Diante da multiplicação de casos de profissionais da segurança pública com problemas de saúde mental - como depressão e síndrome do pânico -, a Polícia Militar de Pernambuco vai disponibilizar um serviço on-line para atendimento psicoterápico. A partir da próxima segunda-feira (5), os militares da ativa já poderão ser ouvidos pelos psicólogos de plantão.
O novo serviço foi anunciado uma semana após reportagem da coluna Segurança discutir a dificuldade dos profissionais da segurança em procurar ajuda para a saúde mental. "A formação do policial estimula o 'mito do herói', o que torna difícil que seu consciente admita que precisa de ajuda, uma vez que 'heróis não adoecem'. Há ainda o receio da repercussão negativa de um diagnóstico psiquiátrico, como o preconceito e o estigma", citou a psiquiatra Josany Alves na ocasião.
A Polícia Militar destacou que o novo serviço on-line vai "abrir portas para aqueles que não se sentem à vontade em realizar o atendimento presencial".
Atualmente, o Núcleo de Saúde Mental, da Diretoria de Assistência Social da Polícia Militar de Pernambuco, conta com 13 psicólogos para atendimento presencial dos PMs. Agora, três desses profissionais serão destinados exclusivamente para o acompanhamento daqueles que acessarem o serviço virtual.
Com o novo serviço, a expectativa da corporação é de que 375 policiais militares sejam atendidos por semana - sendo 75 no formato remoto.
"Conseguimos trazer uma forma de avançar e ter amplitude nos atendimentos, mas acima de tudo de quebrar o paradigma de que nós não precisamos de ajuda mental. É um passo importante, porém pequeno ainda, diante de tantas metas que nós temos no comando geral, junto com a Diretoria de Assistência Social e o Núcleo de Saúde Mental da Polícia Militar", declarou o coronel Tibério César, comandante da PM no Estado.
A marcação de consultas deve ser feita pelo site da corporação: pm.pe.gov.br. Os atendimentos serão sempre de segunda à sexta-feira, das 8h às 15h. O telefone para contato é (81) 99488-5888.
Já o atendimento presencial funciona de segunda à sexta-feira, das 7h às 18h. A sede do Núcleo de Saúde Mental da PM está localizada na Rua Coronel Silva Torres, nº 73, no bairro do Derby, área central do Recife.
Os casos recentes de ataques com mortes em batalhões da Polícia Militar (em São Paulo e em Pernambuco) e em uma delegacia no Ceará reforçaram a necessidade de ações voltadas à saúde mental dos profissionais da segurança pública.
Frequentemente, os policiais relatam adoecimentos por causa da pressão por metas, sobrecarga de trabalho e estresse no trabalho.
Em Pernambuco, as reclamações em relação à sobrecarga de trabalho são constantes. Os PMs dizem que, por causa do baixo efetivo, são, muitas vezes, obrigados a aderir ao Programa de Jornada Extra de Segurança (PJES) e precisam dar dar plantões extras em dias de folga.
O efetivo atual da Polícia Militar do Estado é de pouco mais de 16 mil militares, quando o ideal seria pelo menos 27 mil. A corporação foi questionada, mas não quis informar o número de profissionais afastados por problemas mentais no ano passado.
Sete policiais militares da ativa cometeram suicídio em Pernambuco em 2021. Já em 2020, foram quatro óbitos. Entre os policiais civis, houve dois suicídios em 2020 e um em 2021.
A psiquiatra Josany Alves afirmou que a procura por profissionais especializados ocorre quando os policiais já estão numa fase muito avançada da doença mental e que é preciso que eles vençam os tabus.
"As queixas mais frequentes em consultas psiquiátricas são de sintomas depressivos, como as crises de ansiedade; uso de álcool e substâncias ilícitas; prejuízos na atenção ou concentração e insônia. Existem alguns sinais que podem indicar adoecimento mental e que podem ser percebidos pelas pessoas ao seu redor, como a irritabilidade, alterações de humor, sono ou apetite. A perda de interesse e prazer para realizar atividades de que antes gostava também é um alerta", disse.
Segundo o mais recente Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 80 policiais militares e 21 civis cometeram suicídio em 2021 no País.