Ilustrador francês Jean-Denis Pendanx vem ao Recife com trabalhos imersivos

Com 30 anos de carreira, o ilustrador francês conta com vasta obra passando por temas históricos e contemporâneos, além de entrar em diferentes processos de pesquisa e imersão em seu trabalho
Rostand Tiago
Publicado em 16/03/2020 às 16:36
Jean Denis Pendanx, autor de histórias em quadrinhos Francês. Foto: BOBBY FABISAK/JC IMAGEM


Com 30 de uma carreira consolidada, o ilustrador Jean-Denis Pendanx está pela primeira vez em terras brasileiras. O quadrinista e cartunista é uma das principais atrações do Mês da Francofonia, comemorado pela Aliança Francesa com uma extensa programação. Trata-se de uma chance única de conhecer seu trabalho: autoral, maduro e totalmente imerso dentro dos temas que aborda, históricos ou contemporâneos. O autor passa por dois momentos de encontro com o público na tarde desta segunda-feira (16), discorrendo sobre seus métodos

Sua obra, ainda pouco publicada no país, começa a ganhar a França no começo dos anos 1990. De lá para cá, Jean vem entrando de cabeça nas histórias que se propõe contar, fictícias ou não, das estruturadas por roteiristas ou aquelas sua própria autoria. "Gosto de falar de lugares, é o que conta em primeiro lugar. Em seguida, vou partindo para as pessoas desses lugares, seja em momento históricos ou contemporâneos, principalmente aventuras. Ficção científica não é muito minha área", explica Pendanx.

REPRODUÇÃO - CAPA DE MENTAWAI!, HQ REALIZADA EM COLABORAÇÃO COM A ETNÓLOGA TAHNEE JUGUIN

Dentro desse processo criativo, a pesquisa assume diversas feições ao longo dos anos. Bibliotecas, museus, fotos e livrarias estão nesse arsenal de buscar mais sobre os locais e as pessoas que ganharão vidas nas páginas. A internet veio para acelerar as coisas. Entretanto, uma imersão etnográfica acaba por seu uma de suas mais poderosas ferramentas. Foi assim com seus mais recentes trabalhos. Ano passado, lançou Mentawaï!, HQ-reportagem realizada em parceria com a etnóloga Tahnee Juguin, focado em uma tribo da Indonésia que dá nome ao trabalho.

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"Geralmente, eu já faço os recortes antes das viagens, chegando já sabendo o que fotografar e desenhar nos locais. Com os Mentawaï, foi um período de imersão, com Tahnee servindo como intérprete. As relações vão se construindo de uma maneira simples, geralmente são pessoas bem acolhedoras", relata o quadrinista.

Colonialismo e conexões

Também foi o caso de Au Bout du Flueve, com roteiro próprio. A trama ficcionaliza a história de irmãos gêmeos em meio a um esquema de tráfico de petróleo no Benim, país da África Ocidental. Trata-se de um país francófono, um dos que carregam as marcas da colonização francesa nas costas, se tornando independente em 1960. Com o idioma francês prevalecendo, talvez o principal rastro desse período de subordinação, Pendanx pôde se aproximar melhor das histórias e das pessoas do lugar. É um processo que lança um olhar recente dentro do que acompanha da produção de HQs na França e Europa.

REPRODUÇÃO - CAPA DE AU BOUT DU FLEUVE, OBRA DO ILUSTRADOR FRANCÊS JEAN-DENIS PENDANX

REPRODUÇÃO - CAPA DE 'AU BOUT DU FLEUVE', HQ DE JEAN-DENIS PENDANX, AUTOR FRANCÊS DE PASSAGEM PELO RECIFE

"Há 15 anos, a África era tratada com um olhar 'clássico' típico da visão de colônia. Eram desenhistas que não conheciam a África. Hoje, ilustradores e ilustradoras, viajam para fazer esses trabalhos e os tornam mais realistas. Também surgem ilustradores locais, tenho amigos no Mali que são exemplos e que tratam da vida local de forma única", relata.

Agora ele lança seus primeiros olhares pelo Brasil, vindo de Fortaleza e estando agora no Recife. Os bairros históricos chamam sua atenção nesse pensar visualmente que exercem. Olinda se tornou uma queridinha nesse sentido. "Fiquei como uma criança lá, vendo essa parte histórica e querendo desenhar tudo. Foram alguns anos entre viver na África e desenhá-la. Sinto o mesmo com o Brasil, talvez uma próxima viagem seja para fazer algo parecido por aqui", conclui.

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