'Polícia sabe quem matou meu filho', diz pai de Darik, após MPPE pedir arquivamento de inquérito

Inquérito apontou que tiros que mataram atleta do Sport foram disparados pela Polícia Militar, mas não identificou o autor. Família cobra respostas

Publicado em 03/12/2024 às 11:50 | Atualizado em 03/12/2024 às 14:35
Google News

Surpreendido com a decisão do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) de pedir o arquivamento das investigações da morte de Darik Sampaio da Silva, de 13 anos, o pai do adolescente declarou que vai continuar lutando por respostas sobre o caso.

"A polícia sabe quem é o autor dos tiros, mas não quis informar. Estão 'passando pano'. Não posso aceitar a impunidade. Pedi para o meu advogado saber mais detalhes para pensarmos nos próximos passos. A comunidade está revoltada e quer fazer protesto", disse Davidson Sampaio.

Conforme revelado mais cedo pela coluna Segurança, o inquérito da Polícia Civil apontou que Darik foi morto por tiros disparados por uma arma de fogo usada pela Polícia Militar de Pernambuco, durante uma perseguição a suspeitos no bairro do Jordão, Zona Sul do Recife, em 16 de março deste ano.

Segundo o inquérito, não foi possível identificar o autor dos disparos, sobretudo porque os policiais envolvidos na perseguição se recusaram a participar da reprodução simulada. Por isso, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) solicitou o arquivamento à Justiça. 

"Em nenhum momento a família foi chamada quando a investigação foi encerrada. Meu advogado foi até o delegado, mas ele só disse que não estava mais com ele o inquérito", lamentou o pai do adolescente, que era atleta da equipe de futsal sub-14 do Sport Club do Recife. 

A assessoria do Sport foi procurada pela reportagem, mas não quis se posicionar sobre o arquivamento da investigação.

CRIME E INVESTIGAÇÃO

Darik estava conversando com duas amigas, na calçada da casa de uma delas, quando houve uma perseguição policial na Rua Professora Arcelina Câmara. As garotas conseguiram entrar na residência, mas ele foi baleado na perna e no quadril. 

No parecer à Justiça, o promotor Ademilton Carvalho Leitão apontou que cinco policiais militares, em duas viaturas, participaram da perseguição a suspeitos de roubar um carro.

Leonardo de Lima Magalhães e Paulo Roberto da Silva Luiz Júnior, que estavam em um veículo Tracker, acabaram presos. O primeiro, inclusive, foi atingido por dois tiros e sobreviveu. Outros suspeitos que estavam num Tiggo não foram localizados.

No interior do Tracker, foram encontradas uma espingarda calibre 12 e um revólver calibre 38, municiado com cinco munições intactas e duas deflagradas.

Em depoimento, quatro policiais militares assumiram que dispararam tiros durante a abordagem. Um deles afirmou que usou uma submetralhadora Taurus, enquanto os demais disseram ter usado as pistolas .40.

Já os dois suspeitos presos contaram à Polícia Civil que não dispararam tiros durante a abordagem - mesma versão informada por testemunhas desde o dia da morte de Darik.

Na época, porém, a assessoria de comunicação da Polícia Militar de Pernambuco divulgou à imprensa uma nota oficial afirmando que "o acompanhamento (perseguição) culminou em uma rua sem saída no bairro do Jordão, no Recife, onde os suspeitos colidiram os veículos, desembarcaram e começaram a disparar contra os policiais, que reagiram".

ACERVO PESSOAL
Darik Sampaio da Silva, 13, era atleta da equipe de futsal sub-14 do Sport Club do Recife - ACERVO PESSOAL

No parecer à Justiça, o MPPE reforçou que, no local do crime, foram encontrados nove projéteis compatíveis com calibre .40, "utilizados pelas armas dos policiais militares".

"Registre-se que as armas encontradas no interior do veículo dos indivíduos que estavam sendo perseguidos foram uma espingarda calibre 12 e um revólver calibre 38, não sendo encontrado nenhum projétil desses calibres no local", destacou o promotor.

O MPPE analisou o resultado e, na semana passada, apresentou parecer à Justiça opinando pelo arquivamento - por entender que não havia provas suficientes para denunciar um dos policiais militares pelo crime.  

"Entende o Ministério Público, que todos os esforços e diligências possíveis foram envidados pela Polícia Civil para elucidar a autoria do crime, não vislumbrando outras medidas a serem tomadas", argumentou o promotor. 

Tags

Autor