TRAGÉDIA NO RECIFE

"Era uma pessoa de poucas palavras", conta pai do PM que matou esposa e atirou em colegas de batalhão no Recife

Em entrevista à TV jornal, pai do soldado fala pela primeira vez sobre o caso

Raphael Guerra
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Raphael Guerra
Publicado em 21/12/2022 às 10:59 | Atualizado em 21/12/2022 às 16:09
DAY SANTOS/JC IMAGEM
Pai do policial esteve no IML, no Recife, para a liberação do corpo - FOTO: DAY SANTOS/JC IMAGEM

O pai do soldado da Polícia Militar Guilherme Santana Ramos de Barros, de 27 anos, esteve na manhã desta quarta-feira (21) no Instituto de Medicina Legal (IML), no Recife, para liberação do corpo do filho. Muito abalado com a tragédia provocada pelo policial, ele concedeu entrevista à TV Jornal e falou que não via o filho há cerca de três anos. 

Guilherme matou a tiros a esposa, que estava grávida, no município do Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, na manhã dessa terça-feira (20). Em seguida, ele atirou contra colegas de farda na sede do 19º batalhão, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife, e depois se matou. 

"Não aceito, não concordo com a atitude dele. Queria aproveitar para passar meus sentimentos às famílias. Fazia três anos que ele não me procurava. Ele se reservou, se isolou. Me bloqueou das redes sociais, do WhatsApp e não sei o motivo", contou o pai, que pediu para não ter o nome divulgado.

"Não conhecia a esposa dele, não sabia que ele iria ser pai. Fiquei sabendo tudo pela TV. A única coisa da vida dele que eu sabia é que ele estava na PM. Ele nunca me pediu ajuda. Se tivesse me procurado, eu teria ido ao Comando da PM para expor a situação. Com certeza, o Comando ia ajudar", disse o pai.

"Ele nunca deu trabalho. Sempre foi estudioso, reservado, tinha um bom convívio com a mãe. Mas era uma pessoa de poucas palavras."

O enterro do corpo do soldado foi na tarde desta quarta-feira no Cemitério da Várzea, no Recife. O acesso foi restrito a familiares e amigos. Havia uma viatura da PM no local. 

BEATRIZ ALBUQUERQUE/TV JORNAL
Enterro do corpo do soldado Guilherme Santana Ramos de Barros, de 27 anos, no Cemitério da Várzea - BEATRIZ ALBUQUERQUE/TV JORNAL

FEMINICÍDIO E TIROTEIO NO BATALHÃO

Guilherme Barros assassinou a esposa, Cláudia Gleice da Silva, de 33 anos, dentro da casa da mãe dela. Ela chegou a ser socorrida e encaminhada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Cabo, onde faleceu. Ela teria sido atingida por sete tiros.

Um parente da vítima relatou que ela sofria ameaças e agressões e, por isso, decidiu encerrar o relacionamento. Mas o policial não aceitava e esse teria sido o motivo do crime. 

IMAGEM AUTORIZADA PELA FAMÍLIA
Cláudia Gleice da Silva foi morta a tiros na casa da mãe, no Cabo de Santo Agostinho. Ela estava grávida de três meses do policial - IMAGEM AUTORIZADA PELA FAMÍLIA

Depois de matar a esposa, o soldado da PM seguiu para o 19º Batalhão. Quatro colegas de farda foram baleados. O tenente Wagner Souza morreu na hora. Em seguida, o soldado tirou a própria vida.

Feridos, a major Aline Maria e o cabo Paulo Rebelo foram encaminhados ao Real Hospital Português.

De acordo com a Polícia Militar, a major passou por cirurgia e foi encaminhada para a UTI. Na noite dessa terça-feira, parentes confirmaram que ela faleceu.

O cabo, ferido no ombro, encontra-se internado para avaliações médicas.

Já um sargento Maurino Uchoa, baleado de raspão na cabeça, foi levado para o Hospital da Restauração (HR), na área central do Recife. O ferimento não foi invasivo e foi feita uma sutura. Ele já recebeu alta.

"Todos os fatos ocorridos na sede do batalhão serão apurados através de Inquérito Policial Militar, enquanto a morte da esposa do soldado Guilherme será apurada pela Polícia Civil", informou, em nota, a Polícia Militar de Pernambuco.

GOVERNADOR DECRETA LUTO DE 3 DIAS

O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, informou, nesta manhã, que decretou luto oficial no Estado.

"Decretei luto oficial de três dias em memória de Cláudia Gleice da Silva e dos policiais militares Wagner Souza e Aline Maria Lopes, vítimas da ação criminosa do soldado Guilherme Barros, registrada ontem no município do Cabo e na sede do 19º Batalhão, no Recife", disse em texto publicado no Twitter.

POLÍCIA MILITAR LAMENTA MORTES

Sobre a morte do 2º tenente Wagner Souza do Nascimento, a corporação afirmou que ele foi um "policial comprometido com a defesa da sociedade, em seus 12 anos na Corporação, foi aspirante a oficial da turma 2022. Serviu no Batalhão de Polícia Rodoviária, 16º Batalhão e atualmente estava lotado no 19º Batalhão".

"Companheiro leal, deixa esposa e vários amigos que o guardarão para sempre, na memória e no coração", disse o texto.

A corporação também se pronunciou sobre a morte da major Aline.

"Policial aguerrida e comprometida com a defesa da sociedade em seus 24 anos de Corporação, foi aspirante a oficial da turma de 2000. Serviu no Batalhão de Choque, 6° e 11° Batalhões, Companhia Independente de Apoio ao Turista (CIATUR) e, atualmente, estava na função de Subcomandante do 19° Batalhão", pontuou texto divulgado no instagram.

"Líder leal e companheira, deixa esposo e uma filha, além de amigos e familiares, aos quais deixamos nossas condolências", completou.

 

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