MARANHÃO

A mistura de São Luís no Maranhão

A cidade possui um dos maiores patrimônios históricos da América Latina, fruto deste amálgama de diferentes culturas no Nordeste.

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Cadastrado por

Leonardo Vasconcelos

Publicado em 15/08/2021 às 7:30
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Fundada por franceses, invadida por holandeses, colonizada pelos portugueses. Resultado desta mistura? São Luís! A capital do Maranhão, no Nordeste, possui um dos maiores patrimônios históricos da América Latina, fruto deste amálgama de diferentes culturas. São mais de 3.500 imóveis tombados que renderam à cidade o título de Patrimônio Mundial da Humanidade, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura (UNESCO), em 1997. Os famosos Lençóis Maranhenses, claro, se constituem no principal atrativo turístico do Estado, mas a capital tem pano pra manga de sobra para cobrir de beleza e história os visitantes (os vídeos foram gravados antes da pandemia).

São Luís é a única cidade brasileira fundada pelos franceses. No dia 8 de setembro de 1612 eles criaram aquela que pretendia ser a França Equinocial (o nome da cidade, inclusive, foi uma homenagem ao então rei francês Luís XIII). No entanto, três anos depois ela foi dominada pelos portugueses e em 1641 pelos holandeses, voltando à Coroa Portuguesa em 1644. A herança lusitana pode ser vista em cada rua do famoso centro histórico, nas fachadas dos casarões coloniais cheias de azulejos portugueses (a maior coleção da América Latina). Caminhar por elas é voltar ao passado para entender o presente e refletir o futuro. Uma viagem no tempo que nos lembra que sempre é tempo de conhecer a nossa própria história.

Tranquilamente a pé, você vai conhecendo o centro histórico e os principais pontos turísticos, como o Palácio dos Leões, sede do Governo do Estado, com vista privilegiada do mar, ao lado o Palácio La Ravardière, onde funciona a prefeitura, e pertinho a Catedral Metropolitana, cujo altar é banhado a ouro. A turista Tatiana Santos, de São Paulo, fez o roteiro e se surpreendeu. “As construções são lindas por si só e ficam ainda mais bonitas quando se conhece a história de cada uma. Me impressionei com a riqueza histórica da cidade”, afirmou.

O reggae na Jamaica Brasileira

É difícil não se apaixonar pela “Ilha do amor”, como é carinhosamente chamada São Luís. Um sentimento embalado por um som bem característico: o reggae. Sim, a ilha também é conhecida como a “Jamaica Brasileira”. Existem várias teorias sobre a chegada do ritmo à cidade na década de 70. As principais dizem que foi devido a discos trazidos de lá por marinheiros ou à sintonização de ondas de rádio do Caribe. Nos anos 80, São Luís já contava com dezenas de clubes, salões e programas de rádio dedicados ao ritmo. A influência jamaicana também pode ser vista no linguajar e nas roupas das pessoas.

Uma prova desta força foi a inauguração em 2018 do Museu do Reggae, o primeiro temático do ritmo localizado fora da Jamaica. O espaço conta a trajetória do gênero musical no Maranhão e os laços de identidade social construídos ao longo do tempo. Vale muito a visita. Tanto para turistas quanto para os próprios ludovicenses (quem nasce na cidade). A estudante Silvana Dourado, de 22 anos, é natural de lá e visitou o local pela primeira vez. “O acervo é bem legal e descobri muita coisa do ritmo em São Luís que mesmo eu sendo daqui nem imaginava”, afirmou.

O passado e o futuro em Alcântara

Passado e futuro no mesmo lugar. Alcântara é conhecida como “a cidade que parou no tempo” e também famosa por abrigar a base espacial brasileira para lançamento de foguetes, devido à sua localização estratégica. Tradição e modernidade andam lado a lado pelas ruas de pedras. Para fazer essa viagem no tempo é preciso fazer uma pequena viagem de barco de pouco mais de uma hora saindo de São Luís. A Coluna Turismo de Valor fez o passeio com a Taguatur Turismo.

Assim que se chega no local já se tem a impressão de ter sido transportado na verdade para uma outra época. Alcântara já foi uma das cidades mais ricas do Maranhão no século 18 e teve como moradores grandes barões. Mas com a abolição da escravidão e o declínio da cultura da cana ela rapidamente entrou em decadência. As marcas do passado glorioso estão nas casarões coloniais e ruínas espalhadas pela cidade.

O conjunto arquitetônico e urbanístico da cidade foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1948. Entre as principais ruínas estão as da Igreja Matriz de São Matias, na praça central da cidade, construída em 1648, mesmo ano de fundação da cidade. Ficaram de pé apenas a fachada, parte das paredes laterais e o pelourinho, como marcas vivas da história no local.

Em outro ponto da cidade uma outra vertente dela. Trata-se da Central de Lançamento de Alcântara (CLA), fundada em 1983, devido à proximidade com a Linha do Equador, o que significa uma economia de combustível utilizado nos foguetes. Foram realizadas dezenas de lançamentos no local, mas um grave acidente, em 2003, resultou na morte de 21 técnicos. O caso paralisou os planos de desenvolvimento da tecnologia espacial brasileira. Apesar da tragédia, a cidade se orgulha de sediar a central. Tanto que existe um museu, a Casa de Cultura Aeroespacial, dedicado ao assunto. Alcântara, então, continua assim. Parada no tempo e ao mesmo tempo vislumbrando novos tempos.

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