Nova Descoberta, onde ocorreu chacina, tem forte tráfico de drogas e jovens recrutados para o crime
Bairro localizado na Zona Norte do Recife teve ao menos 19 tiroteios no ano passado, com 18 mortos e seis feridos, segundo Instituto Fogo Cruzado

Quem mora no bairro de Nova Descoberta, na Zona Norte do Recife, não se surpreendeu com a chacina que deixou sete mortos no último sábado (11). A criminalidade e a disputa de territórios entre grupos rivais, segundo moradores, é intensa e resulta, ao longo do ano, em vidas perdidas.
E as mortes ocorrem, sobretudo, entre os mais jovens, que são recrutados e, em alguns casos, até forçados a entrarem para o mundo do crime. Uma realidade que não está restrita a esse bairro da Região Metropolitana do Recife (RMR).
Levantamento do Instituto Fogo Cruzado, que estuda a violência armada, identificou ao menos 19 tiroteios em Nova Descoberta no ano passado. Ao todo, 18 pessoas morreram e seis ficaram feridas à bala.
Em 2023, o número foi ainda maior: 32 tiroteios, com 29 mortos e sete feridos. Naquele ano, o bairro foi o sexto com maior número de ocorrências em toda a RMR.
A redução, no ano passado, não significa necessariamente que a criminalidade caiu, mas pode ter sido sinal de um período de "paz" na disputa do tráfico.
Considerando toda série histórica do Fogo Cruzado, Nova Descoberta está em 9º lugar no ranking entre os bairros com mais tiroteios. Desde 1º de abril de 2018, foram 144 registros, 120 mortos e 53 feridos.
Moradores ouvidos pela coluna Segurança, na condição de anonimato, reforçaram que o tráfico de drogas é intenso no bairro, mas que praticamente não é combatido pela polícia. Contaram ainda que, em geral, a maioria das pessoas assassinadas em Nova Descoberta tinha alguma relação com entorpecentes - ou vendiam ou eram usuários com dívidas.
Em meio ao domínio do território, traficantes ainda estariam obrigando jovens a ingressarem no crime, vendendo drogas, sob ameaças de morte.
Ao mesmo tempo, moradores reclamaram da falta de ações efetivas da polícia para acabar com as bocas de fumo e impedir o intenso tráfico no bairro.
A Polícia Civil de Pernambuco foi procurada, nesta segunda-feira (13), para falar sobre a criminalidade e o tráfico de drogas em Nova Descoberta, mas a assessoria argumentou que não vai falar sobre o assunto por risco ao andamento da investigação.
INVESTIGAÇÕES SOBRE A CHACINA EM NOVA DESCOBERTA
Em coletiva de imprensa, no domingo (12), o delegado Ivaldo Pereira, titular da Diretoria Integrada Especializada da Polícia Civil, declarou que os criminosos chegaram em dois veículos, entraram na residência e atiraram em todos os homens que estavam no local.
As sete vítimas estavam consumindo bebidas alcoólicas. A perícia também constatou o consumo de drogas no local, incluindo uma droga conhecida como "pó virado", mistura de crack com ácido bórico, que estava distribuído em pratos.
"Nem todos eram alvos. Inclusive, pessoas que seriam alvos teriam saído anteriormente da casa, talvez o dano fosse até maior", afirmou Pereira.
A principal linha de investigação, segundo a Polícia Civil, é que de a chacina tenha relação com a disputa pelo domínio do tráfico de drogas em Nova Descoberta.
De acordo com Ivaldo Pereira, três das sete vítimas são da mesma família, incluindo pai e filho.
Ele afirmou que não é possível confirmar se todos os envolvidos eram usuários de drogas ou tinham ligação com tráfico, mas destacou que o local onde foram mortos era ponto de encontro para consumo de bebidas e drogas.
Das sete vítimas, duas possuíam antecedentes criminais, sendo uma por estupro e uma por homicídio.
Confira os nomes das sete vítimas:
Valdeci Sebastião da Silva, de 51 anos, dono da casa onde ocorreu o crime;
Cláudio José da Silva, de 43 anos, irmão de Valdeci;
Luiz Fernando da Silva Barbosa, de 25 anos, filho de Cláudio;
Cleiton José Bento, de 41 anos;
José Carlos Gomes Bezerra, de 37 anos;
Luiz Herculano Alves Filho, de 40 anos;
Silvano José da Silva, de 36 anos.
MORTES CRESCERAM NO RECIFE EM 2024
Recife fechou o ano de 2024 com aumento de 4,8% nas mortes violentas intencionais, segundo dados oficiais da Secretaria de Defesa Social (SDS). Ao todo, 626 pessoas foram assassinadas. Em 2023, foram 597 vidas perdidas.
Entre as principais motivações dos crimes está justamente a guerra entre grupos criminosos especializados no tráfico de drogas e armas.
O resultado demonstra que as forças de segurança precisam criar novas estratégias para combater as facções que agem na capital pernambucana, com o objetivo de barrar o avanço da criminalidade e reduzir o número de homicídios.
A meta do Juntos pela Segurança é diminuir em 30% as mortes até o final de 2026, tendo como base a quantidade de vidas perdidas em 2022.