Em apenas três dias, pelo menos quatro tiroteios foram registrados na Região Metropolitana do Recife (RMR), com saldo de nove mortos. Em três ações, a troca de tiros ocorreu entre policiais militares e supostos bandidos. Os casos exemplificam o avanço da criminalidade, ao mesmo tempo em que o governo de Pernambuco atrasa a divulgação do detalhamento da política do Juntos pela Segurança.
No sábado (18), dois tiroteios foram registrados. No primeiro, três homens foram mortos após supostamente trocarem tiros com policiais militares na comunidade de Salinas, em Porto de Galinhas, na cidade de Ipojuca. A PM alegou que os homens eram suspeitos de integrar uma facção especializada no tráfico de drogas.
O segundo tiroteio ocorreu no bairro do Totó, na Zona Oeste do Recife. Testemunhas contaram que as pessoas estavam bebendo na calçada de um bar quando houve um desentendimento e troca de tiros. Seis homens ficaram feridos e foram levados para o Hospital Otávio de Freitas. Um deles, de 25 anos, morreu.
Um sargento da Aeronáutica também foi baleado. Com ele, policiais apreenderam um revólver calibre 357, com munições e um carregador de pistola 9mm.
ZONA NORTE DO RECIFE
Na noite da sexta-feira (17), a troca de tiros ocorreu no bairro de Casa Amarela, na Zona Norte do Recife. De acordo com a versão da Polícia Militar, uma equipe da Companhia Independente de Policiamento com Cães (CIPCães) recebeu a denúncia de um veículo que estava realizando direção perigosa no bairro do Vasco da Gama.
Os militares teriam sido recebidos a tiros ao localizarem o carro em Casa Amarela. Os PMs reagiram e mataram os dois homens. Ainda de acordo com a versão oficial, no carro dos suspeitos foram encontrados um pistola calibre .40, três carregadores, munições e cápsulas deflagradas.
Na troca de tiros, uma idosa de 60 anos que passava pelo local foi atingida na perna por uma bala perdida. Ela foi socorrida e encaminhada para a UPA de Nova Descoberta. Um cachorro, também atingido por um tiro, morreu.
De acordo com o coronel Fred Saraiva, diretor adjunto de Planejamento da Polícia Militar, um inquérito policial e um inquérito policial militar estão apurando as circunstâncias da troca de tiros.
"Mas é preciso que se entenda que é um momento difícil. É um momento em que há disparos de arma de fogo. O policial também teme pela vida dele. Mas tudo está sendo apurado. Ao final certamente nós chegaremos ao detalhamento de como tudo aconteceu na dinâmica dos fatos", declarou.
OLINDA
Já na tarde da quinta-feira (16), durante uma ronda do Batalhão Radiopatrulha, na comunidade V8, no Varadouro, em Olinda, cinco homens teriam trocado tiros com policiais militares. A versão oficial é de que os suspeitos teriam iniciado os disparos após perceberem a presença da viatura policial.
Quatro homens ficaram feridos à bala. Eles foram socorridos e encaminhados para o Hospital da Restauração, na área central do Recife, mas três não resistiram. Os nomes e idades dos suspeitos não foram revelados.
De acordo com nota enviada pela assessoria de comunicação da Polícia Militar, quatro armas de fogo foram apreendidas, sendo três revólveres e uma pistola.
Os suspeitos, ainda segundo a nota oficial, também estavam de posse de uma grande quantidade de drogas, sendo dezenas de papelotes de maconha e pedras de crack, além de balança de precisão e uma quantia em dinheiro.
A PM disse, por fim, que um dos suspeitos envolvidos no tiroteio foi preso pelo 1° BPM após o confronto na comunidade V8. Ele foi levado para a sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
MAIS TIROTEIOS NO GRANDE RECIFE EM 2023
Levantamento do Instituto Fogo Cruzado revela que houve aumento de 8% no número de tiroteios na RMR em 2023. Entre janeiro e outubro, houve 1.510 disparos de armas de fogo, com 1.714 baleados. Desse total, 1.231 morreram e 483 ficaram feridos.
No mesmo período do ano passado, o Fogo Cruzado somou 1.404 tiroteios e 1.622 baleados, sendo 1.079 mortos e 543 feridos.
Os números indicam, ainda, que houve aumento de 14% no número de pessoas mortas.
"A violência raramente acontece por razões óbvias, por isso é preciso que o Estado invista em políticas públicas eficazes, pautadas em evidências, pois só conhecendo o problema é que podemos solucioná-lo. Ouvir a população é um grande passo nessa direção, pois é quem mais sofre com os efeitos do aumento da violência", afirmou Ana Maria Franca, coordenadora regional do Instituto Fogo Cruzado.
E CADÊ O PLANO DE SEGURANÇA DE PERNAMBUCO?
Enquanto a criminalidade avança, o governo do Estado ainda não apresentou o detalhamento do novo plano de segurança que vai substituir o Pacto pela Vida.
Em 31 de julho, no Centro de Convenções, a governadora Raquel Lyra lançou a política do Juntos pela Segurança e anunciou uma consulta pública para que toda a sociedade pudesse opinar sobre as ações necessárias para combater a violência.
O Estado prometeu anunciar, até o final de setembro, as novas medidas para reduzir os crimes no Estado. Mas, até agora, isso não ocorreu - aumentando as críticas dos cidadãos e dos políticos da oposição.
De concreto, por enquanto, o governo estadual entregou novas viaturas para as polícias Civil e Militar. Também lançou editais para concurso da PM e do Corpo de Bombeiros. Em breve, ainda serão lançadas as seleções para preencher vagas da Civil e da Polícia Científica.
Em artigo publicado no JC, nesse domingo (19), José Maria Nóbrega, que é doutor em ciência política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), cobrou um plano de segurança para o Estado.
"O que o governo está fazendo de fato para controlar este tipo de crime que vitima principalmente os mais pobres? Absolutamente, nada. Não existe, de fato, plano de segurança pública em Pernambuco. O plano de segurança pública, que substituiu o Pacto Pela Vida, não tem nem meta de redução de homicídios", afirmou o professor universitário, que também é coordenador do Núcleo de Estudos da Violência, da Criminalidade e da Qualidade Democrática (NEVCrim) da Universidade Federal de Campina Grande.
MÉDIA DE MORTES VIOLENTAS CRESCEU
A média diária de assassinatos em Pernambuco, em 2023, é a maior dos últimos dois anos.
Em 2021, a média foi de 9,24 mortes violentas. No ano seguinte, o número subiu para 9,39. Agora, está em 9,96 (levando-se em consideração os meses de janeiro a setembro).
Em 68% dos crimes registrados em 2023, as vítimas tinham envolvimento com alguma atividade criminal.
De janeiro a outubro, 2.994 mortes violentas foram contabilizadas em Pernambuco. No mesmo período de 2022, foram 2.839. O aumento, até agora, é de 5,45%.
No Pacto pela Vida, a promessa era de redução anual de 12% nos homicídios. No Juntos pela Segurança, porém, o governo estadual ainda não divulgou qual meta será adotada.