CASO BEATRIZ: À Justiça, Polícia Civil diz que não há suspeita de fraude em laudo de perícia

No mês passado, a juíza responsável pelo caso solicitou informações sobre a suspeita de que um perito teria recebido R$ 1,5 milhão pra falsificar perícia, o que foi negado
Raphael Guerra
Publicado em 10/07/2023 às 9:36
Beatriz Mota, 7 anos, foi morta a facadas em festa de formatura no colégio onde estudava, em Petrolina Foto: ARQUIVO PESSOAL


A Justiça recebeu esclarecimentos da chefia da Polícia Civil de Pernambuco a respeito da suspeita, apontada pela Polícia Federal, de que um perito criminal teria recebido R$ 1,5 milhão para falsificar um laudo e favorecer o colégio particular onde aconteceu o assassinato da menina Beatriz Angélica Mota, de 7 anos, em Petrolina, no Sertão.

Em despacho publicado na última semana, a juíza Elane Brandão Ribeiro, responsável pelo processo, afirmou que a Polícia Civil desmentiu a Polícia Federal e negou a existência de "procedimento disciplinar ou inquisitorial que apure possível recebimento de propina para falsificação de laudo pericial por parte do perito Gilmário dos Anjos no Caso Beatriz".

O despacho da magistrada também citou a resposta da delegada Polyanna Neri, que foi apontada como a responsável por falar da suspeita de propina. A delegada "informou que “em nenhum momento chegou a seu conhecimento, seja formal ou informalmente, notícias sobre recebimento de propina por parte do perito Gilmário dos Anjos, para falsificação de laudos periciais".

A suspeita de que o perito teria recebido propina foi citada em relatório da Polícia Federal sobre a Operação Metástase, deflagrada em abril deste ano para prender suspeitos de integrar um esquema de milícia no interior do Estado. Apesar de a investigação da PF não ter qualquer relação com o Caso Beatriz, informações acabaram chegando ao conhecimento dos policiais federais. 

A informação foi apresentada pela defesa do acusado de matar Beatriz à juíza, que decidiu interromper o andamento do processo para solicitar os esclarecimentos à Polícia Civil e à delegada mencionada pela Polícia Federal. 

Na época, procurada pela coluna Segurança, a delegada negou ter conhecimento de qualquer investigação contra o perito por suspeita de fraude em perícia.

O perito criminal, também procurado pela reportagem, negou qualquer acusação. "Não respondo a nenhum procedimento disciplinar e não estou na condição de indiciado em inquéritos estaduais e federal. Com relação ao despacho expedido pela MM juíza, espero que, ao final do prazo estabelecido, as diligências sejam concluídas e que esse fato seja esclarecido", disse na ocasião. 

Após a publicação do novo despacho da juíza, confirmando que não há investigação em andamento contra o perito criminal, os advogados dele enviaram nota à imprensa.

"Gilmário dos Anjos reitera o compromisso com a busca da verdade, a imparcialidade e a excelência técnica, sendo o seu trabalho baseado em métodos científicos rigorosos com o objetivo de elucidar os mais complexos casos", diz a nota. 

"O perito buscará a reparação dos danos sofridos com a divulgação de informações infundadas através das medidas correcionais e judiciais cabíveis, pois não se pode usar brasões ou instituições de forma ilimitada, atacando a honra e a história de profissionais sérios, competentes e comprometidos com o seu labor", declara outro trecho do texto.

"O caso Beatriz guarda uma sensibilidade natural diante da crueldade em que foi cometido o assassinato, todavia, ao ser divulgada afirmações falsas maculando a idoneidade da perícia realizada no caso, o único beneficiado é quem está preso e é réu confesso. Nas últimas semanas, o perito e sua família sofreram um julgamento social irreparável resultado de afirmações falsas, que serão também objeto de análise judicial", afirma a defesa. 

ANDAMENTO DO CASO BEATRIZ

Agora, com os esclarecimentos apresentados, a juíza de Petrolina vai dar sequência ao processo do Caso Beatriz. A expetativa é de que o réu confesso, Marcelo da Silva, vá a júri popular pelo crime. 

As audiência de instrução e julgamento do Caso Beatriz foram encerradas em 15 de dezembro do ano passado. Na ocasião, o réu foi interrogado mas preferiu ficar em silêncio. As alegações finais da acusação e da defesa também já foram apresentadas à Justiça. 

No começo de janeiro de 2022, Marcelo da Silva foi identificado por meio do cruzamento de DNA, a partir das amostras coletadas na faca usada no crime, que aconteceu no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, em 10 de dezembro de 2015. Depois disso, a polícia foi até o presídio onde Marcelo estava, no Agreste do Estado, e ele confessou o homicídio.

Marcelo da Silva, que continua preso, responde por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, com emprego de meio cruel e mediante dissimulação, recurso que dificultou a defesa da vítima).

Em depoimento à polícia gravado em vídeo, em janeiro de 2022, Marcelo contou que havia entrado no colégio, onde ocorria uma festa de formatura, para conseguir dinheiro.

Beatriz, que havia saído da quadra esportiva para beber água, teria começado a gritar ao perceber a presença do acusado próximo a ela. Ele, então, teria levado a menina até uma sala isolada, onde praticou o crime. Ele contou que fez isso para que ela parasse de gritar.

A descoberta do assassino ocorreu duas semanas após os pais de Beatriz caminharem por 23 dias, de Petrolina até o Recife, para cobrar justiça. A caminhada, que encontrou apoiadores em todas as cidades, teve repercussão nacional e expôs a demora da polícia para solucionar o crime.

Além da ouvida do acusado, outras provas, como uma reprodução simulada na instituição de ensino, foram produzidas para a conclusão das investigações.

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