Câncer do colo do útero: HPV é a principal causa; saiba quais exames detectam a doença
O câncer cervical é um dos tumores malignos mais frequentes entre mulheres, mas com prevenção e diagnóstico precoce, as chances de cura são altas

Janeiro é o mês de conscientização sobre a prevenção do câncer do colo do útero (CCU). De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer, também chamado de cervical, é um dos tumores mais comuns no Brasil e seu principal causador é o vírus do HPV.
Em 2021, o Atlas de Mortalidade por Câncer registrou mais de 6 mil mortes em decorrência da doença.
Apesar de grave, a detecção precoce por meio de exames de rastreamento pode reduzir significativamente a evolução do tumor.
Causas
O câncer cervical é causado pela infecção persistente de alguns tipos de Papilomavírus Humano (HPV), especificamente os tipos oncogênicos.
O HPV é uma das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) mais comuns. Segundo o Ministério da Saúde, o vírus atinge 54,4% das mulheres que já iniciaram a vida sexual e 41,6% dos homens.
Existem mais de 200 tipos de HPV, apenas os de alto risco podem desenvolver lesões que evoluem para o câncer.
Como se descobre o câncer do colo de útero?
O exame de colpocitologia oncótica, conhecido popularmente como 'preventivo', é a principal ferramenta para identificar alterações celulares no colo do útero que possam evoluir para o câncer.
Em entrevista ao Jornal do Commercio, Maria Carolina Valença, ginecologista, especialista em doenças do HPV e Diretora científica da Associação Pernambucana dos Ginecologistas e obstetras (SOGOPE) explicou que o procedimento é indicado para quem tem a vida sexual ativa, entre 25 e 65 anos.

"Pode ser realizado antes se tiver alguma alteração no exame ginecológico comum. Então essa paciente ela deixa de ser rastreio porque ela apresenta fator de risco", salienta a médica.
A recomendação é de realização anual até que dois exames consecutivos apresentem resultados normais, momento em que a periodicidade pode ser ampliada para a cada três anos.
Vale lembrar que o acompanhamento anual com ginecologista é muito importante.
"Mesmo que a paciente não seja elegível para exame preventivo, ela tem que ser examinada pelo ginecologista regularmente", completa Valença.
Exame mais avançado ainda não está disponível no SUS
O teste de PCR para detecção do HPV é o exame mais avançado para identificação do vírus no útero. Esse exame permite a identificação dos tipos de HPV de alto risco.
Então, se forem detectadas lesões suspeitas, uma biópsia pode ser realizada para avaliar o tipo de alteração (benigna, pré-maligna ou cancerígena).
Cigarro e pílulas anticoncepcionais podem ser agravantes para desenvolvimento da doença
Apesar do HPV ser o principal causador do câncer, existem outros fatores que podem facilitar a infecção pelo vírus e sua permânencia no colo do útero.
O cigarro, por exemplo, é um deles. "O fumo, seja o cigarro com convencional ou cigarro eletrônico também baixa as defesas da região genital", ressalta a ginecologista Maria Carolina.
Outros fatores de risco são:
- Tempo de exposição ao HPV: ou seja, quanto mais cedo se inicia a vida sexual, mais exposição;
- Número de parceiros sexuais: o aumento do número de parceiros aumenta a probabilidade de infecção por diferentes tipos de HPV;
- Uso de contraceptivos orais: pode reduzir a imunidade local, favorecendo a persistência do HPV;
- Imunossupressão: pacientes com sistemas imunológicos enfraquecidos, como aqueles que vivem com HIV, têm maior risco de persistência do HPV.
A médica enfatiza que as lesões de baixo grau (NIC 1) podem desaparecer em até 90% dos casos, já as lesões de alto grau (NIC 2 e NIC 3) podem evoluir para câncer.
Assista ao Videocast Saúde e Bem-Estar
Prevenção
O Inca registrou mais de 17 mil casos de câncer do colo do útero em 2022 e orienta que a vacinação contra o HPV é uma das medidas preventivas mais eficazes para reduzir o risco de desenvolvimento do tumor.
No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece a vacina quadrivalente (HPV 4), que protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do vírus.
Recentemente, a vacina nonavalente (HPV 9), que oferece proteção mais ampla, chegou ao País, mas apenas na rede particular.
A vacina é recomendada para meninas e meninos de 9 a 14 anos, com um esquema de dose única.
Em grupos de risco, como pessoas vivendo com HIV ou transplantados, a vacinação pode ser estendida até os 45 anos.
Maria Carolina frisa que mesmo pessoas infectadas podem ter indicação para a vacina nonavalente.
"O HPV não provoca imunidade duradoura e não é capaz de produzir uma boa quantidade de anticorpos", diz.
Sintomas
Em estágios iniciais, o câncer de colo de útero muitas vezes não apresenta sintomas evidentes.
No entanto, "quando o câncer fica mais exuberante, a paciente geralmente pode sentir sangramento após as relações sexuais, é o sintoma clínico mais frequente", aponta a especialista.
As lesões pré-malignas por HPV no colo do útero não apresentam sintomas, por isso, os exames são tão importantes.
Tratamento
O tratamento das lesões mais graves (NIC 2 e NIC 3) geralmente exigem remoção por meio de cirurgia para prevenir a evolução para o câncer.
Já as verrugas genitais, embora não estejam associadas diretamente ao câncer, elas devem ser tratadas devido ao risco de transmissão.
Caso haja o diagóstico do câncer, o tratamento pode incluir:
- Cirurgia: a remoção do tumor em casos iniciais, pode ser curativa. Em estágios mais avançados, a histerectomia (remoção do útero) pode ser necessária;
- Radioterapia: para casos mais avançados, a radioterapia pode ser utilizada para destruir as células cancerosas;
- Quimioterapia: quando o câncer se espalha para outras partes do corpo, a quimioterapia pode ser recomendada para controlar a doença.