“Tô tão down/acordei tarde, comi meu cereal/tentei malhar o que foi possível/perdida num programa de TV/olhando não sei bem o quê/todos meus amigos invisíveis”. Versos de How I’m Feeling Now, terceiro discos da cantora inglesa, Charli XCX, um disco histórico. É o primeiro de um pop star internacional totalmente feito dentro das possibilidades permitidas pela endemia.
How I’m Feeling Now foi concebido numa casa onde Charli XCX, o namorado e dois amigos praticam o isolamento social. Literalmente o ócio criativo. Com as facilidades de se montar um estúdio com o mínimo de equipamento, ela tocou o projeto trocando ideia com o produtor. A maioria das canções ela já antecipara em lives, bate-papos online
Houve críticos entusiasmados que apontaram que How I’m Feeling é o futuro do pop. Até pode ser. O pop hoje é calça de veludo ou bunda de fora, empregando um antiga expressão portuguesa, que a avó lde um amigo costumava dizer. Ou se faz música como Kendrick Lamar, em imersões nos estúdios, ou o feijão com arroz, do bregafunk da periferia, que as bases parecem ser compradas nos camelôs da conde da Boa Vista (se é que não são).
Charli XCX faz um pop que mesmo tendo elementos do mainstream, pródigo em repetições de células, batidas, traz canções mais cativantes, letras interessantes, e ela canta bem. Das poucas da sua geração que tem voz com potenciais. Não vou escrever cereja do bolo, porque considero a cereja a parte degradante do bolo, um pouco feito a cereja no martini do bar de segunda. Mas pérola do bolo é a capa.
A foto em p&b mostra a cantora, o tédio pairando no ambiente, sem se preocupar com roupas, só em se cobrir. Quando se for contar a história da música popular durante estes tristes e estranhos tempos, Charli XCX e seu disco da quarentena certamente obrigatoriamente deverão constar nesse texto. Confiram Charli XCX. Ela vai além das contemporâneas, que passam a impressão de fazem música para faturar com os zilhões de views nas mídias sociais.