Policiais militares vão usar câmeras corporais nas ruas do Recife
Um ano após chacina em Camaragibe, Polícia Militar explica ações adotadas para reduzir mortes durante abordagens realizadas no Estado
Protocolos revistos, capacitação com foco nos direitos humanos e mais integração com o Ministério Público. Um ano após a sequência de assassinatos que ficou conhecida nacionalmente como a chacina de Camaragibe, a Polícia Militar de Pernambuco afirmou que novas ações foram adotadas para evitar episódios semelhantes.
Uma delas é a ampliação do uso das câmeras corporais, também conhecidas como bodycams. Atualmente, no Estado, apenas o efetivo do 17º Batalhão (que contempla os municípios de Abreu e Lima e Paulista) usa os equipamentos. Mas a promessa é de ampliar a tecnologia para outros batalhões - sobretudo os do Grande Recife, onde há mais mortes decorrentes de intervenções policiais.
"Sabemos da importância das câmeras corporais para garantir a transparência das ocorrências, por isso queremos expandir para toda a corporação. Está sendo criado um cronograma e vamos trazer para a capital o mais rápido possível", disse o coronel José Mário Canel, diretor adjunto de Planejamento Operacional da Polícia Militar.
A PM estadual conta com 26 batalhões (quatro na capital), além de 14 unidades especializadas.
"Já tivemos uma experiência exitosa no Galo da Madrugada, quando policiais militares que estavam escalados para o bloco usaram as câmeras corporais", pontuou.
O uso de câmeras corporais tem sido incentivado - e cobrado - pela atual gestão do Ministério da Justiça e Segurança Pública em todo o Brasil. Há uma promessa, inclusive, de repasse de recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública para que os estados ampliem o uso da tecnologia para garantir mais transparência às ocorrências e reduzir mortes.
NOVOS PROTOCOLOS PARA AÇÕES POLICIAIS
Pernambuco fechou o ano de 2023 com 121 mortes decorrentes de intervenções das forças de segurança. Houve aumento de 31,5% em relação ao ano anterior, quando 92 óbitos foram somados. Os dados são da Secretaria de Defesa Social (SDS).
A troca de comandante-geral da PM, em janeiro deste ano, e a cobrança rígida do Ministério Público (inclusive com investigações que resultaram nas prisões preventivas de militares) foram fundamentais para a implementação de novos protocolos para redução da letalidade policial.
Ao assumir a liderança, o coronel Ivanildo Torres autorizou a criação de um grupo de trabalho com coronéis da Polícia Militar e membros do Ministério Público para a reestruturação de protocolos adotados nos casos de intervenções policiais. Mensalmente ocorre reunião para reavaliação das estratégias.
"Estamos concluindo um POP, Protocolo Operacional Padrão, com detalhamento de como deve ser feito o uso progressivo da força, com controle das viaturas e até com regras para acionamento do Ministério Público, quando houver homicídio consumado ou tentado", disse o coronel Canel.
"Além disso, já realizamos a capacitação de 487 policiais militares, inclusive de grupos táticos, voltada para os direitos humanos e para gerenciamento de crises. Começamos pelo 20º Batalhão", completou.
Esse batalhão é o responsável pelo policiamento no município de Camaragibe, onde ocorreu a chacina de cinco familiares do vigilante Alex da Silva Barbosa, 33, após ele matar a tiros dois policiais militares, no bairro de Tabatinga, na noite de 14 de setembro do ano passado.
Nas primeiras horas da caçada ao vigilante, três irmãos dele foram mortos a tiros. A investigação apontou que policiais militares foram os autores e que agiram por vingança pela perda de dois amigos de farda. Doze viraram réus, incluindo o então comandante do batalhão, Fábio Roberto Rufino da Silva. Ele nega as acusações de ter comandado a chacina.
Além dos irmãos de Alex, a mãe e a esposa foram mortas. Essa investigação ainda está em andamento. O vigilante acabou morto a tiros, no dia seguinte, em troca de tiros com PMs.
"OCORRÊNCIAS ESTÃO SENDO ACOMPANHADAS"
O diretor adjunto de Planejamento Operacional da PM ressaltou que as intervenções policiais mais graves estão sendo acompanhadas. Neste ano, segundo ele, houve queda de 58% no número de mortes decorrentes de ações policiais - comparando com o ano anterior.
"Houve o fortalecimento das inteligência policial para assessorar os policiais que estão liderando as crises. O uso de drones nas ocorrências também tem reduzido a necessidade de confrontos diretos", destacou.
O coronel pontuou ainda que foi criado um núcleo de análise criminal na Polícia Militar para mudar a estratégia de combate à violência.
"Redefinimos as áreas mais críticas em relação à criminalidade, com ampliação das ações de prevenção nesses locais."