Coordenador do Programa de Pós-graduação em Hotelaria e Turismo da Universidade Federal de Pernambuco, o professor Sérgio Leal é o primeiro convidado de uma série que a coluna produzirá para tentar explicar os impactos da covid-19 no turismo e projetar, dentro do possível, as transformações que os diversos segmentos irão enfrentar. Nas próximas semanas, conversaremos também com viajantes e representantes do setor produtivo. Confira os principais tópicos:
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MUDANÇAS ESTRUTURAIS
Além de ser considerada a pior crise pela qual o setor já passou, ainda estamos no meio da pandemia, com restrições de viagens por todo o planeta e orientação de distanciamento social em vários países, o que inviabiliza uma atividade que é caracterizada pela interação social, cultural e pelos deslocamentos humanos.É muito cedo para afirmar quais mudanças estruturais acontecerão.
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O que vem sendo observado e poderá perdurar após a crise é a forma como turistas e prestadores de serviços do setor vem se comunicando. As empresas, sejam de hospedagem, de agenciamento, equipamentos, atrativos, etc., estão buscando estar mais próximas de seus clientes. As redes sociais, que já vinham ganhando bastante espaço no marketing turístico nos últimos anos, passam a ser ainda mais relevantes. Se antes as empresas apresentavam ofertas e promoções pelas redes sociais, hoje fazem lives sobre saúde e bem-estar, temas que não estão diretamente relacionados aos serviços que oferecem, e outros tipos de postagens não tradicionais. Realizam campanhas para desestimular as viagens, o que é exatamente oposto ao que faziam anteriormente.
RELAÇÕES DE TRABALHO
Demissões em massa vêm acontecendo no Brasil e no exterior. Várias empresas não conseguirão se manter no mercado. Mas, aquelas que conseguirem terão que se adaptar a um novo cenário, possivelmente com demandas menores, bem como com menos funcionários. Haverá mudanças nas relações de emprego e com os clientes. A partir desta pandemia, muitas empresas e pessoas perceberão que diversos agentes do turismo serão suprimidos ainda mais e muitos poderão fazer seus trabalhos fora de um ambiente físico comum. Assim, as empresas e os destinos terão que se reinventar. O próprio comportamento dos turistas poderá ser diferente do que o anterior à crise.
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ESTRATÉGIAS
Por se tratar de uma situação jamais vivenciada pela humanidade desde que a atividade turística se consolidou como um dos mais importantes setores da economia mundial, é impossível prever qual será o cenário pós-pandemia. Assim, propor estratégias para depois da crise se torna um exercício de futurologia, já que os impactos econômicos e sociais da pandemia para o turismo ainda não estão claros. As empresas precisam estar atentas aos impactos na sociedade de uma forma mais ampla. É preciso entender qual será o papel do turismo neste “novo mundo” para traçar estratégias.
BONS EXEMPLOS
É impossível prever “quem vai se sair melhor” porque não sabemos ainda a extensão da crise. O que estamos vendo, no mundo todo, é que museus, teatros, bandas, cantores, orquestras, coros e outros representantes do meio artístico foram rápidos nas suas respostas, disponibilizando material digital online, sejam concertos ao vivo ou gravados, visitas virtuais a museus ou outras formas de fornecimento dos seus serviços fora do mundo físico e no meio virtual.
Assim, as experiências dos visitantes neste momento poderão influenciar positivamente o processo de escolha de destinos e atrativos no futuro. Aqueles que estão conseguindo se manter na mente dos clientes de forma mais ativa, proporcionando experiências positivas, até certo ponto substitutas dos seus serviços, poderão ter maior sucesso no mundo pós-pandemia.
CENÁRIOS
O renomado Prof. Dimitrios Buhalis, da Universidade de Bournemouth, na Inglaterra, crê que o turismo atingirá o seu ponto zero no verão europeu. Tal visão é embasada por vários estudos de diversas áreas. Tal prospecto me parece realista, não diria que é pessimista nem otimista, mas realista. Ainda assim, embora embasado na ciência, não é algo imutável. O crescimento exponencial dos casos de covid-19 nos Estados Unidos, por exemplo, não era previsto há poucos dias. Tendo em vista que o mercado emissor norte-americano é um dos mais importantes no cenário mundial, tal crescimento poderá impactar ainda mais o turismo internacional. São muitas variáveis imprevisíveis. Portanto, qualquer previsão é sujeita a crítica e a mudanças.
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