VIOLÊNCIA

Quem era Gean Carlos, universitário morto em assalto a ônibus no Recife

Familiares cobraram justiça após a morte do rapaz de 20 anos, na noite da última quarta-feira (1º). "Meu filho fazia faculdade, trabalhava", lamentou a mãe

Imagem do autor
Cadastrado por

Raphael Guerra

Publicado em 03/05/2024 às 11:52 | Atualizado em 03/05/2024 às 12:13

A violência urbana - cada vez mais presente - tirou a vida de mais um estudante cheio de sonhos. Gean Carlos Lopes Júnior, de 20 anos, entrou para as estatísticas após ser esfaqueado durante um assalto a ônibus BRT no bairro de Santo Antônio, área central do Recife, na noite da quarta-feira (1º). Atônitas, mãe e avó da vítima cobraram justiça e mais segurança. 

"Meu filho fazia faculdade, estava trabalhando. Quero justiça. Sei que não vai trazer ele de volta, mas quero o assassino preso. Governadora (Raquel Lyra), não deixe que outra mãe perca seu filho. Bote policiamento na rua", disse Sinara Patrícia da Silva, mãe do universitário, em entrevista à TV Jornal

Gean deixou a casa da família, em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, para morar na capital. Estudava ciências do consumo da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), era militante da União da Juventude Socialista e colaborador do Circuito Universitário de Cultura e Arte de Pernambuco (CUCA-PE). 

Para se sustentar no Recife, Gean também trabalhava como operador de caixa em uma casa de show. Parentes disseram que o principal sonho era garantir a estabilidade financeira dele e da família.

Pouco antes de ser morto no assalto, ele chegou a enviar uma mensagem ao namorado informando que estava indo para casa. "Sempre nas minhas orações eu pedia a Deus para proteger ele", lamentou a mãe. 

A abordagem criminosa aconteceu no cruzamento das avenidas Guararapes e Dantas Barreto. O estudante foi esfaqueado no abdômen e na perna. 

A Polícia Civil disse que o caso está sendo investigado. Até agora, o suspeito não foi preso. "As diligências foram iniciadas e foi instaurado inquérito policial para apurar todos os fatos e identificar a autoria", pontuou. 

FAMÍLIA QUESTIONA SOCORRO

A aposentada Maria Aparecida dos Santos Melo, avó de Gean, questionou a demora pelo socorro dele.

"O sentimento é de revolta. Porque ele era um estudante, trabalhava honestamente, e foi assassinado em um coletivo. Não tinha polícia, não chamaram o Samu. Tiraram meu neto do ônibus, deixaram no chão. Ele ficou como um indigente, como um cachorro. Cadê a polícia? Cadê a justiça nessa cidade", disse.

"Meu neto morreu por falta de socorro. Se tivessem socorrido ele antes, talvez ele estivesse vivo", completou. 

A Polícia Militar informou que acionada e fez o socorro da vítima, que faleceu a caminho do Hospital da Restauração, no bairro do Derby.

O enterro do corpo do estudante será neste sábado (4) em Caruaru. 

ENTIDADES LAMENTAM MORTE

Em nota publicada nas redes sociais, as entidades União dos Estudantes de Pernambuco (UEP), União Nacional dos Estudantes (UNE) e CUCA-PE lamentaram a morte de Gean. 

"Gean foi um importante lutador do movimento estudantil pernambucano e é mais uma vítima do desmonte da política de segurança pública do Governo de Pernambuco operada nos últimos anos e intensificada pela gestão Raquel Lyra. Os alvos desse descaso são os inimigos preferenciais dos desmandos da Polícia Militar: os jovens negros das periferias das nossas cidades", afirmou trecho do texto. 

"Basta de descaso! A juventude quer viver! Em memória de Gean e de sua luta, nos solidarizamos com a sua família e amigos e exigimos a convocação imediata da Conferência Estadual de Segurança Pública. Por uma política de segurança cidadã com foco na prevenção social e no respeito aos direitos humanos! Quantos mais tem que morrer para essa guerra acabar? Gean, presente! Agora e sempre!", disse outro trecho. 

"MORTE BANAL E BRUTAL"

A direção do curso de ciências do consumo da UFRPE também divulgou nota. "Gean nos deixou querendo ficar, sabemos disso porque presenciamos o quanto de vida ele ainda tinha pela frente. Foi vítima da violência urbana, sua morte que nos devasta foi banal e brutal, mas que não seja em vão. Não pode ser normalizado vivermos o luto por um jovem de 20 anos", afirmou um trecho. 

ASSALTOS A ÔNIBUS CRESCERAM NO GRANDE RECIFE

Os assaltos a ônibus na Região Metropolitana do Recife (RMR) cresceram 32,8% no ano de 2023, segundo estatísticas da Secretaria de Defesa Social (SDS). Ao todo, 595 ocorrências foram registradas pela polícia. Em 2022, foram 448 casos.

Do total de assaltos registrados no ano passado, 58,15% ocorreram na capital pernambucana. 

Já no primeiro trimestre deste ano, 99 queixas de assaltos a ônibus foram contabilizadas na RMR. O número referente ao mês de abril ainda será divulgado. 

Tags

Autor