O incêndio na boate Kiss, que deixou 242 pessoas mortas e mais de 600 feridas, completa 10 anos nesta sexta-feira (27). O dono e o sócio da casa de festas e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira foram condenados no júri popular, realizado em dezembro de 2021. Mas meses depois as condenações foram anuladas. (Entenda mais abaixo)
A tragédia na boate, que ficava em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, foi provocada após o vocalista da banda Gurizada Fandangueira acender um objeto pirotécnico durante apresentação.
A fumaça tóxica, liberada após a espuma do teto da boate começar a queimar, fez as pessoas desmaiarem em poucos segundos. O local estava superlotado. Não havia equipamentos para combater o fogo, nem saídas de emergência suficientes, como recomendava o Corpo de Bombeiros.
JULGAMENTO DO CASO DA BOATE KISS FOI ANULADO
Em dezembro de 2021, a Justiça condenou o dono da Boate Kiss, Elissandro Spohr, a 22 anos e 6 meses de prisão.
Mauro Hoffman, sócio da Boate Kiss, pegou 19 anos e seis meses; Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão, vocalista e assistente da banda, pegaram 18 anos de prisão.
Os réus foram condenados pelo crime de homicídio com dolo eventual, ou seja, quando se assume o risco de produzir o resultado morte.
Oito meses depois o júri foi anulado pela 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul por dois votos a um. Todos os réus estão em liberdade.
Entre os argumentos para pedir a anulação do júri popular, a defesa apontou que a escolha dos jurados foi feita depois de três sorteios, quando o rito estipula apenas um; o juiz Orlando Faccini Neto conversou em particular com os jurados, sem a presença de representantes do Ministério Público ou dos advogados de defesa; o magistrado questionou os jurados sobre questões ausentes do processo; foi feito uso de uma maquete 3D da Boate Kiss, anexada aos autos, sem prazo suficiente para que as defesas a analisassem.
O Ministério Público recorreu contra a liberdade dos réus e contra a anulação do júri, mas não há prazo para a decisão.
VEJA VÍDEO DA TRAGÉDIA:
RELEMBRE DETALHES DA TRAGÉDIA DA BOATE KISS
Reportagem da Agência Brasil
Eram por volta de três horas da manhã do dia 27 de janeiro de 2013 quando o vocalista da banda Gurizada Fandangueira acendeu um objeto pirotécnico dentro da boate Kiss.
A espuma do teto foi atingida por fagulhas e começou a queimar. A fumaça tóxica fazia as pessoas desmaiarem em segundos. O local estava superlotado, não tinha equipamentos para combater o fogo, nem saídas de emergência suficientes.
Morreram pessoas que não conseguiram sair e outras que tinham saído, mas voltaram para ajudar.
O delegado regional de Santa Maria, Sandro Luiz Mainers, conta que o pânico se instalou quando a fumaça se espalhou e a luz caiu. As pessoas não sabiam como fugir.
"E isso fez com que algumas pessoas enganadas por duas placas luminosas que estavam sobre os banheiros da boate as pessoas corressem na direção dos banheiros e não na direção da porta. Então houve um fluxo e um contrafluxo. Algumas pessoas corriam pro banheiro e outras pessoas tentavam correr na direção da porta de entrada. Isso fez com que muitas pessoas morressem porque algumas acabaram sendo derrubadas, algumas caíram."
Além da falta de sinalização, quem tentava sair esbarrava nos guarda-corpos que serviam para direcionar as pessoas ao caixa da boate, conta o delegado.
"E os guarda corpos foram determinantes até porque nós encontramos corpos caídos sobre esses guarda-corpos."
O jornalista Dilan Araújo atuou na cobertura para as rádios da EBC, quando o incêndio aconteceu. Ele conta que os familiares iam a um ginásio da cidade para procurar por informações e fazer o reconhecimento das vítimas.
"E por isso, de tempos em tempos, a gente ouvia os gritos desconsolados né? Rompendo aquela atmosfera de silêncio e de tensão, outros familiares tentando consolar aqueles que se encontrava numa emoção, né? De desespero maior. E tinha também a angústia daqueles que ainda estavam sem notícias."