O primeiro dia de júri popular do crime que ficou conhecido como a "Chacina de Poção" foi marcado pela ouvida de testemunhas e pelo interrogatório do réu. O julgamento, iniciado nesta segunda-feira (26), está acontecendo na 4ª Vara do Tribunal do Júri da Capital, no Fórum Thomaz de Aquino, no Recife.
O crime ocorreu no município de Poção, no Agreste de Pernambuco, em fevereiro de 2015. Na ocasião, segundo a denúncia, o réu Wellington Silvestre dos Santos teria sido um dos criminosos que matou três conselheiros tutelares: Carmem Lúcia da Silva, 38 anos, José Daniel Farias Monteiro, 31, e Lindenberg Nóbrega de Vasconcelos, 54.
Ele também é acusado pela morte de Ana Rita Venâncio, avó materna da criança de 3 anos, que era alvo de disputa com a avó paterna (que seria autora intelectual do crime).
Foram ouvidos pelo juiz Abner Apolinário, que preside o júri, o delegado Erick Lessa, que comandou as investigações, e o réu, que participou por videoconferência, já que ele está preso na Paraíba desde 2016. Em boa parte do interrogatório, o réu preferiu ficar em silêncio.
A acusação acredita que existam provas suficientes para que o acusado seja condenado pelos quatro homicídios qualificados pela emboscada, mediante pagamento e com característica de grupo de extermínio. "Estamos pedindo a condenação do quádruplo, ou seja, dos homicídios das quatro vítimas", enfatizou a promotora Themes Costa, em entrevista à TV Jornal.
"Foram apresentadas provas robustas da execução do crime pelo Wellington, conhecido como 'chave de cadeia', que é um assassino contumaz. E, embora ele tenha sofrido várias acusações de homicídios no interior, foi absolvido em alguns plenários do tribunal. Porém, desta vez, o Ministério Público tem a expectativa, até mesmo pela demonstração das provas de hoje para os jurados da capital, que ele seja condenado por esse bárbaro crime que vitimou três defensores dos direitos humanos e uma família despedaçada que é a família da criança Ana Cláudia", comentou o promotor Daniel Ataíde.
Busca por justiça
A família do conselheiro tutelar José Daniel Farias Monteiro compareceu ao plenário para acompanhar o júri e clama por justiça. "Esperamos que ele seja punido e que pegue um bom tempo de cadeia. É o que a gente quer e o que ele merece, pois esse bandido destruiu a vida da minha família e a de outras famílias também", disse Antônio Barbosa, pai do conselheiro.
Já o filho de Lindenberg Nóbrega de Vasconcelos espera que, com a condenação do responsável pela chacina, ele possa tirar esse fardo que carrega há anos de sofrimento.
"Há nove anos que buscamos justiça. Desde o início de todo esse processo que minha família vem acompanhando e a gente só vai parar quando realmente a justiça for feita. Tem sido um fardo muito grande nesses 9 anos... Espero que quando todos forem julgados e condenados esse fardo seja mais leve e, enfim, possamos dar o descanso eterno a todos que foram executados em Poção", disse Lindenberg Filho.
O julgamento terá continuidade nesta terça-feira (27), a partir das 9h, quando terá o momento da fala das partes - Ministério Público e defesa -, podendo ter réplica e tréplica. E, logo após, será proferida a decisão do júri e a leitura da sentença.
Segundo o Tribunal de Justiça de Pernambuco, outros sete suspeitos de participação no crime ainda serão julgados, entretanto, ainda não há data prevista para isso ocorrer.
O caso
O crime ocorreu em 6 de fevereiro de 2015, no Sítio Cafundó, localizado na zona rural da cidade de Poção, no Agreste de Pernambuco. Neste dia, a criança de três anos - na época - estava na casa da avó materna, no município de Arcoverde, no Serão do Estado, e iria para a casa dos avós maternos.
A avó materna da criança, Ana Rita Venâncio, de 62 anos, foi buscá-la juntamente com os conselheiros tutelares Lindenberg Nóbrega de Vasconcelos, Carmem Lúcia da Silva e José Daniel Farias Monteiro. Porém, na volta para o Agreste, todos foram assassinatos - com exceção da criança.
De acordo com investigação da Polícia Civil, a avó paterna da menina de três anos, Bernadete de Lourdes Brito Siqueira Rocha, é a suspeita de ser a mandante do crime e de ter contratado o grupo de extermínio, pois tinha a intenção de ficar com a guarda da neta.
A tutela oficial da criança era do pai, José Cláudio de Britto Siqueira Filho, que não está entre os denunciados pelo crime por falta de provas de sua participação.