CBSurf acusada de má gestão

Alexandre Gondim
Publicado em 19/03/2020 às 17:23
Surfistas protestam contra a permanência da diretoria da CBSurf durante o Oi Hang Loose Pro Contest 2020 em Fernando de Noronha. Foto: ALEXANDRE GONDIM


A Confederação Brasileira de Surf vem sendo bombardeada com denúncias de má gestão administrativa e financeira por parte de seus surfistas confederados e de várias Federações que a compõe.

Agora, com a paralisação do surfe competitivo em escala mundial, diante das medidas adotadas para conter a disseminação do coronavírus, a preocupação com o destino do surfe nacional aumenta. A pergunta que vêm da comunidade do surfe é: "O que a CBSurf fará agora?"

A entidade é presidida há mais de 10 anos por Adalvo Argolo, o qual vem sendo instado por surfistas, empresários do esporte, patrocinadores, influenciadores digitais, shapers, imprensa e veículos de comunicação especializados a dar explicações sobre a gestão que vem exercendo.

No primeiro evento do circuito da divisão de acesso, o Qualifying Seris (QS), em Fernando de Noronha, no mês de fevereiro último, a inquietação da categoria foi manifestada na Praia da Cacimba do Padre, com um protesto de pessoas vestidas com camisas amarelas, pedindo o afastamento definitivo do presidente Argolo, que também está à frente da organização do surfe olímpico.

Ícones do surfe nacional, como Raoni Monteiro, Picuruta Salazar, Marcelo Trequinho, Filipe Toledo e Ítalo Ferreira, opinaram em suas redes sociais, destacando a má gestão e pedindo transparência nas contas da entidade.

É o que também pedem as Federações do esporte dos Estados de Alagoas (Fessea), Pernambuco (FPS), Rio de Janeiro, Espírito Santo (Fesurf), Rio Grande do Sul, Sergipe e Santa Catarina (Fecasurf), além de varias Associações relevantes e tradicionais, como a de Saquarema, que reforçam o coro dos surfistas, pretendendo a mudança da Diretoria da Confederação. Também toma corpo a intenção da Federação de São Paulo de fundar uma outra entidade representativa.

Adalvo Argolo ingressou com medida no Tribunal de Justiça da Bahia para aprovar as contas da Confederação, visando à continuidade do repasse de verbas do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), além de pedir o afastamento do Vice-Presidente, Guilherme Pollastri, que, após ter conhecimento das irregularidades, foi a juízo enfrentá-lo.

Em vez de demonstrar a todas as Federações quais os valores recebidos e onde foram aplicados, com a transparência exigida pelos seus filiados, preferiu tentar afastar o Vice-Presidente e aprovar as contas judicialmente.

Judicialmente vem se debatendo as posições das Federações dos Estados do Pará, Ceará, Paraíba e Bahia a favor da CBSurf que assinaram a prestação de contas desta entidade em troca de apoio, sobretudo para realização dos eventos em seus Estados. Alega-se a ausência de consulta e concordância de seus filiados, além de se discutir que a última Assembleia Geral da entidade não foi considerada oficial e válida.

Acerca disso, Guilherme Pollastri falou: "Não capitaneio movimento midiático algum contra a CBSurf. Apenas contesto a gestão temerária e centralizadora que vem sendo exercida pelo Adalvo Argolo à frente da entidade de maior importância para o nosso esporte e me defendo de eventuais responsabilidades decorrentes dos atos ilegais dessa gestão, como Vice-Presidente da entidade, por não compactuar com essa administração. Houve sim uma determinação judicial do Tribunal de Justiça da Bahia cancelando a Assembleia Geral Ordinária (AGO) da Confederação Brasileira de Surf, e, consequentemente, de todos os seus atos. Foram deliberados aprovação do balanço patrimonial, demonstrações financeiras e demais relatórios das contas de 2018, 2017 e 2016, o meu afastamento como vice-presidente presidente da entidade e a adequação do Estatuto em conformidade com as determinações do COB."

Complementa Pollastri: "As maiores criticas à sua gestão partem de toda a comunidade do surfe nacional, não só de mim. É uma gestão temerária de conhecimento de todos, com má gestão de recursos e contrária ao esporte, visando a beneficiar interesses próprios e de poucos aliados, em detrimento dos atletas vinculados à CBSurf, chegando o Sr. Adalvo a ponto de locar imóvel pertencente à sua esposa para a Confederação, apropriando-se de recursos da entidade, e, de outro lado, decidindo arbitrariamente promover campeonato nacional de surfe fechado, causando a ira e frustração dos surfistas profissionais e amadores do país, o que provocou o surgimento de diversos movimentos contra a sua gestão. São diversas as declarações públicas de federações filiadas à CBSurf, pedindo a saída dele da presidência da CBSurf. Se há alguém causando prejuízo à imagem do esporte e de seus organizadores em âmbito nacional é ele. Ou será que todos estão equivocados e somente o Adalvo Argolo certo? Fica essa indagação para todos!".

Foi organizado um abaixo-assinado de surfistas profissionais, pelo movimento Surfe Livre Brasil, pedindo o afastamento de Argolo da Presidência, com a seguinte exposição de motivos:

"Na última década a Confederação Brasileira de Surf foi assumida pela atual administração que se perpetuou na gestão do surfe brasileiro, principalmente de base, que vem sofrendo com falta de apoio para eventos, organização e, principalmente, equipes enviadas para eventos panamericanos e internacionais, sem as mínimas condições para estarem lá. Isto influenciou diretamente nos péssimos resultados dos atletas brasileiros dentro das competições amadoras. Logo após a entidade ser anexada ao Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e ter recebido uma expressiva verba destinada a investimentos no esporte, ela destinou esta verba para despesas de viagens, entre outros luxos, e salários dos responsáveis pela CBS, enquanto os competidores são obrigados a pagarem inscrições, filiações e, o pior de tudo, acabaram não tendo direito a receberem também verbas necessárias para representarem seu país, como as passagens. Outro fato que causou revolta dos profissionais do surfe foi a decisão, sem aviso prévio, divulgada no início de ano, de 2020, em manter apenas 22 surfistas profissionais, mais alguns convidados, para disputarem o Circuito Brasileiro de Surf Profissional. Queremos renovação e transparência dentro do surfe nacional".

A petição está disponível no link https://bit.ly/36vSWSa e contém 2.064 assinaturas, até o momento do fechamento desta matéria.

Há outra petição virtual, divulgada pelo movimento "Unidos Pelo Surf Brasileiro", subscrita por nomes como Ricardo Bocão, Caio Ibelli, Daniel Friedman, Tita Tavares, Paulo Zulu e Phil Rajzma. O documento já conta com mais de 2 mil assinaturas e também pede o fim da atual gestão da CBS. A petição está disponível no link https://bit.ly/2OjQ1pr

Esta coluna está aberta ao posicionamento oficial da CBSurf.

Continuarei atento e cobrando as boas práticas no surfe, individualmente exercida por cada praticante e principalmente das entidades que organizam o esporte, as quais devem primar pela integridade e transparência em todos os seus atos.

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