, que causa acúmulo anormal de gordura, principalmente nas pernas, coxas e, às vezes, nos braços.

É mais comum em mulheres, especialmente nas fases de mudança hormonal como puberdade, gravidez e menopausa.

Juliana Martins, de 45 anos é empresária e sempre levou uma vida saudável e ativa. Mas, após a menopausa, observou alguns sintomas. "Eu vi minha perna tomar uma proteção diferente do que eu estava acostumada e comecei a ter muitas dores", conta.

A recifense conta que passou por muitos médicos antes de receber o diagnóstico e que isso a levou a realizar exercícios de maneira exaustiva, além de dietas restristas, o que não resolvia o problema. Segundo ela, "os sintomas iam piorando".

Sintomas e causas

  • Aumento de gordura nas coxas, quadris e, em alguns casos, nos braços;
  • Sensação de peso nas pernas;
  • Dor e sensibilidade nas áreas afetadas;
  • Formação de celulite mais pronunciada nas zonas afetadas;
  • Dificuldade para usar roupas ajustadas devido ao acúmulo de gordura;
  • Inchaço que pode piorar ao longo do dia;
  • Dores nas articulações, especialmente nos joelhos e tornozelos.

Dra. Catarina Almeida é cirurgiã vascular e especialista em lipedema. A médica explicou, em entrevista ao Jornal do Commercio, que pacientes com lipedema podem sofrer com questões ortopédicas.

"Então, aquela paciente que tem lipedema de coxa, que não consegue encostar uma coxa na outra, o corpo vai se adaptando, vai ter adaptação do joelho, do tornozelo e do pé por conta dessa gordura. Essa paciente pode ter artrose do joelho", exemplificou.

Apesar de ter sido reconhecida há pouco tempo pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença de fato, existem diversos estudos que buscam as causas do probelma. "A gente sabe que é uma doença associada a genética, porque é comum a gente ter mais de uma paciente com um lipedema na mesma família, além de ser relacionada a hormônios, porque é uma doença quase que exclusivamente da mulher", destacou a cirurgiã vascular.

Obesidade

Apesar de ser um quadro ligado ao acúmulo de  gordura, lipedema e obesidade não são sinônimos, mas sim, doenças associadas. Tanto pessoas obesas podem ter mais chance de desenvolver o lipedema, como pessoas  com lipedema podem sofrer com o sobrepeso excessivo.

Juliana, por exemplo, conta que nunca teve sobrepeso, e mesmo assim, descobriu a doença. Por isso, o essencial é evitar o ganho de peso se caso observado os sintomas, e ações como fazer exercício e melhorar a alimentação devem ser feitas com acompanhamento médico.

A empresária ressalta que a condição causa questões de autoestima que podem piorar o caso. "Você fica com vergonha de vestir um short, com vergonha de ir para academia."

Existe dieta para lipedema?

A Dra. Catarina reforça que a dieta é, sim, um ponto importante no tratamento da doença, mas que não há uma 'fórmula mágica', não é porque Yasmin Brunet retirou o glúten, que todas as pacientes devem seguir esse protocolo, por exemplo.

"O lipedema é uma doença associada à inflamação e essa inflamação pode estar associada a algum alimento da dieta, da rotina da paciente. Então pode ser o glúten, pode ser a lactose, pode ser o álcool, café, o açúcar", destaca.

Logo, o acompanhamento nutricional é fundamental para que o plano alimentar seja personalizado.

Porém, em alguns casos, a médica destaca que tratamentos complementares podem ser necessários. "Em situações mais avançadas, podemos usar a lipoaspiração, que visa a remoção da gordura acumulada, e também medicações para ajudar a reduzir o inchaço e a dor", explica a Dra. Catarina.

Cirurgia 

A cirurgia de lipedema não é uma solução definitiva para a doença, sendo apenas uma etapa complementar ao tratamento clínico.

"A cirurgia não vai tirar a inflamação do corpo", afirma Dra Catarina, explicando que, antes de optar por esse procedimento, a paciente deve estar em tratamento clínico para que os resultados possam ser mensurados de forma eficaz.

O tratamento clínico contribui para diminuir o volume, aliviar a dor, melhorar a qualidade de vida e até promover o ganho de massa muscular.

A cirurgia realizada é uma lipoaspiração e é indicada quando o tratamento não é mais suficiente, especialmente em casos mais avançados de lipedema, quando a cirurgia é necessária para garantir mobilidade e bem-estar.

"É claro que a gente tem que pensar na estética, em como essa paciente vai se sentir. Mas antes, a gente tem que lembrar que a gente tem que promover saúde", finalizou a especialista.

O procedimento cirúrgico ainda não é reconhecido pela Agência Nacional de Saúde e nem pelo Sistema único de Saúde. "Eu tô numa briga com plano de saúde para aqueles autorizem a minha cirurgia", disse Juliana, paciente de lipedema.

Informação e acesso ao tratamento ainda é um desafio

Hoje, depois do diagnóstico, a empresária Juliana Martins fez do lipedema sua bandeira. Ela conta que pretende organizar um encontro de mulheres que receberam o mesmo diagnóstico para criar uma comunidade e disseminar informações verdadeiras sobre a doença.

"Hoje eu tenho esse desejo porque eu sofri muito desde a adolescência sem saber", ressalta. 

A empresária enfatiza que atualmente faz um tratamento com diferentes profissionais. Além da Dra Catarina, que é sua médica angiologista, é acompanhada por nutricionista, fisioterapeuta e psicológa para tratar de todas as questões que envolvem o seu diagnóstico.

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