Por que o PM atirou em colegas de batalhão no Recife? Saiba o que precisa ser esclarecido da tragédia no Recife

Confira o que já se sabe sobre o feminicídio e o tiroteio no 19º Batalhão da Polícia Militar e o que as investigações ainda precisam descobrir sobre o caso
Raphael Guerra
Publicado em 22/12/2022 às 9:53
Movimentação foi intensa no 19º Batalhão, no bairro do Pina, após tragédia ocorrida na manhã de ontem Foto: REPRODUÇÃO/TV JORNAL


Dois dias após o soldado da Polícia Militar Guilherme Santana Ramos de Barros, de 27 anos, assassinar a esposa, no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, atirar em colegas do 19º Batalhão, na Zona Sul da capital, e depois se matar, as investigações seguem para esclarecer as dúvidas que cercam o caso.

Há dois inquéritos em andamento. O primeiro, da Polícia Civil, apura as circunstâncias do feminicídio de Cláudia Gleice da Silva, de 33 anos, que estava na casa da mãe dela escondida, após encerrar o relacionamento conturbado e marcado por ameaças e agressões - segundo relatos de parentes e amigos da vítima. A mulher estava grávida de três meses do policial, que a matou com vários tiros e fugiu.

IMAGEM AUTORIZADA PELA FAMÍLIA - Cláudia Gleice da Silva foi morta a tiros na casa da mãe, no Cabo de Santo Agostinho. Ela estava grávida de três meses do policial

O segundo inquérito é de responsabilidade da Polícia Militar. É essa investigação que pretende esclarecer os motivos que levaram o soldado Guilherme Barros a ir ao 19º Batalhão e atirar em quatro policiais antes de cometer suicídio.

Existiam desavenças entre o PM e os colegas atingidos pelos tiros? A escolha das vítimas foi aleatória? O que dizem os dois policiais sobreviventes? O sargento Maurino Uchoa, baleado de raspão na cabeça, que recebeu alta médica ainda na terça-feira, já teria sido ouvido pelos investigadores.

O cabo Paulo Rebelo, ferido no ombro, passou por cirurgia e segue internado no Hospital Português, no Recife. Não há previsão de alta e o estado de saúde dele não foi revelado.

Também foram atingidos pelos tiros o 2º tenente Wagner Souza do Nascimento, de 30 anos, que morreu na hora, e a major Aline Maria Lopes dos Prazeres Luna, 42, que era subcomandante do 19º Batalhão. A PM chegou a ser socorrida e levada para o Hospital Português, mas faleceu no mesmo dia - horas após passar por cirurgia. 

DIVULGAÇÃO - Major Aline Maria Lopes dos Prazeres Luna, 42, atuava na Polícia Militar há 24 anos. Também era psicóloga

Os depoimentos de familiares do soldado também vão ajudar na condução das investigações. Nessa quarta-feira, o pai afirmou que não tinha contato com ele há cerca de três anos e que não sabia de nenhum problema relacionado à vida pessoal ou profissional dele. 

Áudios e prints de mensagens de WhatsApp, sem comprovação de autoria, circulam pelas redes sociais. Mas é preciso levar em consideração que esse tipo de conteúdo, que muitas vezes mais atrapalha do que ajuda na investigação, precisa de checagem dos responsáveis pelos inquéritos e não deve ser compartilhado como se fosse verdadeiro. 

Não há prazo para conclusão dos dois inquéritos, que dependem dos depoimentos e laudos periciais do Instituto de Criminalística de Pernambuco. 

DEPOIMENTO DE MOTORISTA DE APLICATIVO 

Um motorista de aplicativo relatou à Polícia Militar que foi abordado pelo soldado Guilherme Barros no Cabo de Santo Agostinho - pouco após o feminicídio. 

"O motorista estava indo pegar um cliente e acabou abordado pelo policial, que tirou uma arma da sacola e apontou para ele. O motorista achou que era um assalto e disse que ele (policial) poderia levar o carro, mas que não o matasse", contou a advogada do condutor, Cassandra Gusmão.

"O policial então disse que o motorista obedecesse as ordens dele. Ele entrou no carro e, com a arma apontada para o motorista, mandou ele seguir até o Pina. Foram mais de 40 minutos de terror até lá. O policial ligava para as pessoas dizendo que matou a esposa e que ia matar os inimigos antes de se matar", detalhou a advogada.

"Próximo ao batalhão, o policial pediu para o motorista parar o carro. Ele vestiu o colete (à prova de bala) e disse para meu cliente não correr se não seria morto. 'Não faça nenhum movimento'. Depois mandou ele parar perto do portão do batalhão e saiu do carro. Depois, o motorista só ouviu os tiros."

Segundo a advogada, o motorista ligou para ela desesperado. Ela orientou que ele prestasse depoimento à polícia para ajudar nas investigações e, claro, evitar que ele também fosse considerado cúmplice do episódio trágico.

O motorista foi ouvido no próprio batalhão. O depoimento é um passo importante para o andamento do inquérito policial militar. 

 

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