PIAUÍ

O espetáculo da revoada dos guarás no Delta do Parnaíba

As aves dão um show vermelho nos céus do Delta do Parnaíba, entre o Maranhão e o Piauí.

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Leonardo Vasconcelos

Publicado em 01/08/2021 às 7:30
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O laranja do fim de tarde contrasta com as nuvens vermelhas que seguem vagarosamente na direção de uma pequenina ilha no meio do rio, no Delta do Parnaíba, entre o Maranhão e o Piauí. Aos poucos, as árvores parecem ir ganhando flores rubras. Aos muitos, as aves vão dando o tom escarlate a um dos espetáculos da natureza mais bonitos do Nordeste: A revoada dos guarás. Um vermelho com vida que convida a todos para uma experiência única (os vídeos foram gravados antes da pandemia). 

A espetáculo da natureza é o ponto alto do passeio que tem como principal porta de entrada o município de Parnaíba, no Piauí, a 336 quilômetros da capital Teresina. Mas o próprio delta em si já é uma atração. Trata-se de uma formação rara que é vista em poucos lugares no mundo, como na África (Nilo) e no Vietnã (Me Kong).

A configuração do Delta do Parnaíba se assemelha a uma mão em que os braços dos rios parecem cinco dedos: Barra de Tutoia, Barra do Caju, Barra do Igaraçu, Barra das Canárias e Barra da Melancieira. Eles se ramificam e formam um imenso santuário ecológico com mais de 70 ilhas. O delta faz parte da Rota das Emoções, um roteiro turístico que inclui também os Lençois Maranhenses (MA) e e Jericoacoara (CE). Embora menos famoso que os vizinhos, ele faz valer a passagem pelo litoral piauiense. A Coluna Turismo de Valor fez o translado entre os estados com a empresa Rota Combo.

A região foi descoberta no século XVI pelo explorador português Nicolau de Resende quando navegava pelo litoral nordestino e sua embarcação com grande quantidade de ouro sofreu um acidente. Contam que ele foi salvo pelos índios tremembés e passou 16 anos na companhia deles para tentar recuperar a carga. Não conseguiu, mas acabou descobrindo um tesouro mais valioso do que havia perdido: O Delta do Parnaíba.

Existem várias rotas para explorar a região. A equipe de reportagem embarcou no começo da tarde no porto dos Tatus, no município piauiense de Ilha Grande, a 11 quilômetros de Parnaíba, em um lancha da agência de Ecoturismo Rastro Nordestino. Depois de 40 minutos navegando no rio Parnaíba vem a primeira parada nos igarapés. Momento de observar os mangues e animais como caranguejos e macacos.

A parada seguinte é nas dunas do morro do meio, na Ilha das Canárias. Hora de se refrescar nas lagoas formadas no local e caminhar na imensidão dos montes de areia.

A servidora pública Caroline Cunha, de Belém, no Pará, foi conhecer o local com a família. “Estamos achando incrível, é uma experiência única admirar a beleza da naturezas nessas dunas”, disse.

Revoada dos Guarás

A terceira e última parada do passeio, a revoada dos guarás, é literalmente a cereja do bolo. Por ser bastante desejada e marcada pelo tom vermelho. Por volta das 17h, as lanchas começam a chegar ao redor da pequena ilha dormitório que a princípio não chama a atenção. Quem chama na verdade são as primeiras aves solitárias voando na direção do local onde vão passar a noite.

Como a ilhota não tem acesso terrestre, elas dormem tranquilas longo dos pedradores. O curioso é que os guarás não nascem com esta cor, adquirida devido à alimentação à base de caranguejos que possuem um pigmento responsável pelo tingimento das penas. A ave é encontrada em países como Trinidad e Tobago, Venezuela, Colômbia, nas Guianas e em outras regiões do litoral brasileiro. Todavia, a grande concentração e o balé no ar delas a cada crepúsculo marcam o Delta do Parnaíba. E qualquer pessoa que o assista.

De repente, as dezenas de guarás voando viram centenas, multiplicando o total encantamento de turistas como a paulista Débora Cássia Oliveira. “Não tenho palavras pra definir isto. É um dos espetáculos mais lindos que já vi. Só temos a agradecer!”, disse. É realmente mágico ver o céu se tingindo com as nuvens vermelhas em contraste com o verde da vegetação e o laranja do por do sol. Uma obra de arte diária da natureza.

O quadro vai sendo pintado ao vivo sob o olhar atento - e agradecido - das pessoas. O pincel divino segue aos poucos carregando mais no tom escarlate nas árvores que parecem desabrochar a cada minuto. Nelas, os pássaros vão se transformando em flores rubras. Uma revoada mágica. Um vermelho vivo. Viva esta experiência, viva. No final dormem em paz. Guarás e turistas.

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