CRIMINALIDADE E MISTÉRIO

Descaso: Motos apreendidas são furtadas de delegacia no Grande Recife

Menos de 24 horas após a Polícia Militar apreender quatro veículos e levá-los para a unidade policial, dois sumiram. Caso está sendo investigado pela Polícia Civil

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Raphael Guerra

Publicado em 15/05/2024 às 13:03 | Atualizado em 15/05/2024 às 13:17
Notícia

Até parece um filme de comédia de gosto duvidoso, mas a história é real. Quatro motos que haviam sido furtadas foram apreendidas pela Polícia Militar e entregues à Delegacia de Camaragibe, no Grande Recife. Mas duas delas sumiram, em menos de 24 horas, enquanto ainda estavam sob a guarda do Estado. 

Uma das vítimas, sob a condição de anonimato, conversou com a coluna Segurança. A mulher contou que a moto dela havia sido furtada no Recife, na madrugada do dia 19 de abril. No dia seguinte, à noite, ela recebeu um telefonema de policiais militares informando que o veículo havia sido encontrado com mais outros três em Camaragibe e que seriam levados para a delegacia do município, onde ela poderia fazer o resgate. 

"No dia seguinte, no domingo, entrei em contato com a delegacia. O policial de plantão atendeu e pediu para que eu fosse na segunda-feira, mas avisou que não estava vendo a moto. Quando cheguei na delegacia, realmente a moto não estava mais lá. Além da minha, outra também havia sumido", relatou.

A vítima disse que chamou a atenção o fato de haver cerca de 200 motos apreendidas no pátio da delegacia, o que demonstra o tamanho do abandono e falta de segurança no local. Sequer há câmera na área externa da unidade policial para monitorar as apreensões.

"Os policiais que apreenderam as motos e levaram para a delegacia fizeram um boletim de ocorrência que comprova que elas foram entregues. Infelizmente, tive um bem furtado sob a guarda da Polícia Civil. Fui furtada duas vezes", disse. 

OUTRO ERRO 

Dias após o ocorrido, a vítima foi surpreendida com um telefonema do seguro. "Ligaram para mim dizendo que souberam que a minha moto havia sido recuperada. Precisei ir até a Delegacia de Repressão aos Roubos e Furtos de Veículos. Foi quando descobri que houve um erro", afirmou.

"Tiraram a restrição de roubo e furto da minha moto, enquanto mantiveram a restrição para a moto de outro cidadão que já havia recebido o seu bem. Ele poderia, inclusive, ter sido parado numa blitz por causa do erro", completou.   

INVESTIGAÇÃO

Procurada pela coluna, a Polícia Civil de Pernambuco se pronunciou por meio de nota oficial. No texto, informou que "está investigando o caso, por meio da delegacia de Camaragibe". E que um inquérito policial foi instaurado "para apurar todos os fatos".

O caso foi comunicado à Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS), que também deve investigar a responsabilidade administrativa dos policiais civis. 

A coluna apurou que, entre 2023 e começo de 2024, ao menos outras quatro motos também chegaram a ser furtadas do pátio da delegacia. A informação foi questionada à assessoria da Polícia Civil, que não se posicionou sobre o assunto. 

DESCASO NAS DELEGACIAS DA POLÍCIA CIVIL

Os furtos de motos são só mais um exemplo do tamanho do descaso, pouca segurança e falta de efetivo policial - principalmente à noite e nos fins de semana - nas delegacias de Pernambuco. Recentemente, armas de fogo sumiram da Delegacia de Boa Viagem, na Zona Sul do Recife

O furto está sendo apurado pelo Grupo de Operações Especiais (GOE). A data da descoberta e o número de armas de fogo que foram furtadas não foram informados pela assessoria da Polícia Civil, sob o argumento de que o delegado responsável pela investigação não autorizou.

No começo de 2021, a Polícia Civil também descobriu o desvio de mais de 1,1 mil armas de um depósito da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), no bairro de São José, área central do Recife. Por uma falha grave de segurança, no interior do setor de armaria não havia câmeras. Mas havia uma do lado de fora, apontada para a porta de entrada. Foi descoberto, no entanto, que o equipamento não funcionava 24 horas.

A investigação apontou que as armas e mais de 3 mil munições foram desviadas e vendidas para facções criminosas, por valores que variavam de R$ 6,3 mil a 6,5 mil, cada uma. Já as submetralhadoras custavam R$ 22 mil nesse comércio ilegal. Cinco policiais civis foram identificados como participantes do esquema.

O processo criminal conta 19 pessoas (um policial faleceu dias após ser preso) e segue em andamento no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), sem prazo para a sentença.

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