Preso deu ordem que resultou na chacina com 5 mortos em São João, Agreste de Pernambuco

Entre as vítimas assassinadas estava uma bebê de 2 anos. Polícia segue em busca de suspeitos de participação no crime
Raphael Guerra
Publicado em 30/01/2023 às 11:43
Vítimas foram mortas a tiros ao lado de uma venda de espetinhos no Centro de São João. Câmeras de segurança ajudaram na investigação Foto: REPRODUÇÃO/WHATSAPP


Investigações conduzidas pela Polícia Civil apontaram que um homem que cumpre pena em um presídio de Pernambuco deu a ordem que resultou na chacina com cinco pessoas mortas, entre elas uma bebê de 2 anos de idade, no município de São João, no Agreste. O crime, na noite da última quinta-feira (26), foi motivado por vingança. 

De acordo com as investigações, o preso, cujo nome está sendo mantido sob sigilo pela polícia, determinou o assassinato de Lucas Pereira Andrade, de 23 anos - uma das vítimas da chacina. Isso porque, no dia 20 de janeiro, Lucas teria cometido um homicídio contra um homem que fazia parte do grupo desse detento. 

Conforme explicado pela chefe da Polícia Civil, Simone Aguiar, na sexta-feira (27), existe uma disputa entre grupos rivais pelo domínio do tráfico de drogas na região. 

"O alvo era o Lucas, conhecido como Lú, que é traficante de drogas. Infelizmente, ele estava naquele local e os inocentes foram atingidos", disse Simone.

VEJA VÍDEO DA CHACINA:

Imagens de câmeras de segurança mostraram o momento em que sete homens armados se aproximaram das pessoas que estavam em um ponto de venda de espetinho, na Avenida Coronel João Fernandes, no centro de São João. O grupo já chegou atirando. Além das cinco pessoas mortas, outras cinco ficaram feridas.

Além do Lucas, morreram: Vinícius Ravelly Ferreira Cavalcante, 27 anos; Valderlan Vinícius Bezerra Alves, 27; Durval Roberto Pereira Neto, 21; e Maria Sophia Gonçalves da Silva, 2.

REPRODUÇÃO - Imagens de câmeras de segurança mostram a fuga de criminosos após os tiros

TRÊS SUSPEITOS TIVERAM PRISÕES DECRETADAS

Dos cinco detidos na última sexta-feira, três foram autuados em flagrante e tiveram as prisões decretadas, em audiência de custódia, pela Justiça. Dois foram ouvidos e liberados pela polícia, mas seguem sendo investigados. Três armas de fogo apreendidas também estão passando por perícias. 

Os nomes e idades dos suspeitos não foram divulgados pela polícia. O inquérito está sendo conduzido pela 22ª Delegacia de Polícia de Homicídios – Garanhuns, sob a responsabilidade de dois delegados.

A descoberta de que o crime foi praticado por ordem de um detento reforça o que todos já sabem: o sistema prisional pernambucano continua sem controle do Estado. Mesmo atrás das grades, presos continuam se comunicando e dando ordens livremente a outros criminosos. 

Sobre a insegurança nos presídios, a Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres) informou, em nota, que está fortalecendo a segurança "através de ações de inteligência e com reforço no quadro de policiais penais, com 1.354 aprovados no último concurso que já estão participando do curso de formação, que deverá ser finalizado ainda neste primeiro semestre".

Disse ainda que as "portas de entrada das unidades prisionais foram reforçadas com a instalação de sistemas de inspeção corporal em 20 das 23 unidades prisionais do Estado, e com a implementação de sistemas de inspeção de bagagens por raio-x, banquetas de inspeção, detectores de metal manual e coletes balísticos".

SÓ 2 PMS FAZIAM SEGURANÇA NA CIDADE NO MOMENTO DA CHACINA 

Só havia dois policiais militares fazendo a segurança do município de São João enquanto ocorria a chacina. 

A Coluna Segurança teve acesso à escala de plantão da PM. Nela, constam os nomes de um sargento e de um soldado. 

O documento é uma prova do que há muito vem sendo denunciado pela população, principalmente quem vive nas cidades do interior: falta policiamento nas ruas para garantir a segurança. 

Segundo a Polícia Militar de Pernambuco, faltam 10.950 profissionais na corporação. Deveriam ter 27.672 PMs na ativa, mas só há 16.722. Os dados foram atualizados em julho de 2022.

A coluna solicitou resposta da PM sobre a falta de policiamento na cidade de São João, mas não obteve retorno. 

GUERRA DO TRÁFICO DE DROGAS NO AGRESTE

A chacina no município de São João é uma tragédia anunciada. O crescimento dos assassinatos na região vem sendo observado pela polícia desde o final de 2021. E a guerra entre grupos rivais pelo domínio do tráfico de drogas é a principal motivação para tantos crimes. 

São João tem cerca de 23 mil habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Só no ano passado, oito assassinatos foram somados pela polícia. Desse total, quatro foram no último mês de dezembro - o que já chama a atenção para a tendência de avanço da criminalidade e necessidade de mais reforço de policiamento.

O município de Garanhuns, vizinho a São João, também apresentou crescimento de homicídios. Foram 65 assassinatos em 2022. Ao longo de todo o ano de 2021, foram 46 mortes. Lá, como a polícia já confirmou, o problema está na disputa por território para venda de drogas. 

Na região do Agreste de Pernambuco, 841 homicídios foram registrados no ano passado. Já em 2021, foram 771. Operações de repressão qualificada foram realizadas pela polícia ao longo de 2022, mas não foram suficientes para diminuir a violência e evitar a chacina. 

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