Seis homens acusados de envolvimento na chacina que deixou cinco pessoas mortas e cinco feridas no município de São João, no Agreste de Pernambuco, tornaram-se réus. Investigação confirmou que um detento que cumpre pena em um presídio no Grande Recife deu a ordem para o crime, registrado no dia 26 de janeiro deste ano. Na ocasião, uma bebê de 2 anos também morreu vítima de bala perdida.
A Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) na última quinta-feira (08), mas somente nesta segunda (13) as informações foram divulgadas.
Viraram réus: Renato Roque da Silva, Erikys dos Santos Caetano, José Carlos da Silva, Joelson José Gomes da Silva, Cosme Gomes da Silva e Paulo Ricardo Gomes dos Santos.
Eles vão responder pelos crimes de cinco homicídios qualificados consumados (dos quais, quatro por motivo torpe e utilizando de meio que impossibilita a defesa à vítima; e um por motivo torpe, uso de meio que impossibilita a defesa à vítima e contra menor de 14 anos) e mais cinco homicídios qualificados tentados.
"No decorrer das investigações criminais, restou comprovado que o grupo agiu a mando de Paulo Ricardo Gomes dos Santos, que é interno do sistema prisional de Pernambuco. Ele determinou aos demais que se dirigissem a um espetinho no Centro de São João para matar Lucas Pereira de Andrade, com o objetivo de dominar o tráfico de drogas no município e retaliar a vítima pela participação na morte do traficante Gilson Gomes da Silva", informou o MPPE.
Somente Joelson José Gomes da Silva permanece foragido.
"A materialidade do delito encontra-se documentada por meio das identificações de cadáver, certidão de óbito e requisições dos exames traumatológicos já realizados nas vítimas que sobreviveram, fotografias e vídeos que atestam a morte de cinco vítimas e as lesões causadas em mais cinco vítimas atingidas por disparos de arma de fogo", disse o juiz Adrian de Lucena Galindo, que aceitou a denúncia do MPPE.
"Indícios da autoria do crime em questão restaram demonstrados pelos elementos de prova emanados dos autos, em especial pelos registros de câmera de segurança disponíveis nas ruas da cidade, fotografias, vídeos, documentos e depoimentos constantes do inquérito policial. O representado Paulo Ricardo Gomes dos Santos foi o autor intelectual da chacina, determinando que os executores assassinassem a vítima Lucas Pereira Andrade 'Lu' e todos que estivessem ao seu redor", completou.
A partir de agora, os advogados dos réus terão um prazo para apresentação das defesas prévias. Depois, o magistrado marcará a audiência de instrução e julgamento do caso, quando testemunhas de acusação e de defesa serão ouvidas - além dos réus.
A Polícia Civil de Pernambuco concluiu a investigação há mais de uma semana, mas a assessoria de imprensa da corporação se negou a passar informações sobre o caso - mantendo a falta de transparência da gestão anterior.
Imagens de câmeras de segurança mostraram o momento em que homens armados se aproximaram das pessoas que estavam em um ponto de venda de espetinho, na Avenida Coronel João Fernandes, no centro de São João. O grupo já chegou atirando. Além das cinco pessoas mortas, outras cinco ficaram feridas.
Além do Lucas, que era o alvo, morreram: Vinícius Ravelly Ferreira Cavalcante, 27 anos; Valderlan Vinícius Bezerra Alves, 27; Durval Roberto Pereira Neto, 21; e Maria Sophia Gonçalves da Silva, 2.
A descoberta de que o crime foi praticado por ordem de um detento reforça o que todos já sabem: o sistema prisional pernambucano continua sem controle do Estado. Mesmo atrás das grades, presos continuam se comunicando e dando ordens livremente a outros criminosos.
A Coluna Segurança teve acesso à escala de plantão da PM. Nela, constam os nomes de um sargento e de um soldado.
O documento é uma prova do que há muito vem sendo denunciado pela população, principalmente quem vive nas cidades do interior: falta policiamento nas ruas para garantir a segurança.
Segundo a Polícia Militar de Pernambuco, faltam 10.950 profissionais na corporação. Deveriam ter 27.672 PMs na ativa, mas só há 16.722. Os dados foram atualizados em julho de 2022.
A chacina no município de São João é uma tragédia anunciada. O crescimento dos assassinatos na região vem sendo observado pela polícia desde o final de 2021. E a guerra entre grupos rivais pelo domínio do tráfico de drogas é a principal motivação para tantos crimes.
São João tem cerca de 23 mil habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Só no ano passado, oito assassinatos foram somados pela polícia. Desse total, quatro foram no último mês de dezembro - o que já chama a atenção para a tendência de avanço da criminalidade e necessidade de mais reforço de policiamento.
O município de Garanhuns, vizinho a São João, também apresentou crescimento de homicídios. Foram 65 assassinatos em 2022. Ao longo de todo o ano de 2021, foram 46 mortes. Lá, como a polícia já confirmou, o problema está na disputa por território para venda de drogas.
Na região do Agreste de Pernambuco, 841 homicídios foram registrados no ano passado. Já em 2021, foram 771. Operações de repressão qualificada foram realizadas pela polícia ao longo de 2022, mas não foram suficientes para diminuir a violência e evitar a chacina.